São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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BASQUETE
Alessandra, considerada pelo técnico Barbosa a única jogadora brasileira da posição, quer parar em 5 anos
Única pivô "forte" anuncia aposentadoria

LUÍS CURRO
enviado especial a Havana

A única verdadeira pivô de força da história da seleção brasileira, e a mais internacional jogadora do basquete nacional, diz já ter definida uma data para parar de jogar.
Alessandra Santos de Oliveira, 25, 2,00 m, campeã mundial em 1994 e vice-olímpica em 1996, titular absoluta do Brasil que chegou à final do Pré-Olímpico que terminaria ontem em Havana (Cuba), encerra a carreira em quatro anos.
Neste Pré, o Brasil obteve a vaga para a Olimpíada de Sydney-2000 ao vencer o México, anteontem.
O motivo de Alessandra para se aposentar é o desejo de ter um filho (com seu atual namorado, um italiano), estudar línguas e cursar turismo em uma universidade (provavelmente na Itália).
"O jogador de basquete tem a carreira curta. Não sei se na Olimpíada de 2004 vou estar assistindo ou jogando. Mas quero ter um filho aos 29 anos e devo parar."
Isso deve ser um problema para o Brasil, que só conta hoje com mais uma pivô alta e forte, Cíntia Tuiú, 24, 1,96 m, mas menos competente sob a cesta do que Alessandra.
""A Alessandra é a única pivô forte que o Brasil teve em todos os tempos", diz o técnico da seleção, Antonio Carlos Barbosa.
A nova geração de pivôs "fortes", presente no Pré-Olímpico, é bem mais baixa: Kelly, 19, tem 1,89 m, e Kátia Denise, 21, 1,88 m.
Até 2003, a primeira brasileira a conseguir emprego fixo em dois países estrangeiros ao mesmo tempo (EUA e Itália) tem como principal objetivo ganhar um título europeu. "Quero ser a primeira brasileira campeã européia."
Neste ano, quase conseguiu. Sua equipe, o Como, foi vice-campeã, perdendo na decisão para o Ruzomberok, da Eslováquia.
Na WNBA, quer apenas "jogar bem" pelo Washington Mystics (outra brasileira, Janeth, já tem dois títulos pelo Houston Comets), para provar que o basquete sul-americano tem seu valor. ""As norte-americanas dizem que só lá estão as melhores pivôs do mundo. Vou elevar o nome do Brasil."
Forçada por seu pai a jogar vôlei até os 14 anos, quando ele morreu, Alessandra credita seu progresso no basquete ao técnico Nestor Mostério e equipe, que lhe deram em Jundiaí uma chance de continuidade após ser dispensada do BCN/Piracicaba, aos 16 anos.
"Fiquei em Jundiaí três anos. Foi minha escola. Em 91, cheguei à seleção juvenil. Em 93, à seleção adulta. Joguei a Copa América, na qual comecei a me firmar."
Uma das mais guerreiras da seleção na quadra, Alessandra rejeita assumir um papel de líder (há um vácuo desde a saída de Hortência e, agora, de Paula), mas não o de incentivar as mais jovens: "Não pode errar e baixar a cabeça. Você tentou, não se omitiu".
Alguns números mostram a capacidade de Alessandra: melhor aproveitamento de dois pontos no Mundial-98 (72% -70% neste Pré-Olímpico) e vice-reboteira, na média por jogo, também no Mundial (10,5 -7,3 neste Pré, no qual tem jogado nove minutos a menos, em média, por partida).
Ciente disso, diz que é uma das cinco melhores do mundo em sua posição. Cita como maiores concorrentes Natalia Zassoulskaia, da Rússia, e Lisa Leslie, dos EUA.
O ponto fraco de Alessandra é o lance livre. No Mundial, teve acerto de 55% das tentativas. No Pré, sem contar a decisão contra Cuba, tinha 40% de sucesso. O técnico Barbosa considera aceitável um índice de pelo menos 80% para uma atleta de seleção brasileira.
"Sei que tenho que melhorar no lance livre", afirma ela. "Mas não sei o que acontece comigo. Mais do que treino, impossível. Acho que é uma questão psicológica."


O jornalista Luís Curro viaja a convite da Companhia Pan-Americana de Esportes


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