São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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BASQUETE NO MUNDO

Socorro

MELCHIADES FILHO

Imagine que você seja um técnico de basquete. Sua equipe está um ponto atrás no placar, restando somente alguns segundos para que arrisque um ataque derradeiro. A que jogador você confiaria a bola?
Com a aposentadoria precoce de Michael Jordan, a NBA não oferece mais uma resposta automática a essa pergunta.
Emocionante e, de certa forma, esquizofrênica, a primeira temporada sem o supercraque do Chicago Bulls só fez enevoar a situação.
O torneio deste ano derrubou vários nomes consagrados pela habilidade, visão de jogo e frieza em momentos cruciais. Grant Hill, Jason Kidd, Gary Payton e Rod Strickland já estão gozando indesejadas férias.
A rigor, entre os 96 que ainda disputam os playoffs, restaram somente dois atletas com esse perfil -capazes de "achar" sozinhos a cesta, mas também dotados de inteligência tática para trabalhar a bola a fim de desmarcar um companheiro.
O primeiro é o veterano John Stockton, 37, do Utah Jazz. Ele perdeu o fôlego que o transformou no melhor passador da história do basquete, mas continua sendo o mais criterioso jogador da liga norte-americana.
O outro é o polêmico Allen Iverson, 23, do Philadelphia 76ers, a grande surpresa do ano.
Em seu terceiro campeonato, o armador mudou de posição (de "point guard" para "shooting guard"), poliu o estilo mercurial e criativo e, mais maduro, interrompeu a sua longa carreira de indisciplinas.
Transformou-se no principal cestinha da NBA, com média de 26,8 pontos por partida na fase classificatória, sem descuidar do passe (4,6 assistências) e da defesa (2,3 desarmes, terceiro da liga). E todos esses índices subiram nos playoffs (28,3, 6,0 e 4,0, respectivamente), prova inequívoca de seu enorme talento.
Com o meu time em apuros, eu pediria socorro a Stockton, ainda. Mas, anote, a NBA estará chamando Iverson.

NOTAS

Dínamo 1
Com 1,81 m, Allen Iverson é o menor jogador a liderar a artilharia da NBA. A marca pertencia até este ano a Nate Archibald, 1,84 m, cestinha em 72/73.

Dínamo 2
Nos 52 anos da NBA, sete calouros anotaram mais de 20 pontos e jogaram mais de 40 minutos em sua temporada de estréia. Seis acabaram eleitos para o Hall of Fame, espécie de galeria dos melhores da história. O outro é Iverson, que registrou 23,5 pontos e 40,1 minutos em 96/97 -o único novato, aliás, a alcançar essa proeza nos últimos 30 anos.

Dínamo 3
Iverson também tem o mérito de devolver a auto-estima a Philadelphia, tradicional pólo do basquete e há 16 anos sem festejar um título. Quando visitei o ginásio do First Union Center, no ano passado, a torcida vaiava até as dançarinas.

E-mail melk@uol.com.br


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