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FUTEBOL
A magia da nova camisa
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O ser humano é facilmente
sugestionado pelas lendas,
superstições, mitos, magias e hábitos. Finge que é racional, mas
morre de medo das bruxas, do
mistério, do destino e do castigo
dos deuses. Diante das incertezas
do resultado de um jogo (futebol é
uma caixinha de surpresas) e dos
maus olhados, o atleta se apega
ainda mais ao sobrenatural.
Jogador só funciona se entrar
em campo com o pé direito, beijar
a medalhinha duas vezes e vestir
uma camisa debaixo da oficial,
com os dizeres: "Jesus salva!"
Gestos simbólicos como esses e a
entrada de mãos dadas em campo na Copa-94 exercem, momentaneamente, uma forte influência
positiva nos jogadores. Ao mudar
a cor da camisa da seleção, Felipão quis também incendiar a alma dos atletas. O mais importante não são os fatos, e sim a idéia
que se tem dos fatos. É a onipotência do pensamento.
Para a tristeza da torcida do
Atlético-MG, a camisa azul pode
se tornar o novo símbolo de transformação da seleção. Até perder.
Aí volta para a amarelinha.
Vitória bem-vinda
Ufa! Enfim, a seleção venceu!
Não importa se o Peru é fraco e estava desfalcado, como todos, inclusive o Brasil. Foram belíssimos
gols. Quem sabe é o início de uma
grande recuperação? A atuação
não entusiasmou. Melhor assim.
É mais sensato ir melhorando aos
poucos. Devagar e sempre. Será
uma longa caminhada.
O futebol desejado está muito
distante. Mesmo com os graves
problemas estruturais do futebol
brasileiro e com a falta de excepcionais atletas, creio que é possível formar um ótimo time, capaz
de se classificar e ganhar a Copa.
Pela primeira vez após a derrota na Copa-90, a seleção jogou
com três autênticos zagueiros. É
um bom esquema para se atuar
ofensivamente, pressionando o rival. Não dá mais para atuar no
ataque com dois zagueiros marcando dois atacantes, sem sobra,
e com os laterais avançando.
A maior parte das principais seleções da Europa, como França,
Espanha, Holanda e Inglaterra,
atua com dois zagueiros e dois laterais. A diferença é que os laterais desses times são muito mais
marcadores do que apoiadores.
Muito mais importante do que
o desenho tático é a qualidade
dos jogadores. Na Copa-90, a seleção de Lazzaroni era muito defensiva. Além dos três zagueiros,
havia dois volantes (Dunga e Alemão), e os dois alas (Jorginho e
Branco) eram muito mais marcadores do que apoiadores. O outro
armador (Valdo) atuava pelos lados. Os atacantes, isolados.
Contra o Peru, o time também
ficou defensivo. Não pressionou a
saída de bola, e os três zagueiros e
dois volantes jogaram recuados.
Antes de ir à Colômbia, Felipão
me disse que o Juninho Pernambucano é o melhor, e talvez o único, armador brasileiro capaz de
atuar bem na defesa e no ataque.
Concordo. Deduzo que o jogador
não foi escalado desde o início
porque ainda está fora de forma.
Ricardinho, do Corinthians,
também poderia se adaptar a essa dupla função, além do Vampeta, quando recuperar a forma.
Não se deve é jogar com dois volantes estáticos e três zagueiros,
como aconteceu contra o Peru.
Belletti (jogou bem) e Júnior
atuaram como laterais, e não como alas. Os verdadeiros alas são
armadores. Têm liberdade para
avançar no meio, trocar passes e
fazer gols, como meias ofensivos.
Felipão não deveria se impressionar com a boa atuação da seleção nos últimos 20 minutos. Eram
11 contra 10. Abriram-se grandes
espaços na intermediária e na defesa do Peru. Ficou fácil para os
velozes e habilidosos Denílson e
Juninho. Se entrassem no início
do jogo, seria bem diferente.
Faltam ao atual futebol brasileiro atacantes fora de série. Romário é, hoje, uma incógnita. Rivaldo não se acerta no time brasileiro. O jovem Ronaldinho, sem
clube, está parado. Ronaldo, o fenômeno, é a grande esperança.
Se esses quatro (pelo menos dois
ou três) estiverem em forma na
Copa, pode preparar a festa.
Na melhor exibição nos últimos
anos, contra a Argentina, em Porto Alegre (local do próximo jogo
com o Paraguai), estavam os dois
Ronaldos e Rivaldo. No outro ótimo jogo com a mesma Argentina,
em São Paulo, jogaram Rivaldo e
Ronaldinho. Se na Copa-98 estivesse a dupla Ro-Ro (Romário e
Ronaldo), além do Rivaldo, as
chances seriam enormes.
Hoje, contra o Paraguai, espero
uma nova vitória com a camisa
azul e ver a seleção jogar um pouco melhor do que contra o Peru.
Nada mais do que isso. O importante é a equipe evoluir, ganhar
confiança e definir um caminho.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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