São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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BASQUETE

Primeiro brasileiro a jogar profissionalmente no exterior, ex-atleta estava em coma e teve infecção generalizada

Morre Ubiratan, 58, o maior pivô do país

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Melhor pivô da história do basquete brasileiro, Ubiratan Pereira Maciel, 58, morreu ontem em Brasília (DF), em consequência de infecção generalizada. Ele estava em coma desde que sofreu três paradas cardíacas, em fevereiro.
Inicialmente, a família o havia transferido de Brasília para o Instituto do Coração, em São Paulo. Em maio, Ubiratan retornou a Brasília. Ficou no Hospital das Forças Armadas, onde morreu.
Até o início da noite de ontem, a família ainda não havia decidido onde seria o enterro de Ubiratan.
Conhecido por Bira ou Cavalo de Aço, o ex-pivô tinha um histórico de problemas cardíacos.
Primeiro jogador brasileiro de basquete a assinar um contrato profissional no exterior, Ubiratan teve, há alguns anos, diagnosticada uma arritmia cardíaca. Era contra-indicada toda atividade física que demandasse esforço.
Mesmo assim, continuava participando de torneios de veteranos. Ele dizia que preferia morrer em quadra a deixar o basquete.
Único brasileiro até hoje a ser cotado para entrar no Hall da Fama do basquete, nos EUA, Ubiratan ganhou quatro medalhas em Mundiais jogando pela seleção.
Sua maior glória foi ter feito parte da equipe campeã mundial em 1963, em torneio disputado no Rio. Nesse torneio, jogou ao lado de Amaury Pasos, Wlamir Marques e Rosa Branca, entre outros.
Além do título mundial, Ubiratan também foi vice-campeão em 1970, na Iugoslávia -a seleção brasileira perdeu o título para os donos da casa. Nos Mundiais de 1967, no Uruguai, e 1978, nas Filipinas, foi medalha de bronze.
O pivô disputou três Olimpíadas: Tóquio-1964, Cidade do México-1968 e Munique-1972. Ganhou a medalha de bronze no Japão. Em 1968, o Brasil perdeu o terceiro lugar para a ex-URSS. Quatro anos depois, a seleção ficou só com o sétimo lugar.
Sua maior desilusão no basquete foi o fracasso no Pré-Olímpico para os Jogos de Montréal (Canadá), disputado em 1976. Com a mão quebrada, não pôde ajudar seus companheiros, que fracassaram na tentativa de obter a vaga.
No final da carreira, teve problemas de relacionamento com dois ex-treinadores da seleção brasileira: Ary Vidal e Claudio Mortari.
O primeiro teria chamado Ubiratan de "mercenário" em 1979. O ex-pivô reagiu e disse que não jogaria mais pela seleção brasileira enquanto Vidal dirigisse a equipe.
No ano seguinte, não foi convocado por Mortari para a Olimpíada de Moscou -o Brasil acabou em quinto lugar. A mágoa ficou.
Poucos meses depois, após eliminar o Sírio da luta pelo título do Paulista-1981, o pivô fez provocação, dando cambalhotas em frente ao banco do time rival, dirigido por Mortari. Nesse ano, foi campeão pelo Tênis Clube de São José.
O ex-pivô começou no Floresta (atual Espéria), após desistir da carreira de jogador de futebol -chegou a treinar no Corinthians, seu time de coração.
Ainda juvenil, se transferiu para o clube do Parque São Jorge, no qual ficou até 1970. Em seguida, fez história ao assinar contrato com o Splugen, de Veneza (Itália).
Voltou ao país em 1972. Atuou pelo Trianon, de Jacareí, Palmeiras e Sírio. Em 1978, foi para o Tênis Clube, onde encerrou a carreira, em 1984, aos 40 anos.
No Palmeiras, acompanhou os primeiros passos de um jovem jogador: Oscar Schmidt, que ficou abalado com a morte do ídolo. "Ele sempre será um espelho para mim. Estou muito triste. A alegria do Bira vai fazer falta, muita falta", afirmou o ala.
No Corinthians, Ubiratan participou de uma das melhores equipes da história do país, que contava também com Wlamir, Rosa Branca, Amaury, Mical e Edvar.
Na década de 60, foram cinco títulos do Paulista (1963, 64, 65, 68 e 69) e três da Taça Brasil (1965, 66 e 69). "Foi o melhor time em que atuei. Jogávamos 90 vezes e perdíamos só cinco", lembrava.



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