São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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ATENAS 2004

Seleção faz tratamento para driblar TPM

Antônio Gaudério - 2.jul.04/Folha Imagem
As jogadoras da seleção de futebol, que desde março estão tomando anticoncepcionais para amenizar os sintomas da TPM, brincam durante treino em Teresópolis


SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

A seleção brasileira de futebol vai tentar ""domar" a TPM (tensão pré-menstrual) nos Jogos de Atenas. Desde março, a maioria das atletas está se submetendo a um tratamento para não menstruar durante a competição.
A decisão de controlar a TPM partiu do técnico Renê Simões. A idéia dele é colocar um fim na fama das mulheres da seleção de serem encrenqueiras. Durante a Olimpíada de Sydney, em 2000, a confusão foi tão grande na delegação que a zagueira Mônica e a volante Daniela chegaram a brigar na concentração.
A seleção terminou os Jogos na Austrália em quarto lugar e perdeu a oportunidade de conquistar a inédita medalha olímpica.
No ano passado, o ambiente tenso voltou a tomar conta da equipe. A maioria das jogadoras embarcou para a disputa do Mundial nos EUA pedindo publicamente a saída do técnico Paulo Gonçalves, que abandonou o cargo no final do torneio. Novamente, mais um fracasso da seleção. A equipe foi eliminada pela Suécia nas quartas-de-final.
""De uma maneira geral, a alteração dos hormônios modifica completamente o humor da mulher. Muitas ficam estressadas", declarou Arthur Azevedo, 31, médico da seleção feminina.
"Com esse trabalho, estamos tentando mantê-las mais centradas na Olimpíada. Com certeza, nenhuma delas vai ter o seu rendimento afetado por causa da TPM na Grécia", completou.
O tratamento anti-TPM adotado pela seleção é simples. As jogadoras tomam um anticoncepcional por dia para interromper a menstruação. Sem pausa.
""O remédio estabiliza os níveis hormonais das atletas. Sem essa alteração, as jogadoras menstruam muito pouco ou nada. Com isso, o condicionamento físico e emocional delas também não se altera", disse Azevedo, que tomou a decisão de fazer o inédito tratamento hormonal com as atletas da seleção depois de participar da conturbada campanha do Mundial dos EUA.
Segundo Azevedo, a menstruação pode enfraquecer ou deixar indispostas as atletas que mais sentem os sintomas da TPM.
O técnico Renê Simões diz que o tratamento já está dando resultado. ""Estamos no caminho certo. Desde março, nunca presenciei nenhum ato de indisciplina."
"Escutei muita coisa sobre as garotas antes de chegar aqui, mas nada aconteceu até agora", disse o técnico, que ganhou notoriedade mundial ao classificar a seleção masculina da Jamaica para a Copa da França, em 1998.
Das 18 atletas que vão embarcar amanhã para a Suécia, última escala da equipe antes de chegar à Grécia, 11 optaram por realizar o tratamento. Todas ouvidas pela reportagem elogiam a iniciativa.
""Num grupo como o nosso, que convive por muito tempo, a relação se desgasta ainda mais rápido por causa da TPM. O tratamento foi ótimo. Sem dúvida, todas nós estamos mais leves", disse Juliana Cabral, capitã da seleção.
Dois médicos especialistas em medicina esportiva ouvidos pela Folha aprovaram a iniciativa dos profissionais da seleção.
""A TPM realmente altera o humor das mulheres. Se os profissionais que estão lá detectaram essa necessidade, eles têm toda a liberdade para fazer esse trabalho", afirmou João Grangeiro, chefe médico da missão brasileira em Atenas, que desconhece outra equipe olímpica nacional que realize tratamento semelhante ao das mulheres do futebol - a equipe de vôlei realiza um trabalho de monitoramento dos sintomas.
"Mesmo assim, o tratamento não garante que a seleção não terá problemas de relacionamento em Atenas", completou o médico.
""O trabalho é válido, e a opção pelos anticoncepcionais é a melhor. Se elas usassem os diuréticos, que é uma outra alternativa para casos de TPM, a seleção teria problemas no antidoping", disse Eduardo de Rose, integrante do conselho principal da Wada (agência mundial antidoping).


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