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TÊNIS
Acerto de conta
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar do nível técnico fraco, o Torneio da Costa do
Sauípe deste ano, em sua segunda
edição, serviu para alguns acertos
de conta.
O primeiro (e muito importante) foi na conquista do título de
Gustavo Kuerten, um justo acerto
do tenista com o seu público mais
fiel, o brasileiro.
No ano passado, na Costa do
Sauípe, Guga havia feito uma
campanha decepcionante (tanto
para fãs e patrocinadores como
até para seu técnico). Gastara
mais tempo jogando futebol com
a turma de amigos que havia levado para o resort baiano do que
em quadra, jogando tênis ou mesmo treinando.
Mais do que isso, estava devendo uma apresentação vitoriosa
em casa. Em abril do ano passado, em Florianópolis, seu quintal,
no saibro, com a chance de colocar o Brasil na semifinal da Copa
Davis, sucumbiu diante de Lleyton Hewitt, em uma derrota lamentada até hoje por seus companheiros de equipe.
Antes, também na Davis, já havia deixado um gosto de frustração nos torcedores com derrotas
para Alex Correja em Porto Alegre, Dominik Hrbaty no Rio e Nicolás Escudé em Florianópolis.
Sem falar na exibição em São
Paulo, com Marc Rosset e Richard
Krajicek, que quase terminou em
baixaria, ou no Campeonato
Brasileiro de 1998, em que caiu
diante de Adriano Ferreira e Ricardo Schlachter, tenistas que jamais deslancharam.
Na Bahia, depois de uma semana de jogos contra adversários
simplesmente inexpressivos, Guga encarou uma final emocionante, suada, cansativa, disputadíssima, contra o único tenista
que poderia lhe fazer frente, o inteligente argentino Guillermo Coria. O brasileiro quase derreteu,
quase perdeu, salvou um match
point, fez pressão na arbitragem,
virou e venceu.
"Acho que não eu encontraria
forças se estivesse disputando essa
final em outro lugar do mundo.
Faltava esse título em casa", desabafou depois de quase três horas e
meia de partida intensa, tensa.
Era um gostinho que, de fato,
lhe faltava. "Se você quisesse escrever uma novela mais dramática, não conseguiria."
O torneio foi também um acerto
de contas de Guga com ele próprio. A insegurança e a incerteza
que trazia consigo desde a cirurgia no quadril, em fevereiro, deram lugar à ansiedade gostosa,
aquela que vai tomando o tenista
à medida que o fim de semana (e
a final) vai chegando.
Mais importante do que o título
em si, os pontos na Corrida dos
Campeões ou a subida no ranking é o fato de Guga voltar a sentir o que ele mesmo chama de
"gostinho de estar nas finais".
Muitos tenistas, mesmo no circuito profissional, não sabem ainda o que é jogar na sexta, disputar as semifinais no sábado, acordar para jogar uma final no domingo. Alguns outros já sentiram
isso, mas não tiveram muitas outras oportunidades de repetir tal
campanha.
Guga cansou de encarar as finais, mas fazia tempo, 13 meses,
uma eternidade para tenistas de
nível técnico tão alto quanto o dele, que não jogava por um título.
No domingo, sentiu de novo essa
ansiedade, esse nervosismo, essa
pressão de um jogo importante.
Agora, ironicamente, vamos
continuar a torcer para que Guga
siga ansioso, nervoso, pressionado, enfim, sentindo o gostinho de
disputar mais títulos.
No feminino...
O torneio mostrou o quanto nossas tenistas estão distantes das que
disputam o circuito. O qualifying deixou isso claro. Só Larissa Carvalho sobreviveu à primeira rodada. Nove caíram na estréia. Na
chave principal, convidadas, Maria Fernanda Alves e Carla Tiene
não tiveram chance. Força física, intensidade do saque, peso da bola, variação tática... Existe um abismo entre as de cá e as de lá.
Na sala de imprensa...
Só um jornalista estrangeiro, americano, acompanhou o torneio.
Mas ele estava mais interessado em Cecil Mamiit, Monica Seles,
Mashiska Washington e Brian Vahaly do que em Guga.
Na arquibancada...
Nos primeiros dias, quem pagou arquibancada levou cadeira numerada. Isso para evitar que a TV mostrasse o mar de cadeiras vazias. Nas finais, muitos convidados e pouco público pagante.
E-mail reandaku@uol.com.br
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