São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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TÊNIS

Acerto de conta

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar do nível técnico fraco, o Torneio da Costa do Sauípe deste ano, em sua segunda edição, serviu para alguns acertos de conta.
O primeiro (e muito importante) foi na conquista do título de Gustavo Kuerten, um justo acerto do tenista com o seu público mais fiel, o brasileiro.
No ano passado, na Costa do Sauípe, Guga havia feito uma campanha decepcionante (tanto para fãs e patrocinadores como até para seu técnico). Gastara mais tempo jogando futebol com a turma de amigos que havia levado para o resort baiano do que em quadra, jogando tênis ou mesmo treinando.
Mais do que isso, estava devendo uma apresentação vitoriosa em casa. Em abril do ano passado, em Florianópolis, seu quintal, no saibro, com a chance de colocar o Brasil na semifinal da Copa Davis, sucumbiu diante de Lleyton Hewitt, em uma derrota lamentada até hoje por seus companheiros de equipe.
Antes, também na Davis, já havia deixado um gosto de frustração nos torcedores com derrotas para Alex Correja em Porto Alegre, Dominik Hrbaty no Rio e Nicolás Escudé em Florianópolis.
Sem falar na exibição em São Paulo, com Marc Rosset e Richard Krajicek, que quase terminou em baixaria, ou no Campeonato Brasileiro de 1998, em que caiu diante de Adriano Ferreira e Ricardo Schlachter, tenistas que jamais deslancharam.
Na Bahia, depois de uma semana de jogos contra adversários simplesmente inexpressivos, Guga encarou uma final emocionante, suada, cansativa, disputadíssima, contra o único tenista que poderia lhe fazer frente, o inteligente argentino Guillermo Coria. O brasileiro quase derreteu, quase perdeu, salvou um match point, fez pressão na arbitragem, virou e venceu.
"Acho que não eu encontraria forças se estivesse disputando essa final em outro lugar do mundo. Faltava esse título em casa", desabafou depois de quase três horas e meia de partida intensa, tensa.
Era um gostinho que, de fato, lhe faltava. "Se você quisesse escrever uma novela mais dramática, não conseguiria."
O torneio foi também um acerto de contas de Guga com ele próprio. A insegurança e a incerteza que trazia consigo desde a cirurgia no quadril, em fevereiro, deram lugar à ansiedade gostosa, aquela que vai tomando o tenista à medida que o fim de semana (e a final) vai chegando.
Mais importante do que o título em si, os pontos na Corrida dos Campeões ou a subida no ranking é o fato de Guga voltar a sentir o que ele mesmo chama de "gostinho de estar nas finais".
Muitos tenistas, mesmo no circuito profissional, não sabem ainda o que é jogar na sexta, disputar as semifinais no sábado, acordar para jogar uma final no domingo. Alguns outros já sentiram isso, mas não tiveram muitas outras oportunidades de repetir tal campanha.
Guga cansou de encarar as finais, mas fazia tempo, 13 meses, uma eternidade para tenistas de nível técnico tão alto quanto o dele, que não jogava por um título. No domingo, sentiu de novo essa ansiedade, esse nervosismo, essa pressão de um jogo importante.
Agora, ironicamente, vamos continuar a torcer para que Guga siga ansioso, nervoso, pressionado, enfim, sentindo o gostinho de disputar mais títulos.

No feminino...
O torneio mostrou o quanto nossas tenistas estão distantes das que disputam o circuito. O qualifying deixou isso claro. Só Larissa Carvalho sobreviveu à primeira rodada. Nove caíram na estréia. Na chave principal, convidadas, Maria Fernanda Alves e Carla Tiene não tiveram chance. Força física, intensidade do saque, peso da bola, variação tática... Existe um abismo entre as de cá e as de lá.

Na sala de imprensa...
Só um jornalista estrangeiro, americano, acompanhou o torneio. Mas ele estava mais interessado em Cecil Mamiit, Monica Seles, Mashiska Washington e Brian Vahaly do que em Guga.

Na arquibancada...
Nos primeiros dias, quem pagou arquibancada levou cadeira numerada. Isso para evitar que a TV mostrasse o mar de cadeiras vazias. Nas finais, muitos convidados e pouco público pagante.

E-mail reandaku@uol.com.br



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