São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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FUTEBOL

A fantasia no futebol

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Domingo, no intervalo entre o fim da rodada do Brasileirão e os programas esportivos (há tantos), assisti na TV Italiana (RAI) a debate sobre a primeira rodada do Campeonato Italiano.
Estavam presentes técnicos consagrados como Marcelo Lippi. Não sei por que o técnico da Juventus não está na seleção, no lugar do limitado Giovanni Trapatonni. Vou perguntar para o Claudio Carsughi, comentarista da ESPN Brasil e da rádio Jovem Pan, que, além de italiano, entende bastante do assunto.
Discutiu-se muito no programa a violência e o excesso de faltas. Entendi muito pouco o que diziam. Deu vontade novamente de telefonar para o Carsughi. Pelo menos compreendi, com a ajuda de um gráfico, que a rodada teve a média de mais de 48 faltas por partida, sete a mais do que na primeira do ano passado. No Brasileiro, a média é de 53 faltas.
A TV italiana repetiu bastante imagens de violência nos gramados durante a rodada. Como se esperava, Emerson foi um dos destaques, com uma rasteira no adversário. Os debatedores estavam preocupados com violência. Já era tempo.
Um dos presentes disse que faltava fantasia às partidas. No jogo entre Roma e Bologna, sempre que um jogador tentava dar um drible diferente, ousado, o que era raro, o narrador chamava o driblador de fantasista (nome bonito). Até o volante brasileiro Lima, que está mais para brucutu, foi chamado de fantasista.
O narrador passava a impressão, ou não entendi bem, que o drible era uma coisa do outro mundo, um fato surrealista, uma esquisitice, uma fantasia.
Sem fantasia, a vida e o futebol ficam sem graça.
O estranho é que a Itália, um dos países mais bonitos do mundo e que mais valorizam a beleza, as artes e a imaginação, jogue um futebol de pouca fantasia. Por quê? Vou perguntar para o Carsughi!

O maior dos fantasistas
Na derrota da Roma para o Bologna por 2 a 1, Batistuta, 34 anos, me lembrou novamente o Romário. Não pela surpreendente e condenável agressão ao Andrei, mas pela maneira de jogar. Hoje, Batistuta atua muito parado, quase não toca na bola, esperando uma chance para finalizar. Assim como Romário, ainda faz muitos gols, menos do que antes e muitos de pênalti. Desta maneira marcou naquela partida.
Romário e Batistuta foram dois excepcionais atacantes. A grande diferença entre os dois é que Romário sempre fez gols com muita fantasia. Por isso, foi melhor.
Um dos grandes erros do Bielsa na Copa foi escalar o Batistuta no lugar do jovem e excelente Crespo. O técnico argentino não teve a coragem de barrar o Batigol, como fez o Felipão com Romário. Mas, se Ronaldo não tivesse jogado, provavelmente estaríamos hoje criticando duramente o técnico, que trocou Romário pelo Luizão.

Contra-ataque
Na última rodada do Brasileiro, o destaque foi a goleada do São Paulo sobre o Fluminense por 6 a 0. O mínimo que se esperava de uma equipe que vai enfrentar o São Paulo no Morumbi é congestionar os espaços defensivos pelo meio, evitar a troca de passes, como fizeram São Caetano e Cruzeiro, e contra-atacar com eficiência. O Flu não fez nada disso.
Renato Gaúcho e outros técnicos deveriam ver o teipe do jogo do Juventude com o Botafogo, para aprender como executar um contra-ataque. Michel ficava antes da linha do meio-campo, perto da lateral, com um olho no passe e outro no zagueiro. Partia com velocidade na diagonal e recebia livre, nas costas dos zagueiros. Dessa maneira saíram dois gols.
Em alguns jogos, a opção pelo contra-ataque, além de diminuir os espaços defensivos, é uma eficiente estratégia ofensiva. Não confundir com só defender com muitos jogadores e chutar a bola para frente, sem planejamento.
A equipe que pressiona também precisa se preparar defensivamente para o contra-golpe. Frequentemente, um time está no ataque e os zagueiros da equipe estão mal posicionados, distraídos, torcendo para seus atacantes fazerem o gol. Surge o contra-ataque, e os jogadores do adversário estão livres para receber a bola.
O Fluminense tem um ótimo atacante para o contra-ataque (Magno Alves), mas não tem planejamento e nem um armador para fazer o passe no momento certo. Fernando Diniz demora 500 anos, como diriam o Gérson e o Nelson Rodrigues, para decidir o que vai fazer com a bola.

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