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FUTEBOL
A fantasia no futebol
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Domingo, no intervalo entre
o fim da rodada do Brasileirão e os programas esportivos (há
tantos), assisti na TV Italiana
(RAI) a debate sobre a primeira
rodada do Campeonato Italiano.
Estavam presentes técnicos consagrados como Marcelo Lippi.
Não sei por que o técnico da Juventus não está na seleção, no lugar do limitado Giovanni Trapatonni. Vou perguntar para o
Claudio Carsughi, comentarista
da ESPN Brasil e da rádio Jovem
Pan, que, além de italiano, entende bastante do assunto.
Discutiu-se muito no programa
a violência e o excesso de faltas.
Entendi muito pouco o que diziam. Deu vontade novamente de
telefonar para o Carsughi. Pelo
menos compreendi, com a ajuda
de um gráfico, que a rodada teve
a média de mais de 48 faltas por
partida, sete a mais do que na primeira do ano passado. No Brasileiro, a média é de 53 faltas.
A TV italiana repetiu bastante
imagens de violência nos gramados durante a rodada. Como se
esperava, Emerson foi um dos
destaques, com uma rasteira no
adversário. Os debatedores estavam preocupados com violência.
Já era tempo.
Um dos presentes disse que faltava fantasia às partidas. No jogo
entre Roma e Bologna, sempre
que um jogador tentava dar um
drible diferente, ousado, o que era
raro, o narrador chamava o driblador de fantasista (nome bonito). Até o volante brasileiro Lima,
que está mais para brucutu, foi
chamado de fantasista.
O narrador passava a impressão, ou não entendi bem, que o
drible era uma coisa do outro
mundo, um fato surrealista, uma
esquisitice, uma fantasia.
Sem fantasia, a vida e o futebol
ficam sem graça.
O estranho é que a Itália, um
dos países mais bonitos do mundo e que mais valorizam a beleza,
as artes e a imaginação, jogue um
futebol de pouca fantasia. Por
quê? Vou perguntar para o Carsughi!
O maior dos fantasistas
Na derrota da Roma para o Bologna por 2 a 1, Batistuta, 34 anos,
me lembrou novamente o Romário. Não pela surpreendente e
condenável agressão ao Andrei,
mas pela maneira de jogar. Hoje,
Batistuta atua muito parado,
quase não toca na bola, esperando uma chance para finalizar. Assim como Romário, ainda faz
muitos gols, menos do que antes e
muitos de pênalti. Desta maneira
marcou naquela partida.
Romário e Batistuta foram dois
excepcionais atacantes. A grande
diferença entre os dois é que Romário sempre fez gols com muita
fantasia. Por isso, foi melhor.
Um dos grandes erros do Bielsa
na Copa foi escalar o Batistuta no
lugar do jovem e excelente Crespo. O técnico argentino não teve a
coragem de barrar o Batigol, como fez o Felipão com Romário.
Mas, se Ronaldo não tivesse jogado, provavelmente estaríamos
hoje criticando duramente o técnico, que trocou Romário pelo
Luizão.
Contra-ataque
Na última rodada do Brasileiro,
o destaque foi a goleada do São
Paulo sobre o Fluminense por 6 a
0. O mínimo que se esperava de
uma equipe que vai enfrentar o
São Paulo no Morumbi é congestionar os espaços defensivos pelo
meio, evitar a troca de passes, como fizeram São Caetano e Cruzeiro, e contra-atacar com eficiência. O Flu não fez nada disso.
Renato Gaúcho e outros técnicos deveriam ver o teipe do jogo
do Juventude com o Botafogo, para aprender como executar um
contra-ataque. Michel ficava antes da linha do meio-campo, perto da lateral, com um olho no passe e outro no zagueiro. Partia com
velocidade na diagonal e recebia
livre, nas costas dos zagueiros.
Dessa maneira saíram dois gols.
Em alguns jogos, a opção pelo
contra-ataque, além de diminuir
os espaços defensivos, é uma eficiente estratégia ofensiva. Não
confundir com só defender com
muitos jogadores e chutar a bola
para frente, sem planejamento.
A equipe que pressiona também
precisa se preparar defensivamente para o contra-golpe. Frequentemente, um time está no
ataque e os zagueiros da equipe
estão mal posicionados, distraídos, torcendo para seus atacantes
fazerem o gol. Surge o contra-ataque, e os jogadores do adversário
estão livres para receber a bola.
O Fluminense tem um ótimo
atacante para o contra-ataque
(Magno Alves), mas não tem planejamento e nem um armador
para fazer o passe no momento
certo. Fernando Diniz demora
500 anos, como diriam o Gérson e
o Nelson Rodrigues, para decidir
o que vai fazer com a bola.
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tostao.folha@uol.com.br
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