|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
O futebol e o cromossomo X
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Para variar, o futebol feminino está em crise. Na verdade, sempre esteve. Uma parte das
jogadoras da seleção brasileira
não atua em clube nenhum; algumas jogam futsal para se manter
em atividade. A goleira Andréia,
por exemplo, é da Associação Sabesp -mas aparece na relação
da CBF como atleta do Santa Isabel, de Minas Gerais. Licença poética? Não, só um velho problema
da entidade com registros...
Um problema básico do futebol
feminino é a falta de credibilidade; ainda se discute se mulher pode ou não jogar futebol. Uma discussão boba -mulheres não têm
de jogar como homens, até porque não jogam contra eles. Não
precisam ter tanta força ou impulsão quanto os machos; precisam de técnica, habilidade e organização em campo -nada que
exija cromossomos Y, creio. E precisam de força e resistência proporcionais às exigências de uma
partida entre mulheres.
Assim como outros esportes, o
futebol "profissional" feminino
sofre com a falta de patrocínio,
causada e culpada pela falta de
visibilidade. E aí é que entra Milene Domingues, convocada para
levar a seleção ao noticiário. O
técnico Paulo Gonçalves aceitou a
"embaixadora" porque, banco
por banco, não valia a pena brigar por outra para o lugar dela.
Não é uma decisão inédita;
muitos clubes contratam "grifes"
para vestirem suas camisas. Gente que só joga com o nome, mas
pode atrair repórteres e torcedores. A novidade é assumir a manobra em uma seleção.
Deu certo? Até certo ponto. A seleção teve mais flashes do que costuma, mas a maioria mirou a
meio-campista do Rayo Vallecano. Outras atletas continuaram
tão anônimas quanto antes, e
quase não se falou sobre futebol
com elas. Milene não se fez de rogada nem se faz de boba. Mantém
a vivacidade, dribla as saias justas com a habilidade do ídolo Zidane (como o apelido de "Barbie"
que recebeu das outras atletas) e
aproveita seu salvo-conduto para
criticar o nível dos treinos: "Não
tenho nada a perder, então me
sinto mais solta para falar". Ponto para ela -quem, no seu lugar,
não preferiria se omitir?
A seleção feminina só não é cercada de tantas controvérsias
quanto a masculina pela nossa
falta de atenção. Torcedores fanáticos (eu conheço um!) reclamam, como Milene, da falta de
padrão tático e de jogadas ensaiadas e questionam a não-convocação da Sissi (que aparecia no
site da Fifa como uma das "jogadoras a se observar" durante a
Copa...). Eu só vi dois jogos do
Brasil no Pan -um horroroso,
contra a Argentina, e a final contra o Canadá, bem melhor. Não
dá para defender ou atacar o técnico com amostra tão pequena.
Na Copa, o Brasil é como uma
zebra. Uma boa posição seria
quase um milagre e, infelizmente,
não mudaria a coisa por aqui (como já se viu antes). Torço para as
meninas fazerem bonito e terem
pelo menos alguns minutos de
glória. E para a Estrela lançar um
dia uma Susie "by Katia Cilene",
que também é uma celebridade e
daria uma boneca bonitinha.
Chover no molhado
Beckham cruza na medida para
Roberto Carlos chutar de primeira -gol. Salgado avança
até a linha de fundo pelo lado
direito; Ronaldo avança também, perto do segundo pau, e o
marcador, atento, segue com
ele. Ronaldo chega até o gol e
volta -o marcador se atrapalha, mas Salgado não. Ele cruza
na medida para Ronaldo finalizar sozinho -gol. Roberto
Carlos, perto da área do goleiro
Casillas, dá um chapéu no adversário; Zidane recebe a bola
no meio-campo, passa por dois
ou três rivais e deixa para Ronaldo, que aparece ao seu lado
-gol. Roberto Carlos deixa os
zagueiros na saudade e é derrubado na área. Pênalti; Figo
-gol. Como joga bem esse
Real Madrid, que usa tantos
craques quanto puder...
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: "Step Into Liquid" Próximo Texto: Futebol: Sul-Americana atrai menos que Série B Índice
|