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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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FUTEBOL

O futebol e o cromossomo X

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Para variar, o futebol feminino está em crise. Na verdade, sempre esteve. Uma parte das jogadoras da seleção brasileira não atua em clube nenhum; algumas jogam futsal para se manter em atividade. A goleira Andréia, por exemplo, é da Associação Sabesp -mas aparece na relação da CBF como atleta do Santa Isabel, de Minas Gerais. Licença poética? Não, só um velho problema da entidade com registros...
Um problema básico do futebol feminino é a falta de credibilidade; ainda se discute se mulher pode ou não jogar futebol. Uma discussão boba -mulheres não têm de jogar como homens, até porque não jogam contra eles. Não precisam ter tanta força ou impulsão quanto os machos; precisam de técnica, habilidade e organização em campo -nada que exija cromossomos Y, creio. E precisam de força e resistência proporcionais às exigências de uma partida entre mulheres.
Assim como outros esportes, o futebol "profissional" feminino sofre com a falta de patrocínio, causada e culpada pela falta de visibilidade. E aí é que entra Milene Domingues, convocada para levar a seleção ao noticiário. O técnico Paulo Gonçalves aceitou a "embaixadora" porque, banco por banco, não valia a pena brigar por outra para o lugar dela.
Não é uma decisão inédita; muitos clubes contratam "grifes" para vestirem suas camisas. Gente que só joga com o nome, mas pode atrair repórteres e torcedores. A novidade é assumir a manobra em uma seleção.
Deu certo? Até certo ponto. A seleção teve mais flashes do que costuma, mas a maioria mirou a meio-campista do Rayo Vallecano. Outras atletas continuaram tão anônimas quanto antes, e quase não se falou sobre futebol com elas. Milene não se fez de rogada nem se faz de boba. Mantém a vivacidade, dribla as saias justas com a habilidade do ídolo Zidane (como o apelido de "Barbie" que recebeu das outras atletas) e aproveita seu salvo-conduto para criticar o nível dos treinos: "Não tenho nada a perder, então me sinto mais solta para falar". Ponto para ela -quem, no seu lugar, não preferiria se omitir?
A seleção feminina só não é cercada de tantas controvérsias quanto a masculina pela nossa falta de atenção. Torcedores fanáticos (eu conheço um!) reclamam, como Milene, da falta de padrão tático e de jogadas ensaiadas e questionam a não-convocação da Sissi (que aparecia no site da Fifa como uma das "jogadoras a se observar" durante a Copa...). Eu só vi dois jogos do Brasil no Pan -um horroroso, contra a Argentina, e a final contra o Canadá, bem melhor. Não dá para defender ou atacar o técnico com amostra tão pequena.
Na Copa, o Brasil é como uma zebra. Uma boa posição seria quase um milagre e, infelizmente, não mudaria a coisa por aqui (como já se viu antes). Torço para as meninas fazerem bonito e terem pelo menos alguns minutos de glória. E para a Estrela lançar um dia uma Susie "by Katia Cilene", que também é uma celebridade e daria uma boneca bonitinha.

Chover no molhado
Beckham cruza na medida para Roberto Carlos chutar de primeira -gol. Salgado avança até a linha de fundo pelo lado direito; Ronaldo avança também, perto do segundo pau, e o marcador, atento, segue com ele. Ronaldo chega até o gol e volta -o marcador se atrapalha, mas Salgado não. Ele cruza na medida para Ronaldo finalizar sozinho -gol. Roberto Carlos, perto da área do goleiro Casillas, dá um chapéu no adversário; Zidane recebe a bola no meio-campo, passa por dois ou três rivais e deixa para Ronaldo, que aparece ao seu lado -gol. Roberto Carlos deixa os zagueiros na saudade e é derrubado na área. Pênalti; Figo -gol. Como joga bem esse Real Madrid, que usa tantos craques quanto puder...

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