São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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Nem centenário de carioca alivia ocaso dos Américas

"Franquia" idealizada por Belfort Duarte acumula fiascos e pode ficar sem representante até na Série B

PAULO COBOS
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo indicava que não poderia piorar, mas, no dia em que é comemorado o centenário do clube que deu origem a essa espécie de franquia do futebol brasileiro, o poço parece não ter fundo.
Por todo o país os Américas vão muito mal. Tanto que em 2005 é muito grande a chance de nenhum de seus representantes disputar uma das duas principais divisões do Campeonato Brasileiro.
No ano em que completa cem anos de vida, o carioca, onde jogou Belfort Duarte, sinônimo de jogo limpo e autor da idéia de espalhar Américas pelo Brasil, terminou sua participação na Série C sem vencer em seis jogos. O paulista também fez feio: terminou na vice-lanterna da sua chave.
Os Américas que estão na Série B já vislumbram a Terceirona. O mineiro figura na zona de rebaixamento. O potiguar estava na mesma situação até ontem -conseguiu, momentaneamente, respirar ao derrotar o Caxias.
Entre os outros sete Américas na ativa, os resultados em 2004 são, na maioria dos casos, também decepcionantes.
O amazonense foi o vice-lanterna do Estadual. Pior fez o cearense, também penúltimo, mas jogando na segunda divisão.
O de Goiás foi o último colocado na segunda divisão de seu Estado. O pernambucano não passou da primeira fase na série de acesso no Estado nordestino.
Tais resultados não combinam com o passado dos Américas. Nada menos do que 11 Estados já tiveram um time com esse nome como campeão. Ao todo, foram quase 80 títulos americanos.
Os Américas mineiro e carioca estiveram entre os 20 clubes que jogaram a primeira edição do Brasileiro, em 1971.
Com o cenário atual, a choradeira é geral.
"A nossa campanha neste ano foi decepcionante", diz Marcos Mesquita, supervisor do América-RJ. Sem receita, o clube montou um time barato, com média salarial de R$ 1.500 mensais.
"O América-MG está muito endividado e não formou um elenco apropriado para disputar a Série B, que é muito mais difícil do que a divisão principal. O time foi desmontado, e a reposição foi malfeita. Os times que se prepararam é que estão lá na frente", diz Carlos Alberto Silva, que foi técnico da agremiação mineira durante boa parte do torneio nacional.
"Acho que a CBF deveria repensar o número de rebaixados. Seis times caindo é muita coisa", queixa-se Ricardo Bezerra, diretor de futebol do América-RN.
Para o futuro, os representantes dos Américas têm opiniões diferentes. "O América-RJ tem tudo para se reerguer no futebol. Devemos pouco em relação aos grandes clubes [R$ 5 milhões]. Se você formar um grande jogador, paga essa pendência e ainda fica com dinheiro em caixa", diz, otimista, o supervisor Mesquita.
"Temos uma boa base, fomos vice-campeões de juniores e ficamos na frente de Flamengo, Vasco e Botafogo", afirma Marinho, técnico dos cariocas.
O caminho para revitalizar o América-RN, que foi derrotado na final do Campeonato Estadual pelo bem menos badalado Potiguar, passa pela volta de uma competição regional.
"A CBF acabou com a Copa Nordeste, torneio que viabilizava os clubes e tirava o prejuízo dos estaduais. Isso quebrou muitos times daqui", afirma Bezerra, que vê no horizonte dias negros para seu clube. "Se o América-RN for rebaixado, vai ser ruim para o time e também para o futebol do Rio Grande do Norte. Não dá para pensar em jogar a Série C."


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