São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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RITA SIZA

Treinador de aluguer


A solução que a federação engendrou é bem capaz de bater o recorde do mundo do ridículo

A SOLUÇÃO QUE a Federação Portuguesa de Futebol engendrou para resolver o problema que ela própria provocou com a destituição do selecionador nacional Carlos Queiroz, em plena campanha de qualificação para o Europeu de 2012, é bem capaz de bater o recorde do mundo do ridículo.
Lembraram-se os iluminados que dirigem o futebol português de viajar até Madri e pedir a José Mourinho que fizesse uma pausa de duas semanas no seu trabalho no clube Real Madrid para poder orientar os próximos dois jogos da seleção, contra a Dinamarca e a Islândia, em outubro.
São jogos que Portugal precisa absolutamente de ganhar para ainda ter uma remota hipótese de participar no campeonato europeu, que será disputado daqui a dois anos em Polônia e Ucrânia. A qualificação ficou seriamente comprometida depois de um empate por quatro golos com esse portento do futebol que é o Chipre, dentro de casa, e uma modesta derrota por 1 a 0 para a Noruega.
Mourinho nem sequer precisava de se sentar no banco, terão dito estes génios. Ele podia fazer o trabalho pelo telefone, se quisesse; escolhia os jogadores e definia a estratégia para o jogo, e depois arranjava-se alguém para fazer figura de corpo presente.
E, arrecadados estes seis preciosos pontinhos, depreende-se, a federação arranjará um novo banana para selecionador.
Em vez de denunciar o pedido como a estupidez que é, o técnico que acredita ser o Special One, ainda para mais convertido em salvador da pátria, resolveu alimentar a fantochada.
"Obviamente disse que sim", informou Mourinho para a imprensa, explicando como era difícil recusar um pedido "tão emocional" e ao mesmo tempo "tão objetivo" do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl.
Só pelos vistos o Real Madrid, que paga 12 milhões por mês ao treinador português, é que não viu como esta ideia de emprestar Mourinho à federação é brilhante. "Pelas reações que já senti, até da imprensa espanhola, parece-me que não é uma situação bem aceite", admitiu o técnico.
Ele deve ter lido o texto da "Marca", que dizia em manchete "Mou não se aluga", ou os comentários do "El País" à "proposta inaudita" do "impulsivo e instável" Gilberto Madaíl e o seu factótum Jorge Mendes, que representa Mourinho -e também Cristiano Ronaldo, Ricardo Carvalho, Pepe ou Angél di Maria, todos jogadores do Real.
"Se não houver unanimidade em Madri, digo que não", garantiu Mourinho.
Fui eu que entendi mal ou ele tinha acabado de dizer que sim?


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