|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Britânicos têm caminho mais fácil para chegar à F-1
Reino Unido, de Button, possui estrutura mais vantajosa para formar novos pilotos do que o Brasil, de Barrichello
Sem opções variadas de categorias intermediárias de monopostos, brasileiros acabam migrando para
a Inglaterra após o kart
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela sexta vez na história da
F-1, um brasileiro (Rubens Barrichello) e um britânico (Jenson Button) protagonizam a
disputa por um título.
Nos duelos diretos, o Brasil
soma três conquistas contra
duas. Vantagem que não encontra reflexo na estrutura
montada pelos dois países para
formar novos pilotos.
Enquanto o Reino Unido, sobretudo a Inglaterra, é considerado um dos grandes centros de
formação de pilotos no mundo,
o Brasil expõe suas carências.
O jovem piloto britânico que
almeja chegar à F-1 tem à disposição uma grande variedade
de "fórmulas" intermediárias.
Sua transição do kart para a categoria mais prestigiada do automobilismo pode ser feita por
F-3 inglesa, Fórmula Ford,
BMW e Renault, entre outras.
Já o Brasil conta atualmente
com apenas duas categorias de
monopostos: a F-3 sul-americana e a incipiente F-3 light.
O resultado disso é o grande
êxodo de pilotos adolescentes
para a Inglaterra. Segundo dados da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), há
no Brasil atualmente cerca de
2.400 kartistas. Sem categorias
intermediárias de monopostos
suficientes para absorver esses
pilotos em formação, restam
duas saídas: abandonar o esporte ou atravessar o Atlântico.
"Você tem que sair do Brasil
se quiser ir para a F-1", afirma
Lucas di Grassi. Assim como a
maioria dos brasileiros que
chegaram à F-1, o piloto de testes da Renault usou a Inglaterra como degrau para ingressar
na categoria mais nobre.
"Ganhar a F-3 [sul-americana] não muda nada na carreira.
Aqui é muito mais fácil do que
lá, na Inglaterra. Não adianta
pensar que, se você corre bem
no Brasil e ganha tudo, vai ser
assim também lá", diz ele.
O vice-campeonato na extinta F-Renault Brasil abriu as
portas para o paulista na Europa. A partir de 2003, sua carreira passou a ser bancada pela
montadora francesa, que o levou para a F-3 inglesa e para a
GP2, categoria de acesso à F-1.
Di Grassi, contudo, é uma exceção. A maioria dos brasileiros
é bancada pelos pais. E os custos para se manter em um campeonato competitivo na Inglaterra são exorbitantes.
Na F-3 inglesa, gasta-se, em
média, 500 mil libras (R$ 1,4
milhão) por temporada para
correr em um time de ponta.
"No Brasil, não há uma cultura forte de patrocínio a jovens
pilotos. Isso é completamente
diferente na Inglaterra", aponta Leonardo Cordeiro, atual líder da F-3 sul-americana.
Cordeiro conta com a ajuda
do pai empresário para obter
patrocínios que bancam metade dos R$ 800 mil investidos
nesta temporada. "Na Inglaterra, ainda há programas de desenvolvimento de jovens pilotos que não têm condições de se
bancar", cita o brasileiro.
Um deles é a Fundação Racing Steps, que "ajuda jovens
pilotos britânicos talentosos a
realizar seus sonhos", segundo
a própria definição da entidade.
Ainda que consigam se bancar e superar problemas de
adaptação com o clima e com a
língua, os pilotos do Brasil ainda enfrentam novos desafios na
caminhada rumo à F-1.
Hoje comentarista, Luciano
Burti sentiu a desvantagem de
ser brasileiro quando tentava
ingressar na categoria mais badalada. Em 1999, foi vice-campeão da F-3 inglesa, seguido pelo atual concorrente ao título
da F-1. Segundo Burti, em
2000, Button teve seu ingresso
facilitado na categoria simplesmente por ser inglês.
"Sem grandes pretensões de
disputar o título, a Williams
queria um jovem piloto. Acabou optando por Button porque ele poderia atrair patrocínio de empresas inglesas."
Texto Anterior: Motores dão mais resultado nos times B do que nos A Próximo Texto: F-3 aprova projeto via lei de incentivo Índice
|