São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Britânicos têm caminho mais fácil para chegar à F-1

Reino Unido, de Button, possui estrutura mais vantajosa para formar novos pilotos do que o Brasil, de Barrichello

Sem opções variadas de categorias intermediárias de monopostos, brasileiros acabam migrando para a Inglaterra após o kart


MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela sexta vez na história da F-1, um brasileiro (Rubens Barrichello) e um britânico (Jenson Button) protagonizam a disputa por um título.
Nos duelos diretos, o Brasil soma três conquistas contra duas. Vantagem que não encontra reflexo na estrutura montada pelos dois países para formar novos pilotos.
Enquanto o Reino Unido, sobretudo a Inglaterra, é considerado um dos grandes centros de formação de pilotos no mundo, o Brasil expõe suas carências.
O jovem piloto britânico que almeja chegar à F-1 tem à disposição uma grande variedade de "fórmulas" intermediárias. Sua transição do kart para a categoria mais prestigiada do automobilismo pode ser feita por F-3 inglesa, Fórmula Ford, BMW e Renault, entre outras.
Já o Brasil conta atualmente com apenas duas categorias de monopostos: a F-3 sul-americana e a incipiente F-3 light.
O resultado disso é o grande êxodo de pilotos adolescentes para a Inglaterra. Segundo dados da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), há no Brasil atualmente cerca de 2.400 kartistas. Sem categorias intermediárias de monopostos suficientes para absorver esses pilotos em formação, restam duas saídas: abandonar o esporte ou atravessar o Atlântico.
"Você tem que sair do Brasil se quiser ir para a F-1", afirma Lucas di Grassi. Assim como a maioria dos brasileiros que chegaram à F-1, o piloto de testes da Renault usou a Inglaterra como degrau para ingressar na categoria mais nobre.
"Ganhar a F-3 [sul-americana] não muda nada na carreira. Aqui é muito mais fácil do que lá, na Inglaterra. Não adianta pensar que, se você corre bem no Brasil e ganha tudo, vai ser assim também lá", diz ele.
O vice-campeonato na extinta F-Renault Brasil abriu as portas para o paulista na Europa. A partir de 2003, sua carreira passou a ser bancada pela montadora francesa, que o levou para a F-3 inglesa e para a GP2, categoria de acesso à F-1.
Di Grassi, contudo, é uma exceção. A maioria dos brasileiros é bancada pelos pais. E os custos para se manter em um campeonato competitivo na Inglaterra são exorbitantes.
Na F-3 inglesa, gasta-se, em média, 500 mil libras (R$ 1,4 milhão) por temporada para correr em um time de ponta.
"No Brasil, não há uma cultura forte de patrocínio a jovens pilotos. Isso é completamente diferente na Inglaterra", aponta Leonardo Cordeiro, atual líder da F-3 sul-americana.
Cordeiro conta com a ajuda do pai empresário para obter patrocínios que bancam metade dos R$ 800 mil investidos nesta temporada. "Na Inglaterra, ainda há programas de desenvolvimento de jovens pilotos que não têm condições de se bancar", cita o brasileiro.
Um deles é a Fundação Racing Steps, que "ajuda jovens pilotos britânicos talentosos a realizar seus sonhos", segundo a própria definição da entidade.
Ainda que consigam se bancar e superar problemas de adaptação com o clima e com a língua, os pilotos do Brasil ainda enfrentam novos desafios na caminhada rumo à F-1.
Hoje comentarista, Luciano Burti sentiu a desvantagem de ser brasileiro quando tentava ingressar na categoria mais badalada. Em 1999, foi vice-campeão da F-3 inglesa, seguido pelo atual concorrente ao título da F-1. Segundo Burti, em 2000, Button teve seu ingresso facilitado na categoria simplesmente por ser inglês.
"Sem grandes pretensões de disputar o título, a Williams queria um jovem piloto. Acabou optando por Button porque ele poderia atrair patrocínio de empresas inglesas."


Texto Anterior: Motores dão mais resultado nos times B do que nos A
Próximo Texto: F-3 aprova projeto via lei de incentivo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.