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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Sonho de consumo do futebol brasileiro nos anos 70, quando gerava fortunas e nada repassava aos clubes, loteria esportiva agoniza e hoje rende "migalhas" para os cofres vazios dos combalidos times do país

Deu zebra

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela embalou sonhos de cofres cheios para os clubes. Hoje, decadente, rende uns "trocados" que mal pagam as despesas mais modestas de um time grande.
Coqueluche do país na década de 70, quando não repassava um centavo sequer para os clubes, a loteria esportiva agoniza hoje, quando, como passou a mandar a Lei Pelé, 10% da sua arrecadação bruta é destinada aos times e seleções que emprestam seus nomes para o jogo administrado pela CEF (Caixa Econômica Federal).
Se a legislação atual valesse há 30 anos, cada equipe que tivesse uma partida sua incluída em um concurso da esportiva poderia levar para sua sede até US$ 30 mil.
Em 2002, quando a Caixa fez algumas alterações no produto, que passou a se chamar Loteca, o máximo que um teste rendeu para uma equipe foi US$ 1.800.
Se a moeda norte-americana, pela complexidade do câmbio brasileiro nas últimas décadas, não é o parâmetro perfeito para comparações, a quantidade de ingressos que a verba ganha pelos clubes poderia comprar hoje e em 1972 deixa mais claro o quanto a loteria esportiva perdeu.
Há 30 anos, novamente com as regras atuais, um clube incluído no concurso do jogo que imortalizou a zebra poderia comprar 18 mil ingressos para um jogo da primeira divisão do Nacional na cidade de São Paulo. Em 2002, o teste com recorde de arrecadação seria suficiente para um time comprar míseras 600 entradas.
Um dos recordistas de aparições nos cartões da Loteca em 2002, o Corinthians faturou durante toda a temporada menos de R$ 100 mil com a exploração de seu nome pela Caixa.
"A concorrência é enorme. Muitas loterias foram criadas nos últimos anos. Além disso, temos os jogos ilegais, como as máquinas caça-níqueis, que estão em todo o país", diz Marco Antonio Lopes, superintende nacional de loterias e jogos da CEF.
Mas, tanto para a Caixa quanto para os clubes, não foi só a concorrência que impediu a loteria esportiva de se transformar na galinha dos ovos de ouro que um dia o futebol brasileiro imaginou.
"Nós deixamos passar batido a oportunidade da loteria", admite Mauro Roberto Holzmann, diretor-executivo e responsável pelo marketing do Clube dos 13. Para recuperar o tempo perdido, ele toca agora um projeto que vai tentar revitalizar a loteria.
Assim como a Caixa, Holzmann considera que os escândalos vividos pela esportiva nos últimos anos afetaram a credibilidade do jogo. "Isso [os escândalos" atrapalha, é claro", diz o executivo.
Para Lopes, o faturamento não é mais o mesmo pelas mudanças ocorridas no país. "A loteria esportiva era uma coqueluche na época dos 90 milhões em ação, da conquista da Copa de 1970 e do início das transmissões de futebol ao vivo", afirma Lopes.
Apesar de sua longa agonia, a Caixa não tem planos de acabar com uma de suas mais tradicionais loterias. "A esportiva não dá o mesmo dinheiro que outras apostas, mas continua a ser rentável", diz o superintendente.
Dessa forma, se nada mudar, a loteria esportiva não vai fazer um apostador milionário e muito menos colocar dinheiro graúdo nos cofres dos clubes do país.


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