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FUTEBOL
Sonho de consumo do futebol brasileiro nos anos 70, quando gerava fortunas e nada repassava aos clubes, loteria esportiva agoniza e hoje rende "migalhas" para os cofres vazios dos combalidos times do país
Deu zebra
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela embalou sonhos de cofres
cheios para os clubes. Hoje, decadente, rende uns "trocados" que
mal pagam as despesas mais modestas de um time grande.
Coqueluche do país na década
de 70, quando não repassava um
centavo sequer para os clubes, a
loteria esportiva agoniza hoje,
quando, como passou a mandar a
Lei Pelé, 10% da sua arrecadação
bruta é destinada aos times e seleções que emprestam seus nomes
para o jogo administrado pela
CEF (Caixa Econômica Federal).
Se a legislação atual valesse há
30 anos, cada equipe que tivesse
uma partida sua incluída em um
concurso da esportiva poderia levar para sua sede até US$ 30 mil.
Em 2002, quando a Caixa fez algumas alterações no produto, que
passou a se chamar Loteca, o máximo que um teste rendeu para
uma equipe foi US$ 1.800.
Se a moeda norte-americana,
pela complexidade do câmbio
brasileiro nas últimas décadas,
não é o parâmetro perfeito para
comparações, a quantidade de ingressos que a verba ganha pelos
clubes poderia comprar hoje e em
1972 deixa mais claro o quanto a
loteria esportiva perdeu.
Há 30 anos, novamente com as
regras atuais, um clube incluído
no concurso do jogo que imortalizou a zebra poderia comprar 18
mil ingressos para um jogo da primeira divisão do Nacional na cidade de São Paulo. Em 2002, o teste com recorde de arrecadação seria suficiente para um time comprar míseras 600 entradas.
Um dos recordistas de aparições nos cartões da Loteca em
2002, o Corinthians faturou durante toda a temporada menos de
R$ 100 mil com a exploração de
seu nome pela Caixa.
"A concorrência é enorme.
Muitas loterias foram criadas nos
últimos anos. Além disso, temos
os jogos ilegais, como as máquinas caça-níqueis, que estão em todo o país", diz Marco Antonio Lopes, superintende nacional de loterias e jogos da CEF.
Mas, tanto para a Caixa quanto
para os clubes, não foi só a concorrência que impediu a loteria
esportiva de se transformar na galinha dos ovos de ouro que um dia
o futebol brasileiro imaginou.
"Nós deixamos passar batido a
oportunidade da loteria", admite
Mauro Roberto Holzmann, diretor-executivo e responsável pelo
marketing do Clube dos 13. Para
recuperar o tempo perdido, ele
toca agora um projeto que vai tentar revitalizar a loteria.
Assim como a Caixa, Holzmann
considera que os escândalos vividos pela esportiva nos últimos
anos afetaram a credibilidade do
jogo. "Isso [os escândalos" atrapalha, é claro", diz o executivo.
Para Lopes, o faturamento não é
mais o mesmo pelas mudanças
ocorridas no país. "A loteria esportiva era uma coqueluche na
época dos 90 milhões em ação, da
conquista da Copa de 1970 e do
início das transmissões de futebol
ao vivo", afirma Lopes.
Apesar de sua longa agonia, a
Caixa não tem planos de acabar
com uma de suas mais tradicionais loterias. "A esportiva não dá
o mesmo dinheiro que outras
apostas, mas continua a ser rentável", diz o superintendente.
Dessa forma, se nada mudar, a
loteria esportiva não vai fazer um
apostador milionário e muito menos colocar dinheiro graúdo nos
cofres dos clubes do país.
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