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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Pouco atraente para jovens e mulheres, loteria deve ser reformulada

Envelhecida e masculina, loteria debate regulamento

Arquivo Folha Imagem - 9.jan.72
Apostadores fazem fila para jogar na loteria esportiva em 1972


DA REPORTAGEM LOCAL

A Caixa Econômica Federal e o Clube dos 13 concordam que a loteria esportiva precisa de renovação. Só que as duas entidades discordam em um dos passos para tirar o jogo do fundo do poço.
Segundo pesquisas feitas pela Caixa, o perfil do apostador da esportiva é bem diferente do registrado em outras loterias.
Ao contrário da Mega Sena, o mais popular jogo de azar do país hoje, que divide seus apostadores por todas as faixas etárias e entre homens e mulheres, a esportiva tem um público restrito.
Mais de 60% dos que tentam a sorte nesse produto são homens e já têm mais de 35 anos.
"Na Mega Sena, uma mulher de 80 anos que nunca viu TV pode apostar tranquilamente. Na esportiva, só quem acompanha futebol de perto, geralmente, tenta a sorte", diz Marco Antonio Lopes, superintende nacional de loterias e jogos da CEF. Os números dão razão a Lopes. Na semana passada, o prêmio da esportiva não chegou aos R$ 500 mil, menos de 5% de um bom concurso da Mega Sena. Assim, com valores menores, a esportiva tende a ser sempre uma opção pior.
"Precisamos de uma injeção de ânimo na loteria esportiva, atraindo o grande público para ela", concorda Mauro Roberto Holzmann, do Clube dos 13.
Se o diagnóstico da Caixa é o mesmo dos clubes, uma das receitas para sair da crise não é um ponto em comum.
Para o Clube dos 13, a nova fórmula do Campeonato Brasileiro, com pontos corridos e turno e returno, pode ser o início de uma nova fase da loteria esportiva.
"Com a mudança no calendário, teremos jogos dos grandes clubes durante todo o ano", diz Holzmann, que aponta a inclusão de muitas equipes inexpressivas ou de fora do país como uma das causas do desinteresse pelo tradicional jogo de azar.
Realmente, o apostador parece mais motivado nos grandes eventos. Em 2002, o concurso que mais arrecadou foi o de número 16, que só tinha jogos da Copa.
Em compensação, o concurso 25, que só tinha jogos do Campeonato Cearense e das divisões menos importantes do Paulista, bateu recorde negativo de arrecadação. Nesse teste, cada clube que cedeu o nome ganhou R$ 1.700.
A CEF concorda que os grandes clubes fazem falta, mas critica o fim do mata-mata no Brasileiro.
"Do ponto de vista mercadológico, o sistema de pontos corridos não é bom. Se a disputa pelo título ficar restrita a poucos clubes, a loteria esportiva pode perder o interesse", afirma Lopes.
Para os grandes, o novo calendários deve render mais recursos da loteria. Essas equipes devem entrar em campo praticamente em todos os domingos do ano.
Assim, irão constar em quase todos os concursos da temporada. No ano passado, o Flamengo, eliminado precocemente em quase todos os torneios que disputou, só esteve em 23 testes.
Caixa e Clube dos 13 também concordam que uma eventual nova virada de mesa para resgatar Palmeiras e Botafogo pode ser mais um golpe fatal.
"Como homem de marketing, prefiro nem pensar nessa hipótese", teme Holzmann. "Isso [a virada de mesa" seria especialmente ruim para a tentativa de atrair os jovens", diz Lopes.
A tentativa de revitalizar a loteria não vai acontecer apenas pela via do novo regulamento.
O Clube dos 13 trabalha atualmente em um projeto para tirar a esportiva da pasmaceira atual.
Segundo Holzmann, esse trabalho deve estar finalizado ainda neste semestre. Depois de pronto, ele será levado para o Ministério do Esporte. "O ministro [Agnelo Queiroz" será o nosso canal de comunicação", diz o dirigente.
Apesar de só administrar o jogo, que tem suas regras definidas por lei, a Caixa veria com bons olhos mudanças que aumentassem seu faturamento e dos clubes. (PAULO COBOS)


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