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voz da experiência
Executivo ensina basquete a encestar
Gary Boren, 67, brilha como único técnico de lance livre da NBA, diz que precisão é obtida com cérebro e alerta o Brasil
Analista financeiro iniciou
treinos aos 53 anos, criou
teoria sobre arremessos e
ajuda Dallas, finalista em
2006 e melhor time da liga
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gary Boren decidiu se transformar em cobaia ao perceber a
dificuldade que jogadores profissionais enfrentam para executar um arremesso tão corriqueiro no basquete.
Entrou em uma academia,
comprou uma bola laranja e estabeleceu o desafio: treinar até
entender por que astros que ganham milhões pecam nos lances livres, chutes executados
sem marcação e a menos de
cinco metros da cesta.
Ele não era um garoto quando fixou tal meta. Já tinha 53
anos e limitações de horário
-sua jornada como analista financeiro ocupava o dia todo.
Mesmo assim, obteve êxito.
Hoje, aos 67, Boren é o único
treinador de lances livres da
NBA. Seus conhecimentos ajudaram o Dallas Mavericks a assegurar o posto de melhor equipe da competição até aqui.
Sua teoria rendeu fama, empregos de consultor em 46
equipes e um discurso inflamado para criticar times e países
que não dão importância aos
detalhes no esporte- o Brasil
está entre os torpedeados.
A jornada de Boren na modalidade começou em 1992. "Eu
decidi que chutaria lances livres até acertar a cesta 500 vezes por dia. Cheguei a fazer
mais de mil arremessos", disse
à Folha. Durante 13 meses, deixou seu escritório no Equity
Group para realizar as práticas.
Não se lembra de ter faltado.
"No final desse período, eu
sabia muito de lance livre. Decidi então passar o conhecimento adiante. Procurei um
técnico profissional."
O eleito foi Don Nelson, na
época no Golden State Warriors. Boren enviou uma carta
mostrando que a equipe era a
pior da liga nos lance livres e
que ele poderia resolver o problema. Foi contratado.
Sob a batuta do executivo, os
atletas melhoraram a média de
acerto nos arremessos em 20%
apenas no primeiro ano.
No Dallas, a dupla celebra estatísticas também impressionantes. O time fica entre os top
6 na lista dos melhores da NBA
em lances livres desde 1999. Na
temporada atual, com média de
acerto de 80,9%, perde somente para o Phoenix Suns, que
tem 81,3% de eficiência.
"Basicamente, eu provo aos
atletas que lance livre ganha jogo e que eles erram tanto porque se acham bons demais."
O primeiro item de seu argumento é evidenciado com números. O Dallas venceu sete
partidas nesta temporada graças ao melhor aproveitamento
que os rivais nos lances livres.
Sem esses triunfos, deixaria a
ponta da Conferência Oeste,
caindo para a quinta posição.
Já as explicações sobre a teoria da falta de humildade dos
basqueteiros exige um mergulho nos métodos de Boren.
O economista filma os atletas arremessando. "Existem 41
pontos de falhas em biomecânica, posicionamento e estratégia que detectei. Cada um peca
em pelo menos dez itens. Nessa
breve orientação, já conseguimos ganhos consideráveis."
A questão central, porém,
vem depois. Para Boren, o lance livre é uma guerra entre a
mente e o corpo. Sua tarefa é
ensinar os pupilos que a primeira parte deve triunfar.
"No arremesso, o cérebro sabe o que fazer. Mas os músculos não obedecem. No lance livre, os atletas ficam calmos
porque acham que vão acertar,
porque a cabeça conhece o movimento. Aí fazem besteira."
Ele acredita que seus comandados não podem relaxar no
momento do chute. Com exercícios de repetição, ensina a
evitar "uma sesta muscular".
Boren diz admirar a precisão
de brasileiros no fundamento.
Lembra de Hortência, Marcel e
"daquele recordista em pontos
nas Olimpíadas", em referência
a Oscar. Lamenta o fato de o
Brasil ter decaído no cenário
internacional, especialmente
com os homens, e promete oferecer seus serviços ao país.
"É um grupo que se esqueceu
do valor dos treinos, dos detalhes. Se não me engano, o Brasil acertou pouco mais de 60%
dos lances livres no último
Mundial [o percentual foi de
61,9%]. É horrível. Desse jeito,
nunca voltará a ser bom."
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