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O Paulista-98 começou na Arábia
A passagem pelo milionário futebol árabe é um dos poucos elos que une os quatro técnicos que atuam nestas semifinais. Apenas um deles, Scolari, o treinador palmeirense, admite que poderia voltar um dia. Todos, porém, não esquecem a aventura
FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local
Uma coincidência, distante
15.755 quilômetros de São Paulo,
com clima predominantemente
árido e intensa vigilância religiosa,
une os quatro técnicos semifinalistas do Campeonato Paulista.
Atraídos pelos petrodólares,
Nelsinho, Luiz Felipe Scolari,
Candinho e Wanderley Luxemburgo trabalharam -e ampliaram seus patrimônios- no futebol da Arábia Saudita.
E, de lá, partiram para clubes
maiores, entraram para a elite do
futebol brasileiro e tornaram-se
candidatos ao cargo na seleção.
Na temporada 84-85, Luxemburgo, Candinho e Scolari eram
adversários nos torneios sauditas.
Na ocasião, Candinho levou a
melhor. Dirigindo o Al-Hilal, clube mais forte do país, venceu o
campeonato nacional.
O atual técnico da Lusa voltou à
Arábia Saudita em outras duas
ocasiões. Ao lado de Scolari, é o
que acumulou mais experiência
no Oriente Médio, com um total
de seis temporadas.
Nelsinho, hoje no São Paulo, foi
o último a passar pelo futebol saudita. Trabalhou também no Al-Hilal, de agosto de 93 a maio de 94.
Entre os semifinalistas, Luxemburgo, do Corinthians, é o único
que não trabalhou como treinador. À época, iniciava-se na profissão, e foi para o Oriente como
auxiliar técnico de Joubert Meira.
Das experiências, os técnicos
trouxeram impressões diversas.
Nenhum deles aprendeu o árabe.
Candinho saiu do país após se desentender com um príncipe. "Eles
que se danem", disse, na ocasião.
Já Scolari, do Palmeiras, afirma
que gosta muito do país e que voltaria para lá "tranquilamente".
O quarteto, porém, é unânime
ao apontar o principal atrativo do
futebol saudita: a remuneração
acima dos padrões.
"Fui para lá ganhando oito vezes
mais do que conseguiria no Brasil", declarou Scolari.
"A maior vantagem, sem dúvida, era financeira", diz Nelsinho.
Luxemburgo afirma que "financeiramente era bem melhor" e, para Candinho, "a alta do petróleo
foi a responsável pelo boom do futebol em toda a região".
Em 84, quando três dos quatro
semifinalistas desembarcaram no
Oriente, o preço do barril de petróleo, principal "mola" da economia local, girava em torno dos
US$ 27. Na última semana, estava
cotado em US$ 14,64.
"Por isso, hoje a Arábia não oferece salários tão bons como no
passado", analisa Candinho.
De fato, o êxodo de treinadores,
preparadores físicos e auxiliares
do Brasil para o futebol árabe vem
caindo ao longo da década.
Nos anos 80, além de Candinho,
Scolari e Luxemburgo, outros brasileiros aproveitaram a onda milionária do futebol árabe.
Os mais ilustres: Telê Santana,
Zagallo, Rubens Minelli, Paulo
César Carpegiani, Formiga, Carbone e Valdyr Espinosa.
"Na época, um técnico ganhava
US$ 40 mil por mês na Arábia, o
que era um absurdo", diz João
Paulo Medina, que trabalhou como preparador físico do Al-Hilal e
da seleção, junto com Candinho.
Hoje, o único brasileiro de destaque a atuar no país é Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção
que vai à Copa da França.
Será a segunda participação da
Arábia Saudita em Mundiais.
Da primeira, nos EUA, em 94,
saiu como uma das surpresas
-chegou à segunda fase.
Foi nas eliminatórias para a última Copa que Candinho se desentendeu com o príncipe Fahd, então ministro dos Esportes.
"Estávamos invictos e faltava um
jogo para a classificação. O príncipe queria aparecer e começou a
querer dar palpites na escalação",
conta Candinho. "Eu disse que
não aceitava nenhuma interferência e voltei para o Brasil."
Lidar com esse tipo de problema
foi uma das situações assimiladas
pelos técnicos brasileiros.
A primeira barreira, a da comunicação, era enfrentada com inglês, espanhol, intérpretes, quadros negros e muita mímica.
"Tinha que achar uma maneira
de passar aos jogadores o que eu
queria. Daí, comecei a usar uma
lousa", afirma Nelsinho. "Quando
íamos para o campo, fazia toda a
movimentação e mostrava o que
cada um devia fazer. Acabei incorporando isso ao meu trabalho."
O preparador físico Flávio Trevisan, que acompanhou Nelsinho,
aponta outra dificuldade.
"Os intérpretes ficavam com receio e não transmitiam as broncas
e advertências aos jogadores", diz.
Os semifinalistas do Paulista dizem, hoje, estarem certos de que
contribuíram para a evolução do
futebol saudita.
"Se os brasileiros não tivessem
ido para lá, a Arábia Saudita nunca teria classificado sua seleção para uma Copa", diz Luxemburgo.
"Há 14 anos, os árabes eram bem
fraquinhos", resume Candinho.
Até o próximo domingo, o quarteto só se encontrará no Morumbi.
Nelsinho contra Scolari, Luxemburgo versus Candinho.
Situação bem diferente dos animados churrascos e partidas de tênis que organizavam na Arábia
Saudita da década passada.
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