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FUTEBOL
Domingos da Guia, que jogou na Copa-38, morreu ontem no Rio, aos 87 anos, depois de 12 dias em estado de coma
Brasil perde seu zagueiro mais clássico
DA REPORTAGEM LOCAL E
DA SUCURSAL DO RIO
""Não fazia falta nem dava chutão. Jogava driblando, como se
fosse um atacante. A única diferença é que ficava lá atrás."
Assim Domingos da Guia, considerado o zagueiro mais clássico
da história do futebol brasileiro,
que morreu ontem, no Rio, aos 87
anos, descrevia seu estilo de jogar.
Também conhecido pelas gerações dos anos 60 e 70 como pai de
Ademir da Guia, meia que se tornou um dos principais ídolos da
história do Palmeiras, Domingos
da Guia estava havia 12 dias em
estado de coma, devido a um derrame cerebral.
Carioca, ele iniciou sua carreira
no Bangu, no final dos anos 20,
mas se notabilizou no Vasco da
Gama, onde foi campeão em 1934,
e no Flamengo, time pelo qual
conquistou campeonatos em
1939, 1942 e 1943.
Mas as conquistas do atleta não
se limitaram ao Brasil. Tendo
atuado também no Nacional, do
Uruguai, e no Boca Juniors, da
Argentina, sagrou-se campeão
uruguaio, em 1933, e argentino,
em 1935.
Teve ainda passagem pelo futebol paulista, já que nos anos 40
chegou a defender o Corinthians.
Em todos os clubes pelos quais
passou, até encerrar a carreira,
justamente no Bangu, em 1949, o
zagueiro fez história com suas jogadas de habilidade dentro da
área. Costumava driblar o atacante adversário antes de sair com a
bola dominada e tocá-la para um
companheiro de equipe.
Graças à técnica refinada, ganhou o apelido de ""Divino" e passou a ser chamado de ""Hitchcock
do futebol" pelo jornalista Mário
Filho, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues.
Curiosamente, no entanto, o
lance que mais marcou a carreira
do atleta que se gabava de não cometer faltas foi o pênalti que cometeu contra a Itália, na Copa de
1938, e tirou o Brasil da disputa do
título mundial.
Num lance em que a bola não
estava em disputa, Domingos da
Guia, dizendo ter sido agredido
pelo italiano Piola, deu-lhe um
pontapé. O juiz assinalou pênalti
contra o Brasil, e a seleção acabou
perdendo por 2 a 1.
Depois da partida, a delegação
brasileira enviou seu protesto à
Fifa, mas não conseguiu anular o
resultado do jogo.
Décadas depois da derrota, o
lance continuava atormentando o
zagueiro. O pai de Ademir não se
conformava com o fato de ter prejudicado a seleção, depois de tanto sacrifício para chegar à França
e às semifinais.
Nos anos 80, num programa de
TV que discutia a derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, e a falha de Barbosa, morto recentemente, que permitiu a vitória e a
conquista dos rivais, Da Guia admitiu que também se sentia ""um
pouco culpado".
Não por 1950, pois já havia se retirado dos gramados um ano antes, mas por 1938. O atleta afirmou que em nenhum momento
se sentiu responsabilizado pela
mídia, mas que não achava justo o
técnico Adhemir Pimenta ter levado a culpa pelo fracasso.
Como o treinador poupou Leônidas da Silva, destaque e artilheiro do Brasil no Mundial, da semifinal contra a Itália, chegou a ser
acusado de considerar a partida
""favas contadas" e de estar preocupado apenas com a final, que
nem chegou a disputar.
O corpo do ex-jogador começaria a ser velado ontem, às 19h, na
capela do cemitério Jardim da
Saudade, em Sulacap (zona oeste
do Rio). O sepultamento está
marcado para às 9h de hoje.
De acordo com médicos do hospital Quarto Centenário, onde Da
Guia estava internado, mesmo inconsciente ele recebeu a visita de
vários amigos e familiares nos últimos dias. Para o enterro, a Confederação Brasileira de Futebol
disse que mandaria um representante.
(JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO e PEDRO DANTAS)
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