São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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FUTEBOL
Domingos da Guia, que jogou na Copa-38, morreu ontem no Rio, aos 87 anos, depois de 12 dias em estado de coma
Brasil perde seu zagueiro mais clássico

DA REPORTAGEM LOCAL E
DA SUCURSAL DO RIO

""Não fazia falta nem dava chutão. Jogava driblando, como se fosse um atacante. A única diferença é que ficava lá atrás."
Assim Domingos da Guia, considerado o zagueiro mais clássico da história do futebol brasileiro, que morreu ontem, no Rio, aos 87 anos, descrevia seu estilo de jogar.
Também conhecido pelas gerações dos anos 60 e 70 como pai de Ademir da Guia, meia que se tornou um dos principais ídolos da história do Palmeiras, Domingos da Guia estava havia 12 dias em estado de coma, devido a um derrame cerebral.
Carioca, ele iniciou sua carreira no Bangu, no final dos anos 20, mas se notabilizou no Vasco da Gama, onde foi campeão em 1934, e no Flamengo, time pelo qual conquistou campeonatos em 1939, 1942 e 1943.
Mas as conquistas do atleta não se limitaram ao Brasil. Tendo atuado também no Nacional, do Uruguai, e no Boca Juniors, da Argentina, sagrou-se campeão uruguaio, em 1933, e argentino, em 1935.
Teve ainda passagem pelo futebol paulista, já que nos anos 40 chegou a defender o Corinthians.
Em todos os clubes pelos quais passou, até encerrar a carreira, justamente no Bangu, em 1949, o zagueiro fez história com suas jogadas de habilidade dentro da área. Costumava driblar o atacante adversário antes de sair com a bola dominada e tocá-la para um companheiro de equipe.
Graças à técnica refinada, ganhou o apelido de ""Divino" e passou a ser chamado de ""Hitchcock do futebol" pelo jornalista Mário Filho, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues.
Curiosamente, no entanto, o lance que mais marcou a carreira do atleta que se gabava de não cometer faltas foi o pênalti que cometeu contra a Itália, na Copa de 1938, e tirou o Brasil da disputa do título mundial.
Num lance em que a bola não estava em disputa, Domingos da Guia, dizendo ter sido agredido pelo italiano Piola, deu-lhe um pontapé. O juiz assinalou pênalti contra o Brasil, e a seleção acabou perdendo por 2 a 1.
Depois da partida, a delegação brasileira enviou seu protesto à Fifa, mas não conseguiu anular o resultado do jogo.
Décadas depois da derrota, o lance continuava atormentando o zagueiro. O pai de Ademir não se conformava com o fato de ter prejudicado a seleção, depois de tanto sacrifício para chegar à França e às semifinais.
Nos anos 80, num programa de TV que discutia a derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, e a falha de Barbosa, morto recentemente, que permitiu a vitória e a conquista dos rivais, Da Guia admitiu que também se sentia ""um pouco culpado".
Não por 1950, pois já havia se retirado dos gramados um ano antes, mas por 1938. O atleta afirmou que em nenhum momento se sentiu responsabilizado pela mídia, mas que não achava justo o técnico Adhemir Pimenta ter levado a culpa pelo fracasso.
Como o treinador poupou Leônidas da Silva, destaque e artilheiro do Brasil no Mundial, da semifinal contra a Itália, chegou a ser acusado de considerar a partida ""favas contadas" e de estar preocupado apenas com a final, que nem chegou a disputar.
O corpo do ex-jogador começaria a ser velado ontem, às 19h, na capela do cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap (zona oeste do Rio). O sepultamento está marcado para às 9h de hoje.
De acordo com médicos do hospital Quarto Centenário, onde Da Guia estava internado, mesmo inconsciente ele recebeu a visita de vários amigos e familiares nos últimos dias. Para o enterro, a Confederação Brasileira de Futebol disse que mandaria um representante. (JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO e PEDRO DANTAS)


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