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MOTOR
Duas voltas
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A cúpula ferrarista se reuniu em almoço na segunda-feira para discutir a polêmica troca de posições.
Segundo um jornalista italiano que teve acesso ao teor da
conversa, Luca Montezemolo
estava mais preocupado em saber que diabos aconteceu entre
seus pilotos do que com o convite de Silvio Berlusconi para ser
ministro -que declinou.
Segundo o relato desse colega,
Jean Todt se mostrou enfurecido
com a atitude de Barrichello.
Primeiro porque o brasileiro demorou a reagir à ordem dos boxes. Segundo por ter feito a gracinha de abrir passagem ao alemão apenas na última curva.
Mas a conversa derivou, no final das contas, para o outro lado. Com os jornais italianos esculhambando a escuderia por
causa da ordem esdrúxula, considerando-se que o campeonato
ainda está completamente aberto, seria difícil fritar o piloto
brasileiro neste momento, intenção inicial de Todt -que ficou com a mão no ar ao tentar
cumprimentá-lo no Parc Fermé.
Pior, Barrichello, dentro do
carro, mostrou fibra, algo que os
italianos adoram -apesar de,
fora do cockpit, ter se comportado como um adolescente, daqueles que ficam irritados com o
professor porque ele prefere e
protege o almofadinha eleito como primeiro da classe.
A transmissão do GP da Áustria, apesar da inédita riqueza
de imagens -fruto, talvez, da
disputa Ecclestone x montadoras em torno da TV aberta-,
não captou o nervosismo vivido
pela Ferrari nas últimas voltas.
Todt, depois de avaliar que
Barrichello não teria forças para passar Coulthard, ordenou a
troca de posições, faltando três
voltas para a bandeirada.
Barrichello não deu resposta
pelo rádio, mas encontrou outro
meio para expressar sua revolta.
Fez sua melhor volta na corrida,
1mim11s009. Naquele momento,
Todt e Ross Brawn tratavam de
acalmar Schumacher, falando
que a ordem a Barrichello já havia sido dada. O alemão, porém,
também reagiu como piloto. Na
volta 69, foi Schumacher quem
fez seu melhor tempo na prova,
1min11s030, 21 décimos pior que
o do colega, prova cabal de que
estava mais lento, pelo menos
naquele dia, naquela pista.
Para os pouco familiarizados
com o esporte, é bom lembrar
que fazer melhor volta em final
de corrida é sinal de confiança,
coragem ou até mesmo desespero. Um erro, mínimo que seja,
pode tirar o sujeito da corrida
-e não é por outro motivo que
raramente acontecem trocas de
posição nas voltas derradeiras.
Talvez sem saber, Barrichello
e Schumacher disputaram uma
corrida de duas voltas em Zeltweg. E, pelo menos nessa, o brasileiro ganhou. Por 21 décimos.
E é por isso, por essa pequena
vitória, não pela gracinha da última curva nem pelo faniquito
infantil do pódio, que Barrichello ganhou uma chance de sobrevida na escuderia, que tem
até agosto para manter ou liberar seu segundo piloto.
E, até lá, seu único problema
será controlar os nervos fora da
pista. No tal almoço, a única
coisa que ficou acertada é que os
chiliques do brasileiro em Sepang e Zeltweg foram os últimos
dele com macacão vermelho.
Dado importante, para quem
acredita que a McLaren é destino possível para Barrichello:
Ron Dennis declarou nesta semana à "Autosport" que seu desejo é preservar a dupla atual.
Obituário
Paul Morgan, sócio de Mario Illen na Ilmor, morreu no último
sábado. Foi responsável pelo motor Cosworth DFX que dominou a Indy por vários anos e pelas unidades Mercedes que provocaram o renascimento da McLaren no final dos 90 -os pêsames da equipe foram simbolizados pela recusa de Coulthard a
estourar sua garrafa de champanhe em Zeltweg. Não à toa:
Morgan, que colecionava aviões antigos e morreu a bordo de
um caça da 2ª Guerra Mundial, é baixa importante no grupo.
Auto-golpe
O anúncio de uma série rival a partir de 2008, quando acaba a
última versão do Pacto de Concórdia, é mais um elemento de
pressão das montadoras em cima da SLEC de Ecclestone e
Kirch. As fábricas querem seu quinhão no negócio secular, o
que já foi negado. Ecclestone sabe que, exceção feita à Ferrari,
montadoras tem prazo de validade na F-1. Vai esperar sentado.
E-mail : mariante@uol.com.br
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