São Paulo, sábado, 19 de maio de 2001

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FUTEBOL

Circo no escuro

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A semana foi pródiga em notícias: nova seleção, fim dos jogos noturnos, queda do Brasil no ranking da Fifa, adiamento do Mundial de Clubes.
Com tantos assuntos, as partidas pela Copa do Brasil e pela Libertadores acabaram ficando em segundo plano.
Não tenho competência para falar sobre a crise energética. Há quem diga que ela está sendo superestimada para esconder a imensa pizza que FHC e ACM estão compartilhando.
Seria, nesse caso, uma maneira de forjar um grande inimigo contra o qual a nação se uniria, sob a liderança do governo FHC e a orientação cívico-pedagógica da Rede Globo.
"Apagão" rima com "bicho-papão" -e já faz tempo que somos tratados como crianças.
Em todo caso, não é essa a minha praia. Passo a palavra aos economistas, aos homens de ciência e aos analistas políticos. Esta é uma coluna sobre futebol, e futebol, na visão dos donos do poder, é uma atividade supérflua, especialmente à noite.
Talvez valha a pena nos determos sobre esse ponto.
Num país em que proliferam as filiais de lojas de grife como Giorgio Armani e Kenzo; num país em que há gente comprando um vestido Yves Saint-Laurent por R$ 6.000; num país que concentra, num só quarteirão da avenida Europa, em São Paulo, cinco bem iluminadas lojas de carros importados; pois bem, nesse país um jogo de futebol noturno é atividade supérflua. Ou muito me engano, ou há algo errado com esse país.

Só uma palavra sobre o rebaixamento do Brasil no ranking da Fifa: demorou.

Na seleção que irá para a Copa das Confederações, o que mais preocupa, além do nível mediano dos convocados, é a ausência de um autêntico armador ou articulador entre os meio-campistas. Quem mais se aproxima do perfil é Robert, que conduz mais a bola do que a distribui.
Falta um Alex, um Ricardinho, um Djalminha, um Marcelinho. Na impossibilidade de convocá-los, uma alternativa seria Piá, da Ponte Preta. Não é nenhum Gérson, mas, na atual carestia, dá para o gasto.

Desconfio que o Mundial de Clubes da Fifa subiu no telhado. O adiamento para meados de 2003 é um sinal de que o torneio não colou.
Se tivesse colado, não seria a falência de uma empresa de marketing esportivo que iria inviabilizá-lo. Alguém consegue imaginar a mesma coisa acontecendo com a Libertadores da América ou com a Copa dos Campeões da Europa?

Com tanta notícia, passou quase despercebida uma novidade curiosa: o uso de ponto eletrônico por jogadores do Corinthians para ouvir instruções de Wanderley Luxemburgo durante a partida contra o Santos.
É óbvio que o artefato não influiu no resultado. Seria ridículo imaginar o técnico dizendo a Ricardinho: "Chuta de curva, no canto direito do goleiro".
Mas o recurso pode facilitar a comunicação do técnico com os homens-chave do time, ajudando a corrigir erros táticos e a organizar o jogo. A possível desvantagem é ampliar o fosso entre clubes ricos e clubes pobres.

Herói e vilão
Marcelinho continua instável e imprevisível como o próprio Corinthians. No domingo, contra o Santos, foi talvez o melhor jogador da partida. Anteontem, contra o Atlético-PR, foi expulso bestamente logo no início. O pior é que o alvinegro mostrou que suporta mal a sua ausência. Sem ele, o time perde mobilidade e poder ofensivo. Contra o Atlético-PR, fez um dos jogos mais feios dos últimos tempos.

Baixou o Zico
Esperava-se muito de Marcelinho, e ele falhou. Ricardinho também, ao desperdiçar um pênalti. Em compensação, os palmeirenses não esperavam nada de Muñoz, que entrou no segundo tempo da partida contra o time do São Caetano e fez um dos gols mais bonitos do ano, driblando meia defesa em dois metros de campo. Se fosse de Romário, a Globo reprisaria o golaço a semana inteira.
E-mail : jgcouto@uol.com.br


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