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FUTEBOL
Circo no escuro
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A semana foi pródiga em
notícias: nova seleção, fim
dos jogos noturnos, queda do
Brasil no ranking da Fifa, adiamento do Mundial de Clubes.
Com tantos assuntos, as partidas pela Copa do Brasil e pela
Libertadores acabaram ficando
em segundo plano.
Não tenho competência para
falar sobre a crise energética. Há
quem diga que ela está sendo
superestimada para esconder a
imensa pizza que FHC e ACM
estão compartilhando.
Seria, nesse caso, uma maneira de forjar um grande inimigo
contra o qual a nação se uniria,
sob a liderança do governo FHC
e a orientação cívico-pedagógica da Rede Globo.
"Apagão" rima com "bicho-papão" -e já faz tempo que somos tratados como crianças.
Em todo caso, não é essa a minha praia. Passo a palavra aos
economistas, aos homens de
ciência e aos analistas políticos.
Esta é uma coluna sobre futebol,
e futebol, na visão dos donos do
poder, é uma atividade supérflua, especialmente à noite.
Talvez valha a pena nos determos sobre esse ponto.
Num país em que proliferam
as filiais de lojas de grife como
Giorgio Armani e Kenzo; num
país em que há gente comprando um vestido Yves Saint-Laurent por R$ 6.000; num país que
concentra, num só quarteirão
da avenida Europa, em São
Paulo, cinco bem iluminadas lojas de carros importados; pois
bem, nesse país um jogo de futebol noturno é atividade supérflua. Ou muito me engano, ou
há algo errado com esse país.
Só uma palavra sobre o rebaixamento do Brasil no ranking
da Fifa: demorou.
Na seleção que irá para a Copa
das Confederações, o que mais
preocupa, além do nível mediano dos convocados, é a ausência
de um autêntico armador ou articulador entre os meio-campistas. Quem mais se aproxima do
perfil é Robert, que conduz mais
a bola do que a distribui.
Falta um Alex, um Ricardinho, um Djalminha, um Marcelinho. Na impossibilidade de
convocá-los, uma alternativa
seria Piá, da Ponte Preta. Não é
nenhum Gérson, mas, na atual
carestia, dá para o gasto.
Desconfio que o Mundial de
Clubes da Fifa subiu no telhado.
O adiamento para meados de
2003 é um sinal de que o torneio
não colou.
Se tivesse colado, não seria a
falência de uma empresa de
marketing esportivo que iria inviabilizá-lo. Alguém consegue
imaginar a mesma coisa acontecendo com a Libertadores da
América ou com a Copa dos
Campeões da Europa?
Com tanta notícia, passou
quase despercebida uma novidade curiosa: o uso de ponto eletrônico por jogadores do Corinthians para ouvir instruções de
Wanderley Luxemburgo durante a partida contra o Santos.
É óbvio que o artefato não influiu no resultado. Seria ridículo
imaginar o técnico dizendo a
Ricardinho: "Chuta de curva,
no canto direito do goleiro".
Mas o recurso pode facilitar a
comunicação do técnico com os
homens-chave do time, ajudando a corrigir erros táticos e a organizar o jogo. A possível desvantagem é ampliar o fosso entre clubes ricos e clubes pobres.
Herói e vilão
Marcelinho continua instável e imprevisível como o próprio
Corinthians. No domingo, contra o Santos, foi talvez o melhor
jogador da partida. Anteontem, contra o Atlético-PR, foi expulso bestamente logo no início. O pior é que o alvinegro mostrou
que suporta mal a sua ausência. Sem ele, o time perde mobilidade e poder ofensivo. Contra o Atlético-PR, fez um dos jogos
mais feios dos últimos tempos.
Baixou o Zico
Esperava-se muito de Marcelinho, e ele falhou. Ricardinho também, ao desperdiçar um pênalti. Em compensação, os palmeirenses não esperavam nada de Muñoz, que entrou no segundo
tempo da partida contra o time do São Caetano e fez um dos
gols mais bonitos do ano, driblando meia defesa em dois metros de campo. Se fosse de Romário, a Globo reprisaria o golaço
a semana inteira.
E-mail : jgcouto@uol.com.br
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