São Paulo, Quarta-feira, 19 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO
Sorte ou competência

Se o Palmeiras continuar mal, pode perder até de goleada, ou ganhar novamente,sem merecer

O Palmeiras jogou pior do que o Corinthians, nas duas partidas pelas quartas-de-final da Libertadores, mas conseguiu seu objetivo, classificando-se, nos pênaltis, para as semifinais.
Na primeira partida pela Copa do Brasil, contra o Flamengo, o time voltou a jogar mal, foi dominado, mas fez um gol no último minuto, numa falha do adversário. Esse gol aumentou muito suas chances, já que, em São Paulo, basta vencer por apenas 1 a 0.
Sorte ou competência? Tenho escutado opiniões contrárias e extremas. Uns elogiam o comando do técnico (o que concordo), falam que futebol é resultado e que tudo -até o gol no último minuto- foi planejado pelo Felipão, para não permitir a reação do adversário.
Outros pensam que o time está jogando muito mal, dando sorte, e que o esquema rígido do treinador atrapalha a criatividade dos jogadores, como a do Alex. O bom senso ensina que não é uma coisa nem outra.
Hoje, contra o River Plate, teremos mais uma oportunidade de esclarecer essas dúvidas. Se o Palmeiras continuar jogando mal, pode perder até de goleada, ou ganhar novamente, sem merecer. Nada será surpresa.
Roque Júnior está melhor do que Cléber e deveria ser mantido na equipe titular. O veloz Euller é uma ótima opção para jogar no contra-ataque, como deve acontecer nesta partida. Entendo os planos táticos do técnico, mas não concordo com Alex na reserva e o meio-campo escalado com Rogério, Galeano, César Sampaio e Zinho.
Se o Palmeiras ganhar os três títulos que está disputando, seu estilo será festejado. Se perdê-los, será duramente criticado. O torcedor gosta de vencer, mesmo jogando mal, mas não suporta perder, jogando feio.

Pênalti não é loteria
As decisões por pênalti estão acontecendo com frequência. A comissão técnica do Corinthians foi criticada na partida anterior, contra o Palmeiras, por deixar o Marcelinho -teoricamente o melhor- cobrar por último. Não vejo importância nesse fato. Se ele tivesse batido primeiro e o time se desclassificasse, diriam que o melhor deveria bater por último.
Dizem que pênalti é loteria. Não concordo. Pênalti é, principalmente, competência.
O pênalti é o momento em que o atleta mais necessita de equilíbrio emocional. O silêncio que antecede a cobrança produz uma grande ansiedade no goleiro e especialmente no cobrador.
O pênalti deve ser batido com força, no chão ou no alto. Quando é cobrado à média altura, facilita a defesa.
O goleiro de maior tamanho tem, obviamente, mais chance de defender -inibe o cobrador e chega mais fácil na bola.
O cobrador, antes de chutar, não deveria olhar para o chão, e sim para o goleiro, e ver seus movimentos. Pelé inventou a "paradinha" para enganar o goleiro, e ela foi injustamente proibida.
Com a nova regra, o goleiro pode se movimentar na linha do gol, sem retirar os pés do chão. Isso facilita sua impulsão em direção à bola e confunde o cobrador.
Quanto mais se treina, melhor se bate e se defende.
Portanto, pênalti é mais técnica do que loteria, mas não tenho dúvida de que a sorte ajuda.

Botafogo na frente

O Botafogo, surpreendentemente, é o primeiro classificado entre os quatro semifinalistas da Copa do Brasil.
O Bota tem uma equipe modesta, mas está aproveitando o regulamento com inteligência. Não foi por acaso que o time eliminou da competição o São Paulo e o Atlético-PR. Além disso, nesta semana, derrotou o Flamengo, que estava invicto havia 18 jogos.
A equipe reconhece sua inferioridade individual contra os grandes times e adota um sistema tático cauteloso, eficiente, buscando a vitória nos contra-ataques.
Das outras três disputas, na Copa do Brasil, somente o Bahia é o favorito na partida de volta. O bom time baiano, que está na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, empatou com o Juventude em 2 a 2, fora de casa, e para se classificar precisa de um empate em 0 a 0 ou 1 a 1. No entanto, o contrário não será surpresa, já que o Juventude é uma equipe bastante competitiva.
O esperto e bom time do Goiás tem boas chances em casa, contra o Inter, já que perdeu a primeira por apenas 1 a 0. O time gaúcho confia na tradição, nos gols do Christian e principalmente na liderança e técnica do Dunga.
O Palmeiras, cansado, terá de repetir na sexta-feira o mesmo time de hoje. O Mengo, ao contrário, vai poupar seus principais jogadores contra a Friburguense. Além disso, Romário excede. É uma decisão sem prognóstico.

Túlio no Cruzeiro
Túlio, que não joga bem há muito tempo, foi contratado, por empréstimo, pelo Cruzeiro. Muitos o consideram acabado, enquanto outros têm ainda esperança de vê-lo brilhar novamente.
O jogador é lento, não tem explosão muscular, não tem habilidade e finaliza mal de fora da área. Talvez, o atacante fique mais esperto vendo correr os velozes Alex Alves e Paulo Isidoro.
Em outros tempos, Túlio fazia gols com muita frequência. Para que isso se repita, é necessário que seu novo time jogue pressionando o adversário e tenha bons cruzamentos das laterais.
Quem atua parado na frente e não possui outras qualidades tem obrigação de fazer gols. Romário é o melhor de todos, não porque faz gols em quase todas as partidas, e sim porque encanta.


Tostão escreve aos domingos e às quartas


Texto Anterior: Tênis - Thales de Menezes: Favoritismo
Próximo Texto: Vôlei: Em crise, Superliga perde até sua campeã feminina
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.