São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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Ahn?

France Presse
Ahn Jung-hwan joga as chuteiras para a torcida


Principal responsável pela eliminação italiana na Copa, o meia-atacante sul-coreano Ahn Jung-hwan, 26, passou os últimos dois anos praticamente esquecido em um time médio da primeira divisão do país em que deu ontem o golpe de misericórdia, ao marcar o "gol de ouro" na prorrogação. No Perugia há dois anos, o herói da classificação coreana só atuou em 14 dos 34 jogos de seu clube no último Italiano e fez apenas um gol.

DO ENVIADO A DAEJEON

Trocar a Coréia do Sul, onde chegou a ser escolhido o melhor jogador do campeonato local, pela Itália, onde praticamente só "esquentou" o banco, foi um trauma para Ahn Jung-hwan.
No seu país, o meia-atacante fazia sucesso em campo e fora dele. Nenhum outro jogador sul-coreano faz tanto sucesso com o público feminino como Ahn, que é casado com uma ex-miss Coréia do Sul, que homenageia sempre que marca um gol, beijando a aliança.
Seu rosto estampa propagandas de perfumes e cremes para homens, que estão por todo o metrô de Seul e Busan, as duas principais cidades sul-coreanas.
Seu corte de cabelo é imitado por milhares de jovens do país asiático. Sua camisa na seleção, com o número 19, é também a mais usada pelos torcedores.
Quando foi para a Itália, tudo isso acabou. Na Europa, não conseguiu atuar bem e foi jogado no ostracismo. Em um time médio, de uma cidade que não está entre as maiores, foi deixado de lado.
Na primeira temporada que fez, em 2000/2001, ainda conseguiu um pouco mais de destaque -fez quatro gols em 15 jogos que disputou pelo Campeonato Italiano.
No Perugia, time em que o lateral-direito brasileiro Zé Maria é maior estrela, o descaso com Ahn era tão grande que sua saída, antes do bom desempenho nesta Copa do Mundo, já era dada como praticamente certa.
O próprio jogador já forçava isso, querendo ir para um time onde tivesse a chance de jogar e mostrar que poderia vencer também no competitivo futebol europeu, como fez na Coréia do Sul.
Clubes italianos mais modestos ou o futebol inglês, segundo seu agente, estariam entre os destinos possíveis para o autor de dois dos seis gols marcados pela Coréia do Sul na Copa até o momento.
Ahn prefere continuar na Itália, porque sonha provar que pode ser craque também na famosa Série A desse país.
Antes de ir para a Europa, o meia-atacante jogava no Busan Icons, onde ganhou o troféu de melhor jogador da temporada 1999. O prêmio despertou a atenção do futebol italiano, que já tinha levado, do futebol asiático, o meia japonês Nakata, que também precisou trocar a Roma pelo Parma para não ficar "eternamente" na reserva.
"Eu não posso ficar no banco o tempo todo", reclamou Ahn antes do Mundial, temendo que a situação de reserva o atrapalhasse também na seleção sul-coreana.
Não foi o que aconteceu. Ao contrário dos italianos, o técnico Guus Hiddink prestigiou o veloz meia-atacante, que se destaca também no jogo aéreo.
"Ele está crescendo, ficando melhor a cada partida", se derrete o treinador holandês, que teve sua aposta no meia-atacante bem recompensada neste Mundial.
Antes de fazer o gol salvador de ontem, Ahn já havia evitado uma derrota de sua equipe na Copa do Mundo. No jogo contra os EUA, pela fase de classificação, marcou o gol de empate da Coréia.
Na comemoração, ganhou mais prestígio com seus fãs ao homenagear um praticante da patinação no gelo que, segundo seus compatriotas, teria sido prejudicado na última Olimpíada de Inverno, em Salt Lake City, o que deu a medalha de ouro a um competidor norte-americano.
Depois da noite heróica de ontem, Ahn viveu momentos bem diferentes dos que passou no Perugia, quando era ignorado por companheiros e pela imprensa.
Um batalhão de gravadores, microfones e câmeras de televisão esperavam para ouvir as palavras do astro sul-coreano.
No melhor estilo superstar, o meia-atacante ignorou a todos e acabou entrando no ônibus da delegação de seu país enquanto ouvia uma multidão de adolescentes gritando pelo ídolo que reencontrou no Mundial, e contra a Itália, a fama perdida na Europa. (PAULO COBOS)



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