São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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FRANZ BECKENBAUER

Depois do erro, uma segunda aposta


Ronaldo está curado e atua no melhor nível. Rivaldo recupera a boa forma. Não é pouco. O Brasil voltou a ser o máximo favorito


Seria ridículo se agora eu desse um passo adiante e dissesse: "Suspeitava disso. Sabia que isso aconteceria nesta Copa do Mundo".
O fato é que também estou entre aqueles que erraram quando apontavam França e Argentina como favoritas ao título. Em vários momentos, ao longo dos últimos dias, me surpreendi torcendo por seleções tradicionais. Não me entendam mal.
Estarei satisfeito pelo triunfo que cada uma das pequenas nações do futebol puder alcançar na Ásia. Mas o que me preocupa é que Camarões, campeão africano, e Nigéria, campeã olímpica, tenham sido eliminados na primeira fase, ao lado de três seleções da América do Sul.
Começamos a nos espantar quando percebemos que jogadores africanos, que em sua maioria estão atuando em clubes europeus, pereceram nesta Copa por conta da mesma causa que as superestrelas, como o francês Viera, o argentino Verón e o português Figo: a frágil condição física. São todos esses jogadores que, em seus times na Europa, disputaram entre 70 e 80 partidas na última temporada.
Indagam-me por que jogadores como Beckham e Ronaldo demonstram tanta inspiração depois de sérias contusões. A resposta é simples: puderam descansar. São questões para serem revistas após o Mundial.
Em campo, depois da rodada das oitavas-de-final, permito-me arriscar-me a mais um prognóstico: os brasileiros voltaram a ocupar o posto de máximos favoritos ao título. Com sua habitual classe (já teci comentários sobre erros da arbitragem e não ocorreram somente em partidas da seleção brasileira), superou todos os rivais da primeira fase e, em uma partida duríssima, eliminou a Bélgica. Ronaldo está curado e, consequentemente, pode atuar em seu mais alto nível. Rivaldo está voltando à boa forma, o que o coloca de volta ao grupo dos melhores do planeta. Não é pouco.
Arrisco mais: o Brasil terá como rival, na final, a mesma Alemanha sobre a qual éramos tão céticos. A Alemanha que pratica um futebol que denominam pragmático, mas extremamente eficaz.
Estarei cometendo um outro erro? Talvez. Sim, Senegal, com seu futebol encantador, pode conquistar o título. Ou, como disse o mago Sepp Herberger, técnico da Alemanha campeã em 1954, depois de derrotar a fabulosa Hungria: "A bola é redonda". Mesmo nos tempos modernos, é uma coisa que ainda não mudou.


Franz Beckenbauer, 56, é presidente do Bayern de Munique e foi campeão mundial pela Alemanha em 1974, como jogador, e em 1990, como técnico



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