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MOTOR
Sambódromo
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Martin Brundle, hoje comentarista de TV, afirmou
no Canadá: "Estamos desperdiçando Schumacher". De fato, dá
para contar nos dedos os pilotos
na história da F-1 que seriam capazes de arriscar largar em sexto
para ganhar uma corrida e, no final de tantas voltas, ganhar.
Schumacher é um desses pilotos,
por mais que boa parte do mundo
o deteste e contabilize contra ele
privilégios, facilidades, trapaças
e, uma vez mais, a complacência
do companheiro de equipe -
"conveniente", de acordo com
suas próprias palavras.
Schumacher é um desses pilotos
porque recebe uma missão nos
boxes e a cumpre como se fosse
um soldado, um exterminador,
que sai do carro como entrou,
sem um pingo de suor, inumano.
Uma terrível qualidade, que varre o livro de recordes como um vírus de computador e afasta o alemão dos outros heróis do esporte.
Falta a Schumacher exatamente esse contorno, o de herói. Se um
dia fizerem um filme sobre sua
carreira, o roteirista terá que fantasiar sua trajetória, já que não
haverá enredo que comporte tanta explicação técnica, único modo
de torná-lo raro, incomum. Hoje,
não há quem dê a velha medida,
o que ele faz outros não fazem.
O que Schumacher faz na pista
beira o impossível. Mas, no lugar
de apreciar o show, acabamos por
considerá-lo patético. O alemão
evolui na pista como uma escola
de samba, o desafio está nele mesmo. Não são poucas as dificuldades, mas, como o alemão as despreza olimpicamente, resta ao
público a sensação de desfile.
Fica mais fácil então desqualificar a F-1. Sobram recursos. Schumacher, excelente piloto, é definitivamente um chato, as regras estão cada vez mais burras com o
desespero da FIA, a tecnologia galopa, crise, adversários, falta de
adversários. É só escolher.
Em igual medida, partimos para as soluções. Quebrem outra
perna do alemão, mudem o treino oficial, desembarquem a tecnologia, acabem com os testes,
deixem Barrichello correr!
Esta última, diante da quase
impossibilidade das demais, parece mais viável. Ecclestone foi o
primeiro a pedir. O último, antes
do Canadá, foi Frank Williams.
Animado com esse papel de salvador da pátria, tão comum a ele
por aqui, Barrichello se animou e
resolveu cutucar o companheiro
no meio da corrida de Montréal.
Acelerou, mostrou o carro, retrocedeu. Nunca saberemos o que
aconteceu, se foi incapaz de rasgar seu contrato ou, mais prosaico, de ultrapassar o campeão.
O piloto brasileiro, em sua lógica peculiar, disse que tentou fazer
a ultrapassagem, que foi o primeiro companheiro do alemão a
fazer isso e que devia se sentir orgulhoso por isso. Um leitor da coluna, antes de Barrichello proferir
tamanha barbaridade, gastou
várias linhas para explicar que
passou do "orgulho à vergonha"
no instante daquele manobra.
Manobra que, se feita para valer, a despeito do resultado, poderia mudar o campeonato, a F-1, a
vida de Barrichello e, quem sabe,
a de Schumacher. Pois, se é verdade que desperdiçamos Schumacher, seria bom não ter que esperar pelo filme para entender isso.
O erro da Toyota
E não é que a equipe japonesa cometeu mesmo a insanidade de contratar Ralf? Se a notícia é ruim para Cristiano da Matta, ela pode ser
boa para outro brasileiro, Ricardo Zonta. Em Indianápolis, dizem
que o atual piloto de testes já assinou para ser titular em 2005.
O erro da Williams
Mal contada essa história do duto de ar nos freios da Williams. Diferentemente da Toyota, que extrapolou seu dispositivo em 2 mm (para a equipe, dentro da tolerância de fabricação), o time inglês errou
por 30 mm. Há quem acredite em uma conspiração interna contra o
novato Sam Michael, que acabou de assumir o posto de diretor técnico que era de Patrick Head. É mais fácil acreditar que a Williams, assim como a McLaren, desce a ladeira. Não vai ser fácil voltar a subir.
E-mail mariante@uol.com.br
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