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FUTEBOL
Ótimo e seguro emprego
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Como toda imprensa brasileira e mundial, estranhei a
noticia de que o ex-craque e atual
técnico da Alemanha, Jürgen
Klinsmann, mora nos Estados
Unidos. Depois lembrei que quase
todos os jogadores brasileiros
atuam na Europa e que o Parreira reside no Brasil. Seria tão diferente?
Assim como Klinsmann deve
assistir pela TV aos jogos da Alemanha e de toda a Europa, Parreira vê os atletas brasileiros pela
televisão. Os dois possuem ainda
observadores, olheiros.
Uma vez ou outra, Klinsmann e
Parreira vão à Europa para ver
nos estádios as partidas, conversam com os jogadores, dão entrevistas e desfrutam das mordomias de técnicos de duas grandes
seleções.
A diferença é que o Parreira, se
quiser, pode ir todo dia ou uma
vez por semana à CBF, onde encontra os companheiros, fala de
futebol, toma um cafezinho e conta como gasta e ou aplica o seu altíssimo salário. Aproveita para
dar serviços às secretárias.
Por outro lado, Klinsmann, por
morar em outro país onde se valoriza pouco o futebol, tem mais
tranqüilidade e é menos assediado por imprensa e torcedores.
Todos os técnicos de seleções reclamam da falta do trabalho diário. Como dizem que os jogadores
perdem o tempo da bola quando
ficam sem jogar, será que os técnicos perdem o tempo de comandar
e de treinar a equipe?
Mas, se os treinadores de seleção não fossem exclusivos, teriam
piores problemas. Não fica bem
para treinador de um país ser
chamado de burro e ser dispensado pelo clube. Outra vantagem é
ter um mês para pensar no que
aconteceu no jogo anterior e no
próximo adversário. Mesmo assim, alguns são surpreendidos.
O emprego de técnico mais seguro do mundo é o da seleção
brasileira. O time joga uma vez
por mês e ganha quase todas as
partidas. Todos os treinadores
possuem ótimos resultados estatísticos. Raramente há seguidas
derrotas e perda de um título importante. Como a Copa acontece
de quatro em quatro anos, existe
sempre a justificativa nas derrotas de que no Mundial será diferente.
Para ser técnico de uma grande
seleção, não basta ser um ótimo
estrategista. Isso é menos importante. É preciso ter outras qualidades ou características, como ter
um bom jogo de cintura. Até o Felipão se adaptou bem a essa situação. Não é fácil conviver com os
interesses econômicos e políticos
da CBF, dos clubes e com as críticas de torcedores e da crônica esportiva independente. Às vezes,
somos injustos e intolerantes.
Apesar da responsabilidade,
aborrecimentos e dos cabelos
brancos que os técnicos passam a
ter, todos sonham em comandar
a seleção brasileira.
Novo posicionamento
Teoricamente, o México seria
um adversário mais fácil do que a
Grécia, pois teria uma defesa
mais frágil. Porém, tenho mais receio de seleções que atacam e possuem bons jogadores, como a do
México, do que as que só defendem, como a da Grécia.
Kaká, pela direita, e Ronaldinho, pela esquerda, atuaram
mais fixos contra a Grécia. O time
ficou mais bem distribuído e
equilibrado, melhor na marcação
e menos embolado pelo meio. Robinho teve mais espaços pelo meio
para receber a bola. Já Kaká e
Ronaldinho ficaram mais longe
do gol. Quando se tem muitos
craques, não dá para todos jogarem como nos seus clubes. Na seleção, Ronaldinho e Kaká terão
de se adaptar a uma formação diferente.
Na Copa-94, Zinho e Raí jogaram mais recuados, um de cada
lado e prejudicaram as suas atuações. Raí era um meia-atacante
no São Paulo. Na época, Zinho reclamou que não podia sair do seu
lado. Mas foi bom para o time.
Kaká e Ronaldinho não precisam também jogar tão fixos, sem
perder a referência de posicionamento. Não deve haver problemas, pois Parreira evoluiu.
Na Copa de 70, eu, Rivellino e
Piazza nos adaptamos a uma posição diferente da que jogávamos
nos clubes. Isso foi bom para a
equipe.
Zagallo, após dizer que eu seria
reserva do Pelé porque tínhamos
a mesma característica e de experimentar os centroavantes Dario
e Roberto, me perguntou uns 15
dias antes da Copa: "Dá para jogar de centroavante sem recuar
tanto?" Respondi: "Sim, vou
atuar de pivô, como Evaldo no
Cruzeiro. Não fui armador nem
um típico centroavante. Fui um
centroavante armador".
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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