São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Ninguém fica indiferente diante do Palmeiras

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

É impressionante como a paixão clubística cega. Nas últimas semanas, na reta final de Libertadores, Copa do Brasil e Paulistão, foi grande o número de leitores que se manifestaram sobre o Palmeiras: uns apaixonadamente contra, outros apaixonadamente a favor.
Às vezes, um mesmo texto escrito aqui era atacado por uns como pró-Palmeiras e por outros como anti-Palmeiras.
Não era para menos: assim como o Corinthians, o Palmeiras é um time altamente passional, diante do qual é impossível ficar indiferente.
É só lembrar o que ocorreu na quarta-feira, contra o Deportivo Cali. A cada revés alviverde (o gol do rival, o pênalti perdido por Zinho), espocavam no céu de São Paulo quase tantos fogos quanto nos gols palmeirenses. Duvido que haja tantos colombianos na cidade.
Para não fugir da raia, expresso aqui minha opinião: o Palmeiras é hoje o time mais forte do Brasil -e o seria mesmo se tivesse perdido nos pênaltis para o Deportivo Cali.
No ano passado, quando conquistou a Copa do Brasil e a Copa Mercosul, o time de Scolari já era competitivo, mas jogava um futebol sem brilho e que dependia exclusivamente de contra-ataques ou jogadas aéreas com bola parada.
A volta de César Sampaio, a ascensão de Alex, o reforço de reservas de luxo, como Evair, Jackson e Euller, além do entrosamento natural dos jogadores (reforçado, imagino, pela orientação de Felipão), tornaram o Palmeiras um time muito mais completo, capaz de jogar um futebol empolgante e de surpreender o adversário com lances mais variados.
Além das jogadas aéreas -que continuam sendo mortais-, o Palmeiras aprendeu a tabelar, a triangular, a usar seus atacantes como pivôs. Tudo isso graças à competência de jogadores como Alex, Zinho, Júnior e Paulo Nunes.
Enfim, tornou-se uma equipe aguerrida e de alta qualidade técnica, algo que o Corinthians só tem conseguido ser de maneira intermitente, talvez por não contar (ainda) com um elenco de reservas à altura nem com uma estrutura extracampo tão eficiente.

  A decisão de amanhã, entre Corinthians e Palmeiras, tem um sabor estranho. Estarão os palmeirenses, após a heróica jornada de quarta, dispostos a se matar em campo para reverter a enorme vantagem do rival e conquistar um título de menor importância relativa?
Não dá para saber. Quando acabou o jogo contra o Deportivo, uns (como Alex) só pensavam no Corinthians; outros (como Paulo Nunes) tinham os olhos voltados para Tóquio.
Se depender das torcidas e se a rivalidade ganhar o primeiro plano, vai ser um jogão.
  Virou moda dizer que ""pênalti não é loteria, é competência". Não é bem assim. Se fosse, Euller seria melhor do que Zinho, porque fez o seu, e Zinho perdeu. Os nervos e o acaso também pesam, e muito.
O pênalti, em última instância, é uma disputa técnica, mas também psicológica, entre o batedor e o goleiro.
Para que a competência triunfe, é preciso ter ""pé-quente e cabeça fria", como diz a música de Gilberto Gil.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às segundas-feirase aos sábados

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