São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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FUTEBOL

São Caetano, velai por nós

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caetano de Tiene nasceu na cidade de Veneza, num ignorado dia do ano de 1480, 20 anos antes de o Brasil ter aparecido no caminho de Pedro Álvares Cabral (ou vice-versa). Depois de formar-se em direito (Caetano, não Cabral), resolveu abraçar a vida religiosa nos dias do Papa Júlio 2º, demonstrando, desde cedo, zelo e fervor apostólico admiráveis.
Sempre pregando o Evangelho no norte da Itália, o jovem clérigo ganhou o apelido de "Caçador de Almas", tal o empenho e a determinação com que buscava novas ovelhas para o rebanho do Senhor. Um tanto mais idoso, Caetano fundou, com Gian Pietro Caraffa, a Ordem dos Teatinos Regulares (originários de Teate, cidade italiana).
A fim de combater a decadência moral da igreja, essa congregação procurou difundir um valor bastante raro no cristianismo de nossos dias: a opção pela pobreza.
Esses teatinos tinham o curioso costume de viver de esmolas, sem, no entanto, jamais pedi-las. Não sei se isso funcionava muito bem, mas acho que não, pois, quatro anos depois de fundada, a ordem tinha apenas 12 membros.
De qualquer forma, eles se mantiveram atuantes e desempenharam um importante papel na regeneração dos costumes do clero italiano, principalmente quando Gian Pietro Caraffa tornou-se o Papa Paulo 4º.
São Caetano deixou esse mundo de pecados em 1547, quando vivia na cidade de Nápoles.
Já outro São Caetano, o clube, veio à luz bem depois: no ano de 1989, na próspera cidade de São Caetano do Sul, que, aliás, foi assim batizada por causa do santo veneziano.
Aliás, o santo e o clube têm outras coincidências além do nome. Como seu homônimo, o time nasceu num ambiente próspero e que lhe permitiu desenvolver sua vocação. Também seguindo os passos do homem de Deus, a equipe desprezou a riqueza das grandes contratações, optando por recauchutar jogadores esquecidos, como Adãozinho, Aílton, Somália, Marcos Senna, Rubens Cardoso e Daniel, todos com passagens não muito brilhantes por seus clubes anteriores. Isso sem falar nos exemplos de Adhemar, Claudecir e César, jogadores que parecem só brilhar com a camisa do Azulão.
E, assim como o santo passou por provações, o clube também enfrenta um duro teste: a sina de ser vice. Tal qual Caetano de Tiene foi um "Caçador de Almas", o time é um "Caçador de Taças".
Poderíamos citar, em honra à exatidão, os títulos das divisões inferiores e os dois vice-campeonatos brasileiros, mas títulos de divisões inferiores são inferiores e quase-títulos não são títulos. O fato é que o clube precisa dessa distinção para ser um capítulo, e não um rodapé, da história do futebol brasileiro.
Essa chance aparece agora, e em grande estilo, com a possibilidade de o Azulão levar para o ABC a Libertadores da América.
Para ficar restrito ao âmbito dos grandes paulistas, esse é um título que o Palmeiras só foi alcançar aos 85 anos de vida e que o Corinthians e a Lusa ainda não conquistaram.
Enfim, irmãos, não sabemos o que o céu nos reserva para essas duas partidas (que prometem ser equilibradas como as lutas entre israelitas e filisteus), mas rogo à providência divina que o São Caetano, com as bençãos de São Caetano, finalmente saia do purgatório e alcance o paraíso, deixando todos em estado de graça.
Amém.

Ubiratan
Eu tinha a idade do meu sobrinho Lelê quando comecei a gostar de basquete. Os jogadores dos quais me lembro são Carioquinha, Marquinhos, Oscar, Marcel e Ubiratan. Não sei o porquê, mas eu tinha uma simpatia especial por Ubiratan. Talvez fosse por seu nome diferente, talvez por sua calvície, ou talvez porque ele fosse um desses caras que dá tudo de si até o último segundo. Quando estava em quadra, ele passava a impressão de que não queria fazer outra coisa na vida. Não é à toa que só parou de jogar profissionalmente quando tinha 40 anos. E, mesmo depois de se aposentar, continuou jogando como amador. Aliás, segundo meu velho dicionário, a palavra amador não é só o oposto de profissional. Significa também aquele que ama, apreciador, entusiasta. Ubiratan foi um grande amador do basquete, até o último segundo.

E-mail torero@uol.com.br



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