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FUTEBOL
São Caetano, velai por nós
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Caetano de Tiene nasceu na
cidade de Veneza, num ignorado dia do ano de 1480, 20 anos
antes de o Brasil ter aparecido no
caminho de Pedro Álvares Cabral
(ou vice-versa). Depois de formar-se em direito (Caetano, não Cabral), resolveu abraçar a vida religiosa nos dias do Papa Júlio 2º,
demonstrando, desde cedo, zelo e
fervor apostólico admiráveis.
Sempre pregando o Evangelho
no norte da Itália, o jovem clérigo
ganhou o apelido de "Caçador de
Almas", tal o empenho e a determinação com que buscava novas
ovelhas para o rebanho do Senhor. Um tanto mais idoso, Caetano fundou, com Gian Pietro Caraffa, a Ordem dos Teatinos
Regulares (originários de Teate,
cidade italiana).
A fim de combater a decadência
moral da igreja, essa congregação
procurou difundir um valor bastante raro no cristianismo de nossos dias: a opção pela pobreza.
Esses teatinos tinham o curioso
costume de viver de esmolas, sem,
no entanto, jamais pedi-las. Não
sei se isso funcionava muito bem,
mas acho que não, pois, quatro
anos depois de fundada, a ordem
tinha apenas 12 membros.
De qualquer forma, eles se mantiveram atuantes e desempenharam um importante papel na regeneração dos costumes do clero
italiano, principalmente quando
Gian Pietro Caraffa tornou-se o
Papa Paulo 4º.
São Caetano deixou esse mundo de pecados em 1547, quando
vivia na cidade de Nápoles.
Já outro São Caetano, o clube,
veio à luz bem depois: no ano de
1989, na próspera cidade de São
Caetano do Sul, que, aliás, foi assim batizada por causa do santo
veneziano.
Aliás, o santo e o clube têm outras coincidências além do nome.
Como seu homônimo, o time nasceu num ambiente próspero e que
lhe permitiu desenvolver sua vocação. Também seguindo os passos do homem de Deus, a equipe
desprezou a riqueza das grandes
contratações, optando por recauchutar jogadores esquecidos, como Adãozinho, Aílton, Somália,
Marcos Senna, Rubens Cardoso e
Daniel, todos com passagens não
muito brilhantes por seus clubes
anteriores. Isso sem falar nos
exemplos de Adhemar, Claudecir
e César, jogadores que parecem só
brilhar com a camisa do Azulão.
E, assim como o santo passou
por provações, o clube também
enfrenta um duro teste: a sina de
ser vice. Tal qual Caetano de Tiene foi um "Caçador de Almas", o
time é um "Caçador de Taças".
Poderíamos citar, em honra à
exatidão, os títulos das divisões
inferiores e os dois vice-campeonatos brasileiros, mas títulos de
divisões inferiores são inferiores e
quase-títulos não são títulos. O
fato é que o clube precisa dessa
distinção para ser um capítulo, e
não um rodapé, da história do futebol brasileiro.
Essa chance aparece agora, e
em grande estilo, com a possibilidade de o Azulão levar para o
ABC a Libertadores da América.
Para ficar restrito ao âmbito
dos grandes paulistas, esse é um
título que o Palmeiras só foi alcançar aos 85 anos de vida e que o
Corinthians e a Lusa ainda não
conquistaram.
Enfim, irmãos, não sabemos o
que o céu nos reserva para essas
duas partidas (que prometem ser
equilibradas como as lutas entre
israelitas e filisteus), mas rogo à
providência divina que o São
Caetano, com as bençãos de São
Caetano, finalmente saia do purgatório e alcance o paraíso, deixando todos em estado de graça.
Amém.
Ubiratan
Eu tinha a idade do meu sobrinho Lelê quando comecei
a gostar de basquete. Os jogadores dos quais me lembro
são Carioquinha, Marquinhos, Oscar, Marcel e Ubiratan. Não sei o porquê, mas eu
tinha uma simpatia especial
por Ubiratan. Talvez fosse
por seu nome diferente, talvez por sua calvície, ou talvez
porque ele fosse um desses
caras que dá tudo de si até o
último segundo. Quando estava em quadra, ele passava a
impressão de que não queria
fazer outra coisa na vida. Não
é à toa que só parou de jogar
profissionalmente quando tinha 40 anos. E, mesmo depois de se aposentar, continuou jogando como amador.
Aliás, segundo meu velho dicionário, a palavra amador
não é só o oposto de profissional. Significa também
aquele que ama, apreciador,
entusiasta. Ubiratan foi um
grande amador do basquete,
até o último segundo.
E-mail torero@uol.com.br
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