|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Sem estrela
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Barrichello está fora da
Ferrari. A resposta de Schumacher ontem confirmou que a
escuderia desistiu de seu segundo
piloto. O alemão manda, o alemão fala. A não-renovação foi
um sinal. O brasileiro não captou
ou não quis reagir à ameaça.
Como o tradicional processo de
fritura ferrarista já foi abordado
pela coluna há algumas semanas,
mais conveniente agora é se debruçar sobre o futuro da F-1 no
país. Continuaremos a ter dois ou
três bons pilotos (mesmo defenestrado, Barrichello pode conseguir
outro posto), a ter o GP Brasil (pelo menos até 2005 e muito provavelmente além disso), a ter cobertura ao vivo da TV aberta. Não
teremos, no entanto, estrela.
Barrichello, primeiro brasileiro
a ser piloto Ferrari de verdade,
talvez não possa ser considerado
exatamente uma estrela. Mas ele
é a desculpa. É ele que, quando à
frente, faz a audiência crescer. E é
essa possibilidade que avaliza as
cotas de publicidade, os contratos
de patrocínio, o investimento.
Em outras palavras, Barrichello
não é a estrela, mas está estrela ou
faz as vezes de. Fosse uma, como
Piquet e Senna, o ciclo econômico
que nos acorda a cada dois domingos começaria nele. Na verdade, apenas desemboca nele.
É exatamente por isso que
quem investe em F-1 no Brasil
não está tão preocupado com
Barrichello. Boa parte dos recursos são provenientes de empresas
com estratégias globais -investem aqui como em qualquer lugar do mundo. Assim, a posição
na corrida ou no campeonato
não é mais um dado capital. Se
ele for bem, que bacana. Se ele
não for, não interessa, haverá outro ponto do planeta onde as
marcas merecerão destaque. A vitória de Barrichello parecer ser
um bônus, nunca um prêmio.
Seria possível então concluir
que sua saída da Ferrari não vai
afetar a F-1 no Brasil? Não teria
tanta certeza. Se não move, Barrichello justifica. Pior, em tempos
de crise, justificar qualquer coisa
é tarefa das mais difíceis, pois
normalmente se contesta a maior
das justificativas: a própria crise.
Aprecie-se ou não, é o rosto de
Barrichello que aparece nas chamadas para as corridas, seus comentários é que são reproduzidos
nos telejornais. E, se a TV não
consegue abrir mão de sua figura,
mesmo que seja para preencher
espaço, isso significa que o sujeito
tem lá alguma importância.
Muitos acreditavam que a F-1,
sem genuínas estrelas, não sobreviveria no país após a morte de
Senna. Estavam enganados. Com
outro tratamento e novas cifras, a
coisa andou, aos trancos e barrancos e mais organizadamente
após a chegada de Barrichello na
Ferrari. Os responsáveis pela categoria então têm motivos para
acreditar que, mais uma vez, o
sistema sustentará o negócio até
que surja um novo prodígio das
pistas? Ou uma nova desculpa?
De novo, não teria tanta certeza. Barrichello na Ferrari foi um
fato marcante para a F-1 no Brasil, e a oportunidade, mesmo que
remota, de voltar a ter um piloto
vencedor, um campeão, alimentou o público, que é quem usa o
implacável controle remoto.
Barrichello fora da Ferrari não
é o fim. Também não é começo.
Outros tempos
Há exatos 20 anos, Senna fazia seu primeiro teste com um F-1.
Interlagos
A edição de 2004 dança conforme a música. Depois de ir para o final
do ano, para o meio e voltar para o tradicional abril, os organizadores
agora afirmam que a corrida será mesmo perto da conclusão do
campeonato, em outubro. Tantas mudanças têm explicação: por
causa do cigarro, várias corridas européias estão sob ameaça.
Jacarepaguá
Ecclestone teve um encontro com Cesar Maia não para falar de F-1,
mas sobre o autódromo carioca. O chefão está preocupado com o tal
projeto olímpico. Acha (como todo mundo) que não vai dar certo.
E-mail mariante@uol.com.br
Texto Anterior: Apoio Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Os "bad boys" e os velhos safados Índice
|