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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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MOTOR

Sem estrela

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Barrichello está fora da Ferrari. A resposta de Schumacher ontem confirmou que a escuderia desistiu de seu segundo piloto. O alemão manda, o alemão fala. A não-renovação foi um sinal. O brasileiro não captou ou não quis reagir à ameaça.
Como o tradicional processo de fritura ferrarista já foi abordado pela coluna há algumas semanas, mais conveniente agora é se debruçar sobre o futuro da F-1 no país. Continuaremos a ter dois ou três bons pilotos (mesmo defenestrado, Barrichello pode conseguir outro posto), a ter o GP Brasil (pelo menos até 2005 e muito provavelmente além disso), a ter cobertura ao vivo da TV aberta. Não teremos, no entanto, estrela.
Barrichello, primeiro brasileiro a ser piloto Ferrari de verdade, talvez não possa ser considerado exatamente uma estrela. Mas ele é a desculpa. É ele que, quando à frente, faz a audiência crescer. E é essa possibilidade que avaliza as cotas de publicidade, os contratos de patrocínio, o investimento.
Em outras palavras, Barrichello não é a estrela, mas está estrela ou faz as vezes de. Fosse uma, como Piquet e Senna, o ciclo econômico que nos acorda a cada dois domingos começaria nele. Na verdade, apenas desemboca nele.
É exatamente por isso que quem investe em F-1 no Brasil não está tão preocupado com Barrichello. Boa parte dos recursos são provenientes de empresas com estratégias globais -investem aqui como em qualquer lugar do mundo. Assim, a posição na corrida ou no campeonato não é mais um dado capital. Se ele for bem, que bacana. Se ele não for, não interessa, haverá outro ponto do planeta onde as marcas merecerão destaque. A vitória de Barrichello parecer ser um bônus, nunca um prêmio.
Seria possível então concluir que sua saída da Ferrari não vai afetar a F-1 no Brasil? Não teria tanta certeza. Se não move, Barrichello justifica. Pior, em tempos de crise, justificar qualquer coisa é tarefa das mais difíceis, pois normalmente se contesta a maior das justificativas: a própria crise.
Aprecie-se ou não, é o rosto de Barrichello que aparece nas chamadas para as corridas, seus comentários é que são reproduzidos nos telejornais. E, se a TV não consegue abrir mão de sua figura, mesmo que seja para preencher espaço, isso significa que o sujeito tem lá alguma importância.
Muitos acreditavam que a F-1, sem genuínas estrelas, não sobreviveria no país após a morte de Senna. Estavam enganados. Com outro tratamento e novas cifras, a coisa andou, aos trancos e barrancos e mais organizadamente após a chegada de Barrichello na Ferrari. Os responsáveis pela categoria então têm motivos para acreditar que, mais uma vez, o sistema sustentará o negócio até que surja um novo prodígio das pistas? Ou uma nova desculpa?
De novo, não teria tanta certeza. Barrichello na Ferrari foi um fato marcante para a F-1 no Brasil, e a oportunidade, mesmo que remota, de voltar a ter um piloto vencedor, um campeão, alimentou o público, que é quem usa o implacável controle remoto.
Barrichello fora da Ferrari não é o fim. Também não é começo.

Outros tempos
Há exatos 20 anos, Senna fazia seu primeiro teste com um F-1.

Interlagos
A edição de 2004 dança conforme a música. Depois de ir para o final do ano, para o meio e voltar para o tradicional abril, os organizadores agora afirmam que a corrida será mesmo perto da conclusão do campeonato, em outubro. Tantas mudanças têm explicação: por causa do cigarro, várias corridas européias estão sob ameaça.

Jacarepaguá
Ecclestone teve um encontro com Cesar Maia não para falar de F-1, mas sobre o autódromo carioca. O chefão está preocupado com o tal projeto olímpico. Acha (como todo mundo) que não vai dar certo.

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