|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Os "bad boys" e os velhos safados
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O assunto da semana foi a
crise do futebol carioca. Os
três clubes do Rio que disputam a
Série A do Brasileiro vivem um
momento terrível. Todos eles trocaram de técnico nos últimos dez
dias, todos estão mal na tabela de
classificação, todos tiveram seus
elencos desfigurados. E todos sofreram sonoras derrotas na última quarta-feira.
A edição de ontem deste caderno trouxe uma reportagem interessante de Paulo Cobos e Marcelo Sakate, mostrando outro ponto
em comum entre os três clubes em
crise: a presença de "bad boys" veteranos, como Romário, Edmundo, Marcelinho e Edílson.
A matéria enseja inúmeras
questões. Será que o "estilo malandro" está no fim, tendo sido
suplantado por um modo de conduta mais comportado e, digamos, "profissional" (leia-se muito
treino e pouca farra)?
Ou o problema é que os referidos jogadores já não são mais
"boys" (se é que são mesmo
"bad", como diz o rótulo)?
É preciso evitar as conclusões
precipitadas. O fato de ter um
comportamento polêmico nunca
impediu os astros citados de serem excelentes jogadores.
Por outro lado, a idade em si
também não é um problema. Aos
36 anos, Zinho está dando uma
bela contribuição ao time do Cruzeiro. Na goleada de quarta-feira
sobre o Vasco, dois dos gols saíram de preciosos passes seus.
Talvez então o perigo esteja na
mistura das duas coisas: a indisciplina e a idade.
Pode ser. Mas prefiro pensar
que a questão central não são os
jogadores propriamente ditos,
mas a maneira como eles são utilizados pelos clubes.
Comprados e vendidos sem critério visível, juntados uns aos outros à revelia dos treinadores, exibidos à torcida como salvadores
da pátria, "recuperados" às pressas por departamentos médicos
sob a pressão dos cartolas, esses
jogadores têm seu talento desperdiçado, mal dirigido, espoliado.
Veja-se o caso do Vasco, sempre
em busca de nomes de impacto.
Desde o início do ano, sua torcida
assistiu a um entra-e-sai de astros: Petkovic, Marques, Marcelinho, Edmundo, Donizete, Beto.
Falou-se também em Djalminha.
Para quê? Para ser mais um a ficar feito barata tonta diante de
um rival organizado, como ocorreu na derrota para o Cruzeiro?
A situação do Flamengo e do
Fluminense não é muito diferente, mas a humilhação sofrida pelo
Vasco no Mineirão foi emblemática. Enquanto o Cruzeiro rolava
a bola de pé em pé com eficiência
e entrosamento, os astros vascaínos brigavam entre si e mal viam
a cor da redonda.
Talvez o problema não esteja
nos "bad boys", mas nos "bad old
men" que querem usá-los para
auferir suspeitos dividendos (políticos ou financeiros).
Leio no site VascãoNet que a
grande maioria da torcida vascaína repudia Eurico Miranda e
quer o ex-jogador Roberto Dinamite na presidência do clube. Demoraram para acordar. Mas antes tarde do que nunca. Que a
atual crise sirva, e não só no Vasco, para uma varredura geral.
Batismo de fogo
Betão, Bobô, Abuda, Marcos
Vinícius. Novos nomes, novas
caras com a camisa do Corinthians. É sempre bom renovar,
mas não é na melhor das situações que os garotos chegam ao
time profissional. Serão, a bem
dizer, jogados na arena dos
leões. Se sobreviverem, poderão ter uma bela carreira. E os
dirigentes ainda vão faturar em
cima, dizendo que foram eles
que descobriram e lançaram os
novos talentos. Quer apostar?
Estrela solitária
Já que falei dos clubes cariocas
em crise na Série A, cabe louvar
a excelente campanha do Botafogo na Segundona. Fora do
campo, o clube da estrela solitária passa por um processo de
reorganização e saneamento.
Talvez não seja uma mera coincidência.
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Sem estrela Próximo Texto: Futebol: Seleção confia em ataque sem pontaria Índice
|