UOL


São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Os "bad boys" e os velhos safados

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O assunto da semana foi a crise do futebol carioca. Os três clubes do Rio que disputam a Série A do Brasileiro vivem um momento terrível. Todos eles trocaram de técnico nos últimos dez dias, todos estão mal na tabela de classificação, todos tiveram seus elencos desfigurados. E todos sofreram sonoras derrotas na última quarta-feira.
A edição de ontem deste caderno trouxe uma reportagem interessante de Paulo Cobos e Marcelo Sakate, mostrando outro ponto em comum entre os três clubes em crise: a presença de "bad boys" veteranos, como Romário, Edmundo, Marcelinho e Edílson.
A matéria enseja inúmeras questões. Será que o "estilo malandro" está no fim, tendo sido suplantado por um modo de conduta mais comportado e, digamos, "profissional" (leia-se muito treino e pouca farra)?
Ou o problema é que os referidos jogadores já não são mais "boys" (se é que são mesmo "bad", como diz o rótulo)?
É preciso evitar as conclusões precipitadas. O fato de ter um comportamento polêmico nunca impediu os astros citados de serem excelentes jogadores.
Por outro lado, a idade em si também não é um problema. Aos 36 anos, Zinho está dando uma bela contribuição ao time do Cruzeiro. Na goleada de quarta-feira sobre o Vasco, dois dos gols saíram de preciosos passes seus.
Talvez então o perigo esteja na mistura das duas coisas: a indisciplina e a idade.
Pode ser. Mas prefiro pensar que a questão central não são os jogadores propriamente ditos, mas a maneira como eles são utilizados pelos clubes.
Comprados e vendidos sem critério visível, juntados uns aos outros à revelia dos treinadores, exibidos à torcida como salvadores da pátria, "recuperados" às pressas por departamentos médicos sob a pressão dos cartolas, esses jogadores têm seu talento desperdiçado, mal dirigido, espoliado.
Veja-se o caso do Vasco, sempre em busca de nomes de impacto. Desde o início do ano, sua torcida assistiu a um entra-e-sai de astros: Petkovic, Marques, Marcelinho, Edmundo, Donizete, Beto. Falou-se também em Djalminha. Para quê? Para ser mais um a ficar feito barata tonta diante de um rival organizado, como ocorreu na derrota para o Cruzeiro?
A situação do Flamengo e do Fluminense não é muito diferente, mas a humilhação sofrida pelo Vasco no Mineirão foi emblemática. Enquanto o Cruzeiro rolava a bola de pé em pé com eficiência e entrosamento, os astros vascaínos brigavam entre si e mal viam a cor da redonda.
Talvez o problema não esteja nos "bad boys", mas nos "bad old men" que querem usá-los para auferir suspeitos dividendos (políticos ou financeiros).
Leio no site VascãoNet que a grande maioria da torcida vascaína repudia Eurico Miranda e quer o ex-jogador Roberto Dinamite na presidência do clube. Demoraram para acordar. Mas antes tarde do que nunca. Que a atual crise sirva, e não só no Vasco, para uma varredura geral.

Batismo de fogo
Betão, Bobô, Abuda, Marcos Vinícius. Novos nomes, novas caras com a camisa do Corinthians. É sempre bom renovar, mas não é na melhor das situações que os garotos chegam ao time profissional. Serão, a bem dizer, jogados na arena dos leões. Se sobreviverem, poderão ter uma bela carreira. E os dirigentes ainda vão faturar em cima, dizendo que foram eles que descobriram e lançaram os novos talentos. Quer apostar?

Estrela solitária
Já que falei dos clubes cariocas em crise na Série A, cabe louvar a excelente campanha do Botafogo na Segundona. Fora do campo, o clube da estrela solitária passa por um processo de reorganização e saneamento. Talvez não seja uma mera coincidência.

E-mail jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Sem estrela
Próximo Texto: Futebol: Seleção confia em ataque sem pontaria
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.