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FUTEBOL
A chatice das enquetes
JÚLIO VERÍSSIMO
EDITOR-ADJUNTO DE BRASIL
Já não se assiste mais a uma
partida de futebol pela TV como antigamente. Acabou aquele
tempo em que você, no domingo
ou no sábado, se refestelava na
poltrona e acompanhava o jogo
de seu time -ou de outra equipe
qualquer- sem interferências
chatas e desnecessárias, que impedem até a visualização de um
lance mais emocionante na tela.
Se o jogo estivesse abaixo da crítica então, mais um motivo para
assisti-lo. Ou melhor, ouvi-lo.
Sim, pois bastava baixar o volume, virar para o lado e tirar aquele cochilo, que só era interrompido com o grito de gol do narrador.
Melhor sonífero, impossível.
Quanto aos comentaristas, tanto
faz como tanto fez. Ex-juízes e ex-jogadores renomados desfiando
um rol de achismo sem fim.
Basta lembrar da última Copa.
No intervalo do segundo jogo
contra a Turquia, Casagrande
defendeu a saída de Ronaldo do
time. O resto da história todo
mundo conhece.
Mas, de uns tempos pra cá, tudo
mudou. Os sábios da bola já não
reinam sozinhos. Infelizmente, a
internet invadiu a tela da TV e
passou a dividir o precioso tempo
com os melhores momentos e os
lances mais polêmicos.
Refiro-me à chatice das enquetes interativas. Aquelas em que o
narrador lança uma pergunta no
ar e, num esforço monumental,
pede aos telespectadores que respondam. Tudo em nome da interação, pois, além do monopólio
na transmissão da maioria dos
eventos esportivos, sobretudo futebol, a principal emissora do país
quer "conversar" com o torcedor.
E tome mais e mais perguntas.
Todas dotadas de uma profundidade que só o futebol pode gerar.
Imagine, por exemplo, uma partida entre Palmeiras e Gama. Lá
pelas tantas, eis que surge a oportunidade de ouro. E o narrador
lança a pergunta: Na sua opinião,
qual dos grandes paulistas deve
chegar à fase final do Brasileiro?
Bem, partindo do pressuposto
de que boa parte da audiência é
de palmeirenses e, claro, a outra
parcela é de corintianos torcendo
contra, bingo!, deu Palmeiras na
cabeça. Nem sequer informam
quantas pessoas acessaram o tal
site interativo.
Só que o pior está por vir. Afinal, é preciso orientar o internauta sobre como ele pode acessar o
site da emissora. Pronto. Eis que
surge na tela, em cores berrantes,
uma faixa que cobre boa parte do
jogo, com o famoso www...e assim
por diante.com.br (sem acento,
não esqueça!).
E tome perguntas, as mais estapafúrdias possíveis, com o objetivo de "enriquecer" a cultura futebolística. Entretanto, como não
sou saudosista, rendo-me aos
tempos modernos e relaciono
abaixo algumas perguntas a título de modesta contribuição:
1) Dos 22 jogadores em campo,
quantos você acha que têm outra
camiseta por baixo do uniforme,
com frases originais, como "Deus
é amor", "Cristo é o caminho",
"Fulana, te amo" (serve tanto para mulher quanto para filhos),
"100% Paraíba, Minas, Alagoas"
e, pasme, "Jardim Irene"?
2) Você acha que técnico de futebol deve ou não ser chamado de
"professor" por seus jogadores?
3) Quantas vezes Arnaldo César
Coelho disse "A regra é clara" em
uma partida de futebol?
4) Quantas vezes você já ouviu
"O que importa são os três pontos
e ajudar o time a conquistar seu
objetivo"?"
5) Quantos leitores chegaram
até o fim dessa chatice? Obrigado!
Hoje, excepcionalmente, José Geraldo
Couto não escreve nesta coluna
A chance perdida
O Palmeiras perdeu a chance
de ouro de acabar com uma
das maiores dúvidas do futebol brasileiro. Afinal, Candinho seria ou não um bom
treinador para o clube? Sai
técnico, entra técnico, sempre se ouve a mesma coisa.
Candinho é o técnico dos sonhos do presidente palmeirense. Agora, outra oportunidade foi desperdiçada. Veio o
Murtosa, clone do Scolari.
Mas logo vai passar a ser tratado de "Felipinho". O jeito é
esperar mais uma temporada.
Compensação
A seleção de vôlei perdeu o título da Liga Mundial para a
Rússia. Em compensação, o
telespectador ganhou: não
precisou assistir ao indefectível "Sandy & Junior". Pulou
direto para o filme "Parque
dos Dinossauros". Mas, para
variar, no jogo São Caetano e
Corinthians, houve mais
duas enquetes chatas, que
não enriqueceram em nada o
futebol brasileiro.
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