São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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Nota de corte

No pior dia do Brasil, primeiro favorito cai e sinaliza uma má largada que o vôlei atenua

GUILHERME ROSEGUINI
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O fracasso do primeiro grande favorito nacional nos Jogos, o judoca Carlos Honorato, desnuda um início de competição que exibe resultados técnicos em sua maioria abaixo dos obtidos no passado -e isso acontece na Olimpíada em que o Brasil mais teve dinheiro para treinar.
Corridos 5 dos 16 dias de competição, o time nacional já encerrou sua participação em 6 das 28 modalidades que disputa (de um total de 40). Nenhuma delas mostrou melhoria de resultado em relação à história; em três esportes houve retrocesso claro em relação ao desempenho em Sydney.
O Brasil conquistou dois bronzes até aqui, mas deixou de ganhar 69 medalhas. Isso significa que 43% das oportunidades de pódio do país já foram perdidas.
É verdade que as maiores chances do país se concentram na segunda semana, quando será decidida a sorte dos vôleis de quadra e de praia -os esportes de melhor desempenho do Brasil até aqui-, da ginasta Daiane dos Santos e da vela. Mas é fato que modalidades que não almejam pódio saíram da competição sem nem aprimorar a performance. Ou seja, até agora, a "melhoria qualitativa" preconizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro não saiu do discurso.
Já se despediram o tiro, o tênis, o tênis de mesa, a esgrima, o concurso completo de equitação e o ciclismo de estrada. Exceção feita ao tiro, esses esportes jamais haviam levado o Brasil ao pódio e agora fracassaram ao tentar se aproximar dele apesar de terem desfrutado da mais custosa preparação da história do país: a Lei Piva permitiu repasse de R$ 163,5 milhões de verba pública ao esporte no último ciclo olímpico.
O tênis obteve como melhor resultado em Atenas a ida à segunda rodada (duplas). Mais famoso atleta brasileiro nos Jogos, Gustavo Kuerten perdeu na estréia. Em 2000, o esporte foi até as quartas-de-final (em simples) e teve resultado semelhante ao de agora nas duplas (mas no feminino).
Ontem acabou o concurso completo de equitação. O time brasileiro, sexto colocado na Austrália, ficou só em 11º lugar na Grécia.
O ciclismo de estrada teve como melhor resultado em Sydney o 44º lugar. Em Atenas, o melhor foi o 54º, também no feminino.
"Meu objetivo era chegar entre as dez primeiras. Mas acho que ainda tenho mais três Jogos, e essa participação serviu como experiência", disse Janildes Fernandes, que caiu do 49º para o 54º posto entre a Austrália e a Grécia.
No tênis de mesa, só um atleta ganhou um jogo. É o mesmo que aconteceu em Sydney e abaixo do desempenho de Atlanta, onde Hugo Hoyama foi às quartas.
O tiro não estava na Austrália. Em Atenas, Rodrigo Bastos foi o 14º após investimentos de ao menos R$ 236 mil. Na história do país na fossa olímpica, houve três atiradores mais bem colocados e quatro em piores posições.
A esgrima conseguiu um 20º lugar (com Maria Júlia Herklotz) como melhor resultado. Mas o único a vencer um adversário foi Renzo Agresta, que acabou em 32º. Em Sydney, o único representante nacional havia saído sem vitória. O 20º lugar, por sua vez, não significa avanço de posição quando comparado às duas participações anteriores na modalidade, em Barcelona e Seul.
"Nos últimos quatro anos, não tive intercâmbio apropriado. Se ficamos presos no Brasil, não evoluímos. Aí é difícil surpreender em uma competição forte como a Olimpíada", afirmou Maria Júlia, eliminada na primeira luta.


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