São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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Alguém aí sabe onde fica a festa?

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Um dos poucos legados que a bagunçada Atlanta-96 deixou foi a idéia do Centennial Park. Um ponto de encontro no centro da cidade para os atletas beberem conquistas e derrotas, encontrarem torcedores, virarem a noite. Para, enfim, deixarem um pouco de ser esportistas, misturados a "gente normal".
Funcionou como uma descompressão após anos de treinos pesados, viagens, competições. Tremendo sucesso.
Sydney-2000 repetiu o conceito. Darling Harbour virou o ponto das celebrações. Quem não se lembra das imagens dos nadadores holandeses, de Inge de Bruijn, latinha de cerveja na mão, varando as noites na praça, indo pra galera? Na noite do encerramento, 800 mil pessoas tomaram o local -e o entorno- para celebrar, 200 mil viram o sol nascer.
Pois, apesar da fama de festeiro do povo grego, não espere nada parecido em Atenas. Não haverá.
Ou melhor, haverá. Mas ficará vazio. O Athoc (Comitê Organizador do Jogos) até reservou um ponto para as festas. O problema é que é bem pouco convidativo.
O espaço fica em Technopolis, um parque de exposições a oeste da cidade que herdou os prédios de uma antiga refinaria de gás. É longe do Parque Olímpico, está todo cercado de alambrados e, para entrar lá, qualquer um, medalha no peito ou não, precisa passar pelo detector de metais.
"A segurança é a prioridade número um em agosto", explica Maria Badeka, porta-voz da Prefeitura de Atenas.
Technopolis abre às 11h e, em tese, não tem hora para fechar. A ERT, a emissora grega que comprou os direitos dos Jogos, montou lá um enorme telão. Desperdício de tempo e de dinheiro. O lugar vive às moscas. Até agora, nenhum medalhista passou por lá.
O fato é que atletas e torcedores estrangeiros estão perdidos, sem rumo, sem praça. Após cinco dias de Jogos, Atenas-04 ainda não festejou.
Há pouco mais de um mês, na conquista da Eurocopa, os gregos invadiram Kotzia, Syntagma e Omonia, três dos principais pontos da capital. Vibraram, festejaram, criaram a sensação de que a Olimpíada seria a continuação daquela loucura azul e branca.
Caso esses mesmos gregos tivessem ido às ruas para comemorar os ouros já conquistados, dariam uma dica aos turistas. Mas eles estão longe. Fugiram dos Jogos, se mandaram para as ilhas.
E os visitantes estão sem referência. Por mais que caprichem no grego, não têm a quem perguntar: "E aí, onde é a festa?".


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