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O xeque-mate da questão
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Há quem veja no futebol
uma expressão democrática
porque se trata de um exercício de equilíbrio entre os diferentes. Pois esse é o segredo do
sucesso de um time: a gradação e consequente combinação
de estilos, quando não até de
personalidades.
Costuma-se dizer que um jogo de futebol assemelha-se
muito a um jogo de xadrez.
Pode ser. Mas vejo mais os movimentos complexos do xadrez
na montagem de um time do
que propriamente na disputa
de uma partida. Por exemplo:
se você, técnico de futebol, meter quatro brutamontes no
meio-campo, teoricamente, estará formando uma linha intermediária extremamente defensiva, o que, em princípio,
dificultará as ações ofensivas
do inimigo. Se o único efeito
que você deseja provocar é esse, há uma grande probabilidade de que dê certo.
Mas, se a escolha de cada um
desses cabeças-de-bagre não
obedecer um critério de gradação -o mais lento, no centro;
à esquerda, um canhoto; à direita, um destro; um quarto
com certo grau de velocidade e
assim por diante-, é bem capaz de sua trincheira desfazer-se por inteira diante da
primeira investida adversária.
Em outras situações, basta a
troca de um determinado jogador por outro que, pronto!,
ou se faz a luz ou baixam as
trevas no resto do time todo.
Digo essas banalidades para
chegar a uma obviedade: esse
Corinthians, líder do Brasileirão, é uma fina montagem feita por Luxemburgo, a partir
das diferenças de cada um,
mas todos dentro de uma linha
de ação bem definida.
A coisa toda começa lá no
gol, com um goleiro discreto,
ágil e seguro -Nei, uma revelação, embora tardia. Passa
por Gamarra, um becão intransponível, acrobático e que,
ainda por cima, não comete
faltas, e atinge o meio-campo,
o verdadeiro coração do time.
Ali, Luxemburgo combinou estilos que se completam, desprezando o ponto de partida de
todos os treinadores que
atuam neste país desde, pelo
menos, a metade dos anos 70:
o tal de cabeça-de-área, aquele
segurança desprovido de imaginação, sensibilidade e arte,
plantado à frente dos beques
só para obstruir, nunca para
construir.
Vampeta, que assumiu tal
função, é antes de mais nada
um armador, um fino passador de bola, com ímpetos de
atacante. Ao seu lado, um
meia típico, Rincón, mais contido, é quem alterna o ritmo:
Vampeta, quente; Rincón, frio.
Um pouco mais à frente, pela
direita, o destro Marcelinho,
articulador rápido e atacante
incisivo; pela esquerda, o canhoto Ricardinho, outra revelação, mais assentado e calculista. Ambos dão suporte às investidas dos laterais -Rodrigo, pela direita, e Silvinho, pela esquerda-, que se juntam
aos atacantes Edílson e Mirandinha; um mais técnico; outro
mais rompedor, mas os dois
extremamente velozes.
Mas todos -de Rodrigo a
Mirandinha- têm de ajudar
aqui e ali na marcação, quando a bola está com ele. E isso
derruba por terra a tese de que
craque não marca. Marca,
sim, desde que seja devidamente estimulado e que tenha
seu território devidamente demarcado pelo treinador. E é
esse, no final das contas, o xeque-mate da questão.
Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas
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