São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Às vezes com graça, às vezes sem

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O que falta dizer sobre a agressão ridícula de Romário em Andrei?
Eu entendo -é diferente de "concordo"- que as pessoas percam a cabeça em dados momentos e façam bobagem (fiz e faço muitas). Mas ali não se justificava nem perder a cabeça, o jogo mal havia começado...
Se uma mulher fizesse a mesma coisa, talvez fosse ridicularizada por ser "nervosinha" ou "estressada". Mas alguns acham que Romário foi "macho" (tanto que estenderam a tal faixa falando que faltava bater nos outros).
Aos defensores das "bolachas", pergunto: "Adiantou alguma coisa para o Romário, o Andrei e o Fluminense? Foi bom, foi proveitoso?".
Pergunto também: "Vocês merecem ser estapeados quando não fizerem direito a sua parte?". Ou, para os torcedores do Vasco que atacaram três jogadores: "Se eles considerarem que vocês estão com pouca vontade, que não torcem como deveriam, podem reunir 30 contra 3 e aplicar também uns safanões?".
Ainda sobre socos e pontapés, quando soube que o pau tinha quebrado no jogo Sport 3x0 Botafogo, um amigo meu viu as imagens e disse: "Ah, mas o cara pediu para apanhar". (O "cara" era o lateral Rissut, do Sport, que começou a fazer embaixadinhas no finalzinho do segundo tempo). Aqui também entendo o comentário do meu amigo (mesmo não concordando).
Por que alguém faz um troço só para irritar? Por que banca o tal quando a situação está fácil demais, em casa e com placar a favor? Não acho certo profissionais se comportarem como peladeiros (digo isso pensando no folclore da várzea, cheio de histórias de macheza e pancadaria), mas também não acho prudente atiçar o perdedor de graça. E fazer embaixadinhas à toa não tem nada de lindo, romântico, nostálgico... Não é a redenção do futebol-arte!
Quando o juiz Leonardo Gaciba, de Curitiba 4x2 Santos, interrompeu a famosa jogada do Jabá com cartão, ele errou, claro. Mas a condenação ao juiz não me leva a comparar Jabá com Garrincha. Pera lá, o Garrincha era um personagem único, de talento extraterrestre e personalidade idem. Ele tinha "habeas corpus" para fazer o que bem entendesse após debulhar o jogo como debulhava.
Talvez o Jabá seja incrível, mas o equivocado Gaciba não interrompeu, ali, um lance genial ... Em campo há poucos minutos, com o placar tranquilamente favorável, ele parou diante do marcador do Santos e ficou "enrolando". Normal, tinha todo o direito. Passou o pé sobre a bola, parou. Passou de novo, parou. Passou outra vez, parou. Qualquer um diria: "Tá cheio de graça!". Talvez a jogada não desse em nada; mal era uma jogada.
Dizerem que o juiz é contra o talento é extrapolar sobre o erro dele e desrespeitar o que nós chamamos de talento!
Vou tentar resumir o que penso dessa história toda. Não acho que os jogadores tenham sido "humilhados" pelas embaixadinhas ou o pé sobre a bola. Foram provocados, mas isso acontece às vezes com graça, às vezes sem; às vezes com a bola, às vezes com outras catimbas (festejos, musiquinhas etc.). Em todos os casos, não têm o direito de reagir com porrada. E acho que existem dribles, fintas e até firulas que dão o delicioso toque de malícia e genialidade ao futebol, mas existem lances bobos ou inconvenientes como uma boa piada... contada em hora errada.

Dividindo, sempre
Para uns, Romário é um sanguessuga e vive do suor alheio. Para outros, o resto do time é come-e-dorme e quer que Romário resolva tudo sozinho. Impressionante como tudo o que diz respeito ao atacante cai em um extremo ou no outro.

Com classe
Roberto Assaf, no "JB", lembrou-se de quando Pelé descontou uma derrota por 2 a 1 para o Botafogo-SP (com direito a provocações) marcando oito gols na partida de volta... (Foi 11 a 0 para o Santos no returno!).

Com humor
Estou adorando a fase "Tabajara" da Mancha Verde, com ameaça de vaca no Parque e tudo. Os jogadores podem não gostar, mas reclamar do time desse jeito é divertido pacas (e não é para gostar mesmo, uai).

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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