São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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Nuzman aciona dirigentes para construir lobby pela reeleição

Presidente do COB solicita corpo-a-corpo com políticos contra limitação de mandatos

ROBERTO DIAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Carlos Arthur Nuzman encomendou aos chefes do esporte nacional corpo-a-corpo no Congresso para garantir a perpetuação dos dirigentes em seus cargos.
A solicitação do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro aparece na ata da última Assembléia Geral, obtida pela Folha. O documento mostra um Nuzman preocupado em engajar em sua plataforma as 29 confederações.
Plataforma essa que envolve um desejo pouco conhecido do dirigente e que vai na contramão do Movimento Olímpico internacional: o de ter caminho livre para sucessivas reeleições.
Ainda neste ano, Nuzman tentará mais uma, sua segunda à frente do comitê. Ele assumiu em 1995, completando a gestão de André Richer. Em 1998, concorreu com chapa única e conseguiu mandato especial de seis anos, sob a justificativa de ajustar o estatuto do COB ao ciclo olímpico. Este último mandato vence em dezembro, e nova eleição terá de ser marcada até lá. Não se tem conhecimento de nenhum concorrente em potencial a ele.
Eleito outra vez, Nuzman irá ter mais tempo à frente do comitê brasileiro do que o prazo máximo permitido no Comitê Olímpico Internacional (12 anos).
A defesa que o presidente do COB fez de sua posição, em 16 de dezembro passado, foi registrada em ata da seguinte forma:
"O presidente discorreu sobre a necessidade de as confederações ficarem atentas aos projetos de lei apresentados na Câmara, solicitando aos presidentes que entrem em contato com deputados conhecidos para divulgar a importância dos recursos da lei Agnelo/Piva para o esporte e, também, esclarecê-los com relação à duração dos mandatos dos presidentes das entidades esportivas, não sendo conveniente que seja estabelecida qualquer restrição para suas reeleições."
Sete meses depois, Nuzman defenderia pela primeira vez em público, numa entrevista à Folha, a remuneração de dirigentes esportivos, algo que não se encaixa direito na legislação em vigor. Para pagar salários, as confederações teriam, hoje, que abrir mão de sua principal fonte de recursos, o dinheiro público.
Questionado sobre seu pedido na Assembléia, Nuzman disse que fazer lobby é "normal". Argumentou ainda que a limitação a mandatos esportivos já vigorou no regime militar e, em sua avaliação, mostrou-se inadequada.
Não há limite legal hoje no Brasil à reeleição de dirigentes esportivos. A providência chegou a ser cogitada no início das discussões sobre a Lei Pelé, mas caiu antes da promulgação do código.
Não há, também, nenhum outro caminho à vista para Nuzman no âmbito internacional, pelo menos a médio prazo. No mês passado, ele foi derrotado pela segunda vez numa eleição para o Comitê Executivo do COI, instância de elite da entidade. Até hoje, apenas dois brasileiros chegaram até lá: José Ferreira Santos e Sylvio de Magalhães Padilha, sendo que o último alcançou inclusive a vice-presidência do comitê.


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