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POLÍTICA
Ministro se diz favorável a barrar reeleição, mas relator acusa pressão
Após lobby, limitação de mandato some de estatuto
DO PAINEL FC E DA REDAÇÃO
Fortalecida pela união do lobby
encomendado por Carlos Arthur
Nuzman ao corpo-a-corpo já feito
pela CBF, a pressão dos dirigentes
já teve efeitos práticos na redação
do Estatuto do Desporto.
O item que limitava o número
de mandatos dos presidentes de
entidades de administração do esporte (confederações e federações) sumiu do projeto de lei, que
inicialmente restringia a dois os
mandatos dos cartolas.
A informação foi dada à Folha
pelo relator do projeto de lei, Gilmar Machado (PT-MG). "Resolvemos tirar para amenizar a pressão dos dirigentes. Voltaremos a
discutir o assunto nos simpósios
que serão realizados. Se os parlamentares acharem que é o caso de
haver limitação, o item voltará",
afirmou o petista, escolhido pelo
Planalto para liderar as discussões
sobre o código que unificará a legislação esportiva.
O parlamentar se negou a explicitar quais deputados sofreram
pressão para alterar a lei ou por
que o lobby surtiu efeito. Disse à
reportagem que estava com pressa para iniciar um comício -ele é
candidato à Prefeitura de Uberlândia e se afastou em maio das
discussões sobre o estatuto para
se dedicar à campanha.
Segundo apurou a Folha, o
lobby dos cartolas chegou aos ministros do Esporte, Agnelo Queiroz, e da Coordenação Política,
Aldo Rebelo. Os dois, quando deputados, participaram ativamente das discussões sobre o setor.
O primeiro apresentou na Câmara um projeto para destinação
de parte do dinheiro da loteria para o esporte, que depois acabou se
fundindo com proposta do senador Pedro Piva, que batiza a lei
que deu R$ 58 milhões ao Comitê
Olímpico Brasileiro em 2003.
O segundo ganhou notoriedade
nacional ao presidir a CPI da
CBF/Nike, que investigou as relações entre a multinacional de material esportivo e a entidade que
dirige o futebol no país.
Pelo menos publicamente, Agnelo se diz favorável à limitação
do número de mandatos. Seus
críticos, no entanto, dizem que dificilmente o ministro irá contra
um desejo do COB -até aqui,
Nuzman teve todas as suas demandas atendidas pela pasta.
O limite ao número de eleições
foi também defendido por Rebelo
durante as investigações. O relatório final da CPI, que acabou não
aprovado, indicava a necessidade
de alternância no poder nas entidades esportivas. A oposição de
Rebelo é tida como uma das principais barreiras para os cartolas.
Alçado ao posto de negociador
político do governo, o comunista
ganhou força que não tinha quando presidiu a CPI, em 2001.
Citado como prioridade de governo logo após a sanção da chamada "lei de moralização" e do
Estatuto do Torcedor, em maio de
2003, o Estatuto do Desporto se
arrasta pela Câmara e, segundo o
próprio relator, não será votado
nas duas Casas antes de 2005.
Machado culpa as eleições e a
turbulência política ocasionada
pelo caso Waldomiro Diniz pela
demora na redação final da lei.
"Não houve tempo nem clima no
Congresso para acelerar as discussões. E uma lei desta dimensão
não pode ser feita às pressas."
Além do lobby, os defensores da
limitação encontrarão um outro
obstáculo. Por causa do artigo 217
da Constituição, que concede autonomia de organização às entidades esportivas, funcionários da
Advocacia Geral da União entendem ser inconstitucional a limitação a mandatos.
(FERNANDO MELLO E ROBERTO DIAS)
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