São Paulo, Sexta-feira, 19 de Novembro de 1999
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O falso show do ministro Greca

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

O ministro Rafael Greca deu um pequeno show ontem pela manhã no plenário do Senado. Pena que tenha faltado dizer a verdade. Só no que me diz respeito, qual Pedro, por ele citado, Greca traiu a verdade três vezes:
1. Ao voltar a dizer que fui eu quem indicou a ele o nome de Manoel Tubino para o Indesp;
2. Ao dizer que estou contrariado por discordar da medida provisória que ele publicou;
3. E ao dizer que papel aceita tudo e só por isso aceitou que eu aqui publicasse que ele, Greca, me pôs em contato telefônico com o advogado Paulo Araújo, que diz não conhecer.
Repito e detalho.
Estava em férias quando recebi um telefonema de Greca, que quis saber qual dos três nomes que ele tinha para o Indesp eu achava melhor: Bernard Rajzman, Manoel Tubino e um terceiro cujo nome não me lembro, que era ou é da Fundação Roberto Marinho.
Disse a ele que, se o escolhido fosse o primeiro, o ex-jogador de vôlei que celebrizou o saque "Jornada nas Estrelas", quem mandaria no Indesp seria o presidente do COB, Carlos Nuzman.
Que o terceiro eu não conhecia e que Tubino não só era uma pessoa séria como era até doutor em esportes, tendo sido presidente do CND no governo Sarney e feito bela gestão. Foi tudo.
Daí a me responsabilizar pela indicação vai uma distância tão grande como a própria irresponsabilidade do ministro, que disse aos senadores ter boa impressão de mim, que o tinha entrevistado três vezes na TV quando ele era prefeito de Curitiba. Ora, também eu tinha boa impressão dele, mas o conhecia tão superficialmente que jamais nomearia quem quer que seja simplesmente por tê-lo ouvido fazer boas referências.
Na verdade, quando elogiei Tubino, ouvi de Greca que o nome dele era indicação do vice-presidente, Marco Maciel.
Entendi o telefonema do ministro como uma deferência e ponto.
Tempos depois, recebo outra ligação do ministro. Ele queria entender o texto de uma medida provisória que lhe chegara às mãos preparada pela gestão anterior e que, entre outras coisas, ampliava o prazo de contrato entre clubes e jogadores para além dos dois anos previstos em lei.
Quando comecei a explicar, ele pediu que esperasse um momento para falar com um advogado de sua confiança, a quem chamou de Paulo Araújo. E foi para ele que expliquei o teor da medida.
Finalmente, de fato, divirjo da medida provisória que acabou sendo promulgada recentemente com a intenção de impedir que uma mesma empresa controle mais de um clube que participe de uma mesma competição.
Em primeiro lugar por duvidar de sua eficácia, embora a Fifa recomende o procedimento.
Em segundo lugar porque não era necessária uma MP, bastava alterar o estatuto da CBF.
E em terceiro, e mais importante, porque da forma em que está redigida, a MP comete o absurdo de proibir, por exemplo, que uma mesma empresa patrocine o basquete do Flamengo e a natação do Corinthians. A divergência, no entanto, não me levaria a publicar nada, até porque a denúncia foi anterior à publicação da MP. É óbvio que nos dois primeiros pontos fica a palavra do jornalista contra a do político.
Sobre o terceiro ponto basta ler a MP para ver quem tem razão.
Mas há mais: quando tudo começou, o ministro escreveu uma longa carta à esta Folha desmentindo a coluna. Em seguida, teve de engolir, como fez ontem no Senado, tintim por tintim o seu desmentido.



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