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O falso show do ministro Greca
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
O ministro Rafael Greca deu um
pequeno show ontem pela manhã
no plenário do Senado. Pena que
tenha faltado dizer a verdade. Só
no que me diz respeito, qual Pedro, por ele citado, Greca traiu a
verdade três vezes:
1. Ao voltar a dizer que fui eu
quem indicou a ele o nome de
Manoel Tubino para o Indesp;
2. Ao dizer que estou contrariado por discordar da medida provisória que ele publicou;
3. E ao dizer que papel aceita tudo e só por isso aceitou que eu
aqui publicasse que ele, Greca, me
pôs em contato telefônico com o
advogado Paulo Araújo, que diz
não conhecer.
Repito e detalho.
Estava em férias quando recebi
um telefonema de Greca, que quis
saber qual dos três nomes que ele
tinha para o Indesp eu achava
melhor: Bernard Rajzman, Manoel Tubino e um terceiro cujo
nome não me lembro, que era ou
é da Fundação Roberto Marinho.
Disse a ele que, se o escolhido
fosse o primeiro, o ex-jogador de
vôlei que celebrizou o saque "Jornada nas Estrelas", quem mandaria no Indesp seria o presidente do
COB, Carlos Nuzman.
Que o terceiro eu não conhecia e
que Tubino não só era uma pessoa séria como era até doutor em
esportes, tendo sido presidente do
CND no governo Sarney e feito bela gestão. Foi tudo.
Daí a me responsabilizar pela
indicação vai uma distância tão
grande como a própria irresponsabilidade do ministro, que disse
aos senadores ter boa impressão
de mim, que o tinha entrevistado
três vezes na TV quando ele era
prefeito de Curitiba. Ora, também
eu tinha boa impressão dele, mas
o conhecia tão superficialmente
que jamais nomearia quem quer
que seja simplesmente por tê-lo
ouvido fazer boas referências.
Na verdade, quando elogiei Tubino, ouvi de Greca que o nome
dele era indicação do vice-presidente, Marco Maciel.
Entendi o telefonema do ministro como uma deferência e ponto.
Tempos depois, recebo outra ligação do ministro. Ele queria entender o texto de uma medida
provisória que lhe chegara às
mãos preparada pela gestão anterior e que, entre outras coisas, ampliava o prazo de contrato entre
clubes e jogadores para além dos
dois anos previstos em lei.
Quando comecei a explicar, ele
pediu que esperasse um momento
para falar com um advogado de
sua confiança, a quem chamou de
Paulo Araújo. E foi para ele que
expliquei o teor da medida.
Finalmente, de fato, divirjo da
medida provisória que acabou
sendo promulgada recentemente
com a intenção de impedir que
uma mesma empresa controle
mais de um clube que participe de
uma mesma competição.
Em primeiro lugar por duvidar
de sua eficácia, embora a Fifa recomende o procedimento.
Em segundo lugar porque não
era necessária uma MP, bastava
alterar o estatuto da CBF.
E em terceiro, e mais importante, porque da forma em que está
redigida, a MP comete o absurdo
de proibir, por exemplo, que uma
mesma empresa patrocine o basquete do Flamengo e a natação do
Corinthians. A divergência, no
entanto, não me levaria a publicar nada, até porque a denúncia
foi anterior à publicação da MP. É
óbvio que nos dois primeiros pontos fica a palavra do jornalista
contra a do político.
Sobre o terceiro ponto basta ler
a MP para ver quem tem razão.
Mas há mais: quando tudo começou, o ministro escreveu uma
longa carta à esta Folha desmentindo a coluna. Em seguida, teve
de engolir, como fez ontem no Senado, tintim por tintim o seu desmentido.
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