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Hoje, os melhores do século
FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Viena
Imagine a Olimpíada ideal.
Teria Mark Spitz competindo
nas piscinas, Nadia Comaneci faturando suas notas 10 na ginástica, Muhammad Ali, falastrão, batendo seus adversários no boxe, e
Pelé, em campo, pela seleção brasileira de futebol.
Melhor: cada um deles enfrentando adversários de peso.
Quem venceria, por exemplo,
um hipotético torneio de tênis entre Chris Evert, Martina Navratilova, Steffi Graf e Billie Jean King?
O tira-teima, definitivo, acontece hoje à noite, em Viena, onde estará reunida a nata do esporte
mundial dos últimos 99 anos.
Ao todo, 91 atletas estão concorrendo em 11 categorias ao "World
Sports Awards of the Century", a
eleição dos melhores atletas deste
século.
O evento é promovido pelo
Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e financiado
em parte pelo governo austríaco e
pela Prefeitura de Viena e transformou a capital da Áustria também na do esporte.
Hoje, chegam os últimos atletas.
Desembarcam de uma só vez,
vindos dos Estados Unidos, Ali,
Comaneci, o ex-corredor Carl Lewis e Rod Laver, australiano, único tenista da era profissional a
vencer os quatro torneios do
Grand Slam no mesmo ano.
Para chegar à lista de 91 nomes,
os organizadores selecionaram
grandes veículos de comunicação
de todo o mundo, como os norte-americanos "The New York Times", "USA Today" e "Sports
Illustrated".
A Folha é o único representante
da América Latina.
Em julho, os esportistas, todos
vivos, foram escolhidos e separados em sete grupos: esportes
aquáticos, atléticos, de inverno,
com bola, de combate, a motor e
futebol . À exceção dos três últimos, todos estão divididos nas categorias masculino e feminino.
As únicas unanimidades na seleção foram Pelé, Spitz e Ali.
A escolha final ficará a cargo de
15 dos mais importantes dirigentes do esporte no planeta.
Gente poderosa como o espanhol Juan Antonio Samaranch,
presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), o inglês Max
Mosley, da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), e o
suíço Joseph Blatter, da Fifa (a entidade máxima do futebol), votará às 11h (de Brasília) no melhor
da cada categoria.
Os vencedores, porém, só serão
anunciados em uma cerimônia
luxuosa, na Ópera de Viena, às
20h (de Brasília).
Caso haja consenso, o corpo de
jurados poderá ainda indicar um
grande vencedor geral -o definitivo "Atleta do Século 20".
Único que poderia reclamar da
eleição -já havia recebido o título do jornal francês "L'Equipe",
nos anos 80-, Edson Arantes do
Nascimento, o Pelé, preferiu ontem enaltecer a nova competição.
"É uma honra estar com a elite
do esporte. Alguns eu nunca tinha
encontrado. Outros, como o Ali e
o (ex-piloto de F-1 Niki) Lauda, eu
conheço muito bem, já encontrei
algumas vezes", declarou o ex-jogador, único brasileiro na lista.
Para reduzir o assédio da imprensa na Áustria -ao lado de
sua mulher, Assíria, declarou estar em lua-de-mel-, ele tentou
despistar.
Em entrevista coletiva, no aeroporto de Viena, Pelé afirmou que
estaria embarcando para Salzburg. Na verdade, estava chegando da cidade, para onde havia ido
anteontem, "encontrar amigos".
Questionado sobre seu favoritismo na categoria futebol, disse
que seu maior adversário é o alemão Franz Beckenbauer, campeão das Copas de 74, como jogador, e de 90, como técnico.
"Tínhamos o mesmo nível. A
diferença é que ele é louco, quer
seguir a carreira política, chegar à
Fifa. Eu não", afirmou.
Pelé disse também que é favorável a realização da Copa de 2006
na África do Sul.
O ex-goleiro Dino Zoff, campeão do mundo pela Itália em 82,
outro concorrente ao prêmio de
melhor jogador de futebol do século, colocou Pelé, o argentino
Diego Maradona e o francês Michel Platini como os favoritos em
sua categoria.
"É difícil falar sobre os outros
competidores. Vi muito pouco o
(argentino Alfredo) Di Stéfano.
Não vi o (inglês) Stanley Matthews", disse o ex-goleiro, atualmente comissário técnico da seleção italiana.
Com cabelos brancos, sem o bigode que se tornou sua marca registrada, o ex-nadador Spitz era
dos mais atenciosos com a imprensa que se deslocava entre os
hotéis Imperial e Bristol, no centro de Viena, onde estão hospedados os competidores.
"Não sei como as crianças aqui
me reconhecem. Elas trazem fotos de quando eu tinha 17, 18
anos. Hoje estou diferente, usando um blusão para tentar esconder a barriga", disse, rindo, o homem que ganhou nove medalhas
de ouro olímpicas, entre Cidade
do México-68 e Munique-72.
"Estou muito feliz de estar incluído nesse grupo. Ultimamente,
nado só umas três vezes por semana, estou meio afastado do esporte, trabalhando com investimentos na Califórnia (EUA)."
Questionado pela Folha sobre a
nova geração de nadadores, em
especial o adolescente australiano
Ian Thorpe, Spitz previu dificuldades para os EUA nos Jogos de
Sydney-2000.
"Eu estava na Austrália acompanhando os Jogos Pan-Pacíficos
e conheci o Ian Thorpe. O homem
é muito forte. Também já vi os
brasileiros. São grandes nadadores", afirmou.
"Os jogos vão ser muito interessantes. Os outros países estão
crescendo, e os nadadores norte-americanos não vão ter a facilidade de antes", completou.
Nem tudo, porém, é festa.
Tetracampeão olímpico no arremesso de disco, o norte-americano Al Oerter disse que só veio a
Viena porque recebeu um cachê.
"Não acredito no esporte. Só
vim porque me pagaram."
Mantendo a rebeldia que marcou sua carreira, outro esportista
dos EUA, o ex-tenista John McEnroe, esnobou a premiação.
"Já estou cheio de troféus. Não
preciso de mais um", disse, em
sua resposta ao convite que lhe foi
enviado pelos organizadores.
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