São Paulo, Sexta-feira, 19 de Novembro de 1999
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Hoje, os melhores do século

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Viena

Imagine a Olimpíada ideal.
Teria Mark Spitz competindo nas piscinas, Nadia Comaneci faturando suas notas 10 na ginástica, Muhammad Ali, falastrão, batendo seus adversários no boxe, e Pelé, em campo, pela seleção brasileira de futebol.
Melhor: cada um deles enfrentando adversários de peso.
Quem venceria, por exemplo, um hipotético torneio de tênis entre Chris Evert, Martina Navratilova, Steffi Graf e Billie Jean King?
O tira-teima, definitivo, acontece hoje à noite, em Viena, onde estará reunida a nata do esporte mundial dos últimos 99 anos.
Ao todo, 91 atletas estão concorrendo em 11 categorias ao "World Sports Awards of the Century", a eleição dos melhores atletas deste século.
O evento é promovido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e financiado em parte pelo governo austríaco e pela Prefeitura de Viena e transformou a capital da Áustria também na do esporte.
Hoje, chegam os últimos atletas. Desembarcam de uma só vez, vindos dos Estados Unidos, Ali, Comaneci, o ex-corredor Carl Lewis e Rod Laver, australiano, único tenista da era profissional a vencer os quatro torneios do Grand Slam no mesmo ano.
Para chegar à lista de 91 nomes, os organizadores selecionaram grandes veículos de comunicação de todo o mundo, como os norte-americanos "The New York Times", "USA Today" e "Sports Illustrated".
A Folha é o único representante da América Latina.
Em julho, os esportistas, todos vivos, foram escolhidos e separados em sete grupos: esportes aquáticos, atléticos, de inverno, com bola, de combate, a motor e futebol . À exceção dos três últimos, todos estão divididos nas categorias masculino e feminino.
As únicas unanimidades na seleção foram Pelé, Spitz e Ali.
A escolha final ficará a cargo de 15 dos mais importantes dirigentes do esporte no planeta.
Gente poderosa como o espanhol Juan Antonio Samaranch, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), o inglês Max Mosley, da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), e o suíço Joseph Blatter, da Fifa (a entidade máxima do futebol), votará às 11h (de Brasília) no melhor da cada categoria.
Os vencedores, porém, só serão anunciados em uma cerimônia luxuosa, na Ópera de Viena, às 20h (de Brasília).
Caso haja consenso, o corpo de jurados poderá ainda indicar um grande vencedor geral -o definitivo "Atleta do Século 20".
Único que poderia reclamar da eleição -já havia recebido o título do jornal francês "L'Equipe", nos anos 80-, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, preferiu ontem enaltecer a nova competição.
"É uma honra estar com a elite do esporte. Alguns eu nunca tinha encontrado. Outros, como o Ali e o (ex-piloto de F-1 Niki) Lauda, eu conheço muito bem, já encontrei algumas vezes", declarou o ex-jogador, único brasileiro na lista.
Para reduzir o assédio da imprensa na Áustria -ao lado de sua mulher, Assíria, declarou estar em lua-de-mel-, ele tentou despistar.
Em entrevista coletiva, no aeroporto de Viena, Pelé afirmou que estaria embarcando para Salzburg. Na verdade, estava chegando da cidade, para onde havia ido anteontem, "encontrar amigos".
Questionado sobre seu favoritismo na categoria futebol, disse que seu maior adversário é o alemão Franz Beckenbauer, campeão das Copas de 74, como jogador, e de 90, como técnico.
"Tínhamos o mesmo nível. A diferença é que ele é louco, quer seguir a carreira política, chegar à Fifa. Eu não", afirmou.
Pelé disse também que é favorável a realização da Copa de 2006 na África do Sul.
O ex-goleiro Dino Zoff, campeão do mundo pela Itália em 82, outro concorrente ao prêmio de melhor jogador de futebol do século, colocou Pelé, o argentino Diego Maradona e o francês Michel Platini como os favoritos em sua categoria.
"É difícil falar sobre os outros competidores. Vi muito pouco o (argentino Alfredo) Di Stéfano. Não vi o (inglês) Stanley Matthews", disse o ex-goleiro, atualmente comissário técnico da seleção italiana.
Com cabelos brancos, sem o bigode que se tornou sua marca registrada, o ex-nadador Spitz era dos mais atenciosos com a imprensa que se deslocava entre os hotéis Imperial e Bristol, no centro de Viena, onde estão hospedados os competidores.
"Não sei como as crianças aqui me reconhecem. Elas trazem fotos de quando eu tinha 17, 18 anos. Hoje estou diferente, usando um blusão para tentar esconder a barriga", disse, rindo, o homem que ganhou nove medalhas de ouro olímpicas, entre Cidade do México-68 e Munique-72.
"Estou muito feliz de estar incluído nesse grupo. Ultimamente, nado só umas três vezes por semana, estou meio afastado do esporte, trabalhando com investimentos na Califórnia (EUA)."
Questionado pela Folha sobre a nova geração de nadadores, em especial o adolescente australiano Ian Thorpe, Spitz previu dificuldades para os EUA nos Jogos de Sydney-2000.
"Eu estava na Austrália acompanhando os Jogos Pan-Pacíficos e conheci o Ian Thorpe. O homem é muito forte. Também já vi os brasileiros. São grandes nadadores", afirmou.
"Os jogos vão ser muito interessantes. Os outros países estão crescendo, e os nadadores norte-americanos não vão ter a facilidade de antes", completou.
Nem tudo, porém, é festa.
Tetracampeão olímpico no arremesso de disco, o norte-americano Al Oerter disse que só veio a Viena porque recebeu um cachê.
"Não acredito no esporte. Só vim porque me pagaram."
Mantendo a rebeldia que marcou sua carreira, outro esportista dos EUA, o ex-tenista John McEnroe, esnobou a premiação.
"Já estou cheio de troféus. Não preciso de mais um", disse, em sua resposta ao convite que lhe foi enviado pelos organizadores.


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