São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Sem desembolso, Nike ganha exclusividade no licenciamento de produtos
Parceira assume marca e direitos de imagem da CBF

Carlos Eduardo - 10.fev.00/Folha Imagem
Ricardo Teixeira, da CBF, assinou uso exclusivo da marca com a Nike


DA REPORTAGEM LOCAL,

DO PAINEL FC E

DA REDAÇÃO

A reforma do acordo CBF/Nike transformou a multinacional de equipamento esportivo em uma espécie de agência da Confederação Brasileira de Futebol.
Desde abril, qualquer empresa de qualquer ramo de atividade que queira licenciar produtos com as marcas da CBF ou com a imagem da seleção brasileira precisa negociar com os executivos da empresa norte-americana.
Antes da reforma, a Nike já havia garantido esse direito, em âmbito mundial. A novidade fica por conta da exclusividade.
A alteração do contrato, a qual a Folha teve acesso, acusa mudança na cláusula 2.4 do documento original, que versa justamente sobre a "outorga de licença".
Diz o texto que "a CBF e a Traffic outorgam à Nike os direitos mundiais exclusivos, durante o período (vigência) do contrato, para utilizar e sublicenciar o uso dos direitos de propriedade e imagens dos atletas (...)".
O mesmo trecho, no original, dizia que os direitos eram "não exclusivos", ou seja, a CBF ou a Traffic -que é de fato sua agência de marketing desde a década de 80, intermediária, inclusive, do negócio com a Nike- detinham a prerrogativa de negociar com outras empresas contratos de licenciamento de produtos.
O que confere ainda mais status de agência à fabricante de material esportivo, no entanto, é que essa cláusula abrange qualquer tipo de produto. Originalmente, como reza a cláusula 2.2, a Nike já detinha direitos exclusivos sobre produtos como calçados, vestuário, equipamentos esportivos, enfim, os relacionados à natureza de suas atividades.
Além disso, em 1996, a empresa assegurou direitos sobre produtos de mídia, como livros, filmes, CDs, games e Internet -controla, por exemplo, o site oficial da CBF, o www.brasilfutebol.com.
Garantiu também direito sobre todos os tipos de mídia que vierem a ser criadas.
A contrapartida para a confederação é que o lucro obtido com licenciamento de outros produtos que não os acordados no contrato original (vestuário e mídia) reverterão em receita para a entidade, espécie de moeda de troca.
De acordo com o texto modificado, o ganho líquido será dividido em partes iguais: 50% para a Nike, 50% para CBF.
A multinacional, porém, poderá descontar 20% da receita bruta a título de "despesas administrativas e quaisquer comissões". Isto é, ela vai cobrar pela intermediação de eventuais negócios.
Segundo o empresário J. Hawilla, sócio majoritário da Traffic, a CBF e sua empresa não têm muito o que perder com a mudança.
"Foi uma concessão que fizemos à Nike, mas que não representa muita coisa no contrato. Essa parte é mínima, perto de zero."
O empresário minimiza o fato de a Nike ter abraçado a exclusividade dos direitos de propriedade e de imagem por considerar que a entidade nunca lucrou muito com eles. "Essa questão é menor, é a menor parte do contrato. O importante é que as três partes continuam plenamente satisfeitas com o acordo", afirmou.
Indagado se recebeu alguma compensação por ocasião da reforma do contrato, já que os direitos eram um flanco que poderia render dividendos para sua empresa, Hawilla foi seco.
"A Traffic não perdeu dinheiro. Cedemos de graça."
Ganhos com licenciamento podem não significar muito para Hawilla, mas são a pedra fundamental da maioria dos negócios no futebol brasileiro e mundial.
O HMTF, fundo norte-americano parceiro de Corinthians e Cruzeiro e que é dono de 49% da Traffic, espera movimentar só com a marca do clube paulista R$ 25 milhões em um período de um ano.
O fundo, aliás, criou empresas específicas para a exploração das marcas de seus clubes, a Corinthians Licenciamento e a Cruzeiro Licenciamento.
A suíça ISL, outra gigante de marketing esportivo, faz o mesmo com Flamengo e Grêmio, seus contratados, e negocia acerto semelhante com o Palmeiras.
A própria Nike pensa diferente de Hawilla. Pelo menos é o que mostra o recente contrato com o Manchester United, US$ 454 milhões por 13 anos de parceria.
O acordo, que tirou o título de "melhor contrato da história do futebol" da associação CBF/Nike, prevê que a multinacional de material esportivo cuide não apenas dos direitos de propriedade e imagem da superequipe inglesa, mas também das complicadas negociações de direitos de TV. (FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E JOSÉ HENRIQUE MARIANTE)


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