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FUTEBOL
Sem desembolso, Nike ganha exclusividade no licenciamento de
produtos
Parceira assume marca e
direitos de imagem da CBF
Carlos Eduardo - 10.fev.00/Folha Imagem
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Ricardo Teixeira, da CBF, assinou uso exclusivo da marca com a Nike |
DA REPORTAGEM LOCAL,
DO PAINEL FC E
DA REDAÇÃO
A reforma do acordo CBF/Nike
transformou a multinacional de
equipamento esportivo em uma
espécie de agência da Confederação Brasileira de Futebol.
Desde abril, qualquer empresa
de qualquer ramo de atividade
que queira licenciar produtos
com as marcas da CBF ou com a
imagem da seleção brasileira precisa negociar com os executivos
da empresa norte-americana.
Antes da reforma, a Nike já havia garantido esse direito, em âmbito mundial. A novidade fica por
conta da exclusividade.
A alteração do contrato, a qual a
Folha teve acesso, acusa mudança
na cláusula 2.4 do documento original, que versa justamente sobre
a "outorga de licença".
Diz o texto que "a CBF e a Traffic outorgam à Nike os direitos
mundiais exclusivos, durante o
período (vigência) do contrato,
para utilizar e sublicenciar o uso
dos direitos de propriedade e
imagens dos atletas (...)".
O mesmo trecho, no original,
dizia que os direitos eram "não
exclusivos", ou seja, a CBF ou a
Traffic -que é de fato sua agência de marketing desde a década
de 80, intermediária, inclusive, do
negócio com a Nike- detinham
a prerrogativa de negociar com
outras empresas contratos de licenciamento de produtos.
O que confere ainda mais status
de agência à fabricante de material esportivo, no entanto, é que
essa cláusula abrange qualquer tipo de produto. Originalmente,
como reza a cláusula 2.2, a Nike já
detinha direitos exclusivos sobre
produtos como calçados, vestuário, equipamentos esportivos, enfim, os relacionados à natureza de
suas atividades.
Além disso, em 1996, a empresa
assegurou direitos sobre produtos de mídia, como livros, filmes,
CDs, games e Internet -controla, por exemplo, o site oficial da
CBF, o www.brasilfutebol.com.
Garantiu também direito sobre
todos os tipos de mídia que vierem a ser criadas.
A contrapartida para a confederação é que o lucro obtido com licenciamento de outros produtos
que não os acordados no contrato
original (vestuário e mídia) reverterão em receita para a entidade,
espécie de moeda de troca.
De acordo com o texto modificado, o ganho líquido será dividido em partes iguais: 50% para a
Nike, 50% para CBF.
A multinacional, porém, poderá
descontar 20% da receita bruta a
título de "despesas administrativas e quaisquer comissões". Isto é,
ela vai cobrar pela intermediação
de eventuais negócios.
Segundo o empresário J. Hawilla, sócio majoritário da Traffic, a
CBF e sua empresa não têm muito
o que perder com a mudança.
"Foi uma concessão que fizemos à Nike, mas que não representa muita coisa no contrato. Essa parte é mínima, perto de zero."
O empresário minimiza o fato
de a Nike ter abraçado a exclusividade dos direitos de propriedade
e de imagem por considerar que a
entidade nunca lucrou muito
com eles. "Essa questão é menor,
é a menor parte do contrato. O
importante é que as três partes
continuam plenamente satisfeitas
com o acordo", afirmou.
Indagado se recebeu alguma
compensação por ocasião da reforma do contrato, já que os direitos eram um flanco que poderia
render dividendos para sua empresa, Hawilla foi seco.
"A Traffic não perdeu dinheiro.
Cedemos de graça."
Ganhos com licenciamento podem não significar muito para
Hawilla, mas são a pedra fundamental da maioria dos negócios
no futebol brasileiro e mundial.
O HMTF, fundo norte-americano parceiro de Corinthians e Cruzeiro e que é dono de 49% da Traffic, espera movimentar só com a
marca do clube paulista R$ 25 milhões em um período de um ano.
O fundo, aliás, criou empresas
específicas para a exploração das
marcas de seus clubes, a Corinthians Licenciamento e a Cruzeiro Licenciamento.
A suíça ISL, outra gigante de
marketing esportivo, faz o mesmo com Flamengo e Grêmio, seus
contratados, e negocia acerto semelhante com o Palmeiras.
A própria Nike pensa diferente
de Hawilla. Pelo menos é o que
mostra o recente contrato com o
Manchester United, US$ 454 milhões por 13 anos de parceria.
O acordo, que tirou o título de
"melhor contrato da história do
futebol" da associação CBF/Nike,
prevê que a multinacional de material esportivo cuide não apenas
dos direitos de propriedade e
imagem da superequipe inglesa,
mas também das complicadas negociações de direitos de
TV.
(FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E JOSÉ HENRIQUE MARIANTE)
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