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MATINAS SUZUKI JR.
O almoxarifado
Na primeira rodada das
quartas-de-final deste Brasileiro, arquivado no confuso
banco de dados da minha memória como o mais equilibrado, ficou claro que o nível de
reservas no banco foi decisivo
para gerar resultados para os
times que têm mais estoque de
bons e/ou mais experientes jogadores.
É certo que não basta ter um
elenco de alta qualidade no almoxarifado. É preciso também
ter um técnico com excelente
visão de jogo para saber quais
alterações devem ser feitas e
quando (a regra aqui é o "just
in time" japonês) elas devem
ser feitas, para maximizar o
resultado das movimentações.
Parêntese: como esta coluna
escreveu no início do campeonato, não há registro na história do futebol brasileiro de
tantos técnicos bons atuando
quanto os temos presentemente. Que a nata desta geração
-Wanderley Luxemburgo,
Luiz Felipe, Levir Culpi, Candinho e Leão, junto com as
boas revelações de Mauro Fernandes, de Dario Pereyra, meu
querido ex-companheiro do
barraco da Astrid durante a
Copa, e de Celso Roth, que deu
declarações sóbrias e seguras
após a derrota para o Corinthians- esteja entre os finalistas, graças ao bom trabalho
que realizaram na primeira
fase. É uma daquelas coisas
desejáveis que só ajudam o futebol. Fecha parêntese.
Levir Culpi tinha dois velhos
conhecedores de jogos decisivos sentados ao seu lado, no
banco do Mineirão, no jogo
contra o Palmeiras. O impetuoso atacante Alex e o atacante zen Muller. Culpi sentiu
o pulso do jogo e fez o transplante no momento exato:
Alex e Muller mudaram o panorama da grande partida, e o
Cruzeiro, que contou com uma
grande noite do trintão Valdo,
foi ajudado por duas falhas da
defesa palmeirense em jogadas por cima (logo o Palmeiras, que tem uma dupla de pivôs longelíneos na sua defesa).
O time de Scolari talvez seja
o mais forte das quartas, mas o
seu estoque de reposição de peças não mantém o top de linha
titular -e aí está uma chance
para Cruzeiro e Corinthians.
No domingo, no Sul, repetiu-
se o enredo. Com mais alternativas na algibeira, Wanderley
Luxemburgo aguardou o instante propício para contra-
golpear com sangue novo: colocou o quarto-de-milha Mirandinha e, logo depois, o famoso pregador de peças Dinei,
no momento em que sentiu
que o Grêmio sairia para o jogo tentando a vitória.
Veja a importância do banco
de reservas: mesmo sem ter um
atacante que, literalmente,
marque a diferença, Luxemburgo teve a possibilidade da
variação, da mudança das características do ataque, e
aproveitou essa vantagem
competitiva da melhor maneira possível.
O Grêmio, entre cartões e
contusões, ficou (e continua
para o jogo de sábado) sem
muitas opções para variar. O
mesmo ocorre com o Santos.
Leão, em muitos jogos, tem sido obrigado a escalar quem
pode entrar em campo -e não
quem ele gostaria que jogasse.
Na primeira fase, com pontos sendo acumulados vagarosamente jogo após jogo, a
questão da falta de peças de
reposição no banco de reservas
não era tão grave. Já nos playoffs, a qualidade do pé-de-
obra suplementar, se bem usada pelos técnicos, poderá decidir -aliás, já está decidindo- o campeonato.
²
Matinas Suzuki Jr., diretor editorial-adjunto da Abril S/A, escreve às quintas-feiras
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