São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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MATINAS SUZUKI JR.
O almoxarifado

Na primeira rodada das quartas-de-final deste Brasileiro, arquivado no confuso banco de dados da minha memória como o mais equilibrado, ficou claro que o nível de reservas no banco foi decisivo para gerar resultados para os times que têm mais estoque de bons e/ou mais experientes jogadores.
É certo que não basta ter um elenco de alta qualidade no almoxarifado. É preciso também ter um técnico com excelente visão de jogo para saber quais alterações devem ser feitas e quando (a regra aqui é o "just in time" japonês) elas devem ser feitas, para maximizar o resultado das movimentações.
Parêntese: como esta coluna escreveu no início do campeonato, não há registro na história do futebol brasileiro de tantos técnicos bons atuando quanto os temos presentemente. Que a nata desta geração -Wanderley Luxemburgo, Luiz Felipe, Levir Culpi, Candinho e Leão, junto com as boas revelações de Mauro Fernandes, de Dario Pereyra, meu querido ex-companheiro do barraco da Astrid durante a Copa, e de Celso Roth, que deu declarações sóbrias e seguras após a derrota para o Corinthians- esteja entre os finalistas, graças ao bom trabalho que realizaram na primeira fase. É uma daquelas coisas desejáveis que só ajudam o futebol. Fecha parêntese.
Levir Culpi tinha dois velhos conhecedores de jogos decisivos sentados ao seu lado, no banco do Mineirão, no jogo contra o Palmeiras. O impetuoso atacante Alex e o atacante zen Muller. Culpi sentiu o pulso do jogo e fez o transplante no momento exato: Alex e Muller mudaram o panorama da grande partida, e o Cruzeiro, que contou com uma grande noite do trintão Valdo, foi ajudado por duas falhas da defesa palmeirense em jogadas por cima (logo o Palmeiras, que tem uma dupla de pivôs longelíneos na sua defesa).
O time de Scolari talvez seja o mais forte das quartas, mas o seu estoque de reposição de peças não mantém o top de linha titular -e aí está uma chance para Cruzeiro e Corinthians.
No domingo, no Sul, repetiu- se o enredo. Com mais alternativas na algibeira, Wanderley Luxemburgo aguardou o instante propício para contra- golpear com sangue novo: colocou o quarto-de-milha Mirandinha e, logo depois, o famoso pregador de peças Dinei, no momento em que sentiu que o Grêmio sairia para o jogo tentando a vitória.
Veja a importância do banco de reservas: mesmo sem ter um atacante que, literalmente, marque a diferença, Luxemburgo teve a possibilidade da variação, da mudança das características do ataque, e aproveitou essa vantagem competitiva da melhor maneira possível.
O Grêmio, entre cartões e contusões, ficou (e continua para o jogo de sábado) sem muitas opções para variar. O mesmo ocorre com o Santos. Leão, em muitos jogos, tem sido obrigado a escalar quem pode entrar em campo -e não quem ele gostaria que jogasse.
Na primeira fase, com pontos sendo acumulados vagarosamente jogo após jogo, a questão da falta de peças de reposição no banco de reservas não era tão grave. Já nos playoffs, a qualidade do pé-de- obra suplementar, se bem usada pelos técnicos, poderá decidir -aliás, já está decidindo- o campeonato.
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Matinas Suzuki Jr., diretor editorial-adjunto da Abril S/A, escreve às quintas-feiras



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