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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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BOXE

A maldição dos Spinks

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O boxe coroou no final de semana um campeão unificado dos meio-médios. Trata-se do norte-americano Cory Spinks. "E daí?", podem perguntar...
Daí que a história do clã Spinks envolve bem mais do que cinturões unificados. É uma das sagas mais saborosas do esporte.
Além de ser filho de Leon Spinks, que em sua oitava luta superou Muhammad Ali pelo cinturão dos pesados, Cory é sobrinho do também ex-campeão pesado Michael Spinks, de quem todos se lembram mais por seu massacre nas mãos de Tyson do que por sua carreira como um dos maiores meio-pesados da história.
Voltando a Leon, sua vitória sobre Ali, por pontos, foi em fevereiro de 1978, nos EUA. Seu reinado foi bem curto, só sete meses.
Por quê? O apelido de Spinks diz tudo: "Neon Leon", por conta de sua predileção pela vida noturna.
E a estratégia adotada para a revanche foi bastante incomum, para dizer o mínimo. Em vez de haver um córner fixo, diversas pessoas se revezaram na tarefa de passar instruções para Leon.
George Benton, que posteriormente trabalharia com Evander "Real Deal" Holyfield e Pernell "Sweet Pea" Whitaker, entre outros, lembra bem do episódio.
"Fui um dos técnicos na primeira luta, mas para a revanche me chamaram à ultima hora. Leon não fez nada durante os sete ou oito assaltos iniciais, até que chegou minha vez de falar com ele. Disse para atacar, tomar uma atitude. Ele foi lá e venceu o assalto, mas aí já era a vez de outro instruí-lo", lamenta Benton.
O técnico deixou o córner durante o combate e foi direto para o hotel arrumar as malas. "Todos queriam uma oportunidade para ajudá-lo, seu irmão, seu primo, seu melhor amigo. Quem já ouviu falar de algo assim?", pergunta.
Minutos depois, Ali foi coroado campeão dos pesados pela terceira vez, feito até então inédito.
Daí para diante, a carreira de Leon degringolou. Passou a perder frequentemente para rivais de qualidade cada vez mais duvidosa até acumular um cartel de 26 vitórias, 17 derrotas e 3 empates.
(E, como curiosidade, até especulou-se que poderia vir ao Brasil enfrentar Maguila Rodrigues, quando este estava em seu auge.)
Leon decaiu tanto que em certo ponto lutou com o ex-desafiante ao título "Tex" Cobb em um restaurante de beira de estrada em Memphis. Foi em março de 1988.
Seu legado? Além da surpreendente vitória sobre Ali, as divertidas fotos nas quais aparece com sua marca registrada, um sorriso sem os quatro dentes superiores da frente. Foi por causa disso que Ali o apelidou de "O Vampiro".
Em 1990, Leon perdeu tragicamente o filho Calvin, também boxeador, baleado. Foi Michael que pagou as despesas do enterro, já que Leon, endividado, havia tido o seu telefone desligado e estava sendo ameaçado de despejo.
Agora, Cory, como seu apelido diz, representa "O Retorno da Maldição dos Spinks" (em inglês, um trocadilho entre Spinks e esfinge). Para quem quiser conhecê-lo, está prevista participação dele (entrevista) no programa "Friday Night Fights", na ESPN International, às 2h30 deste sábado.

Brasil 1
O invicto armênio José Archak, que representou o Brasil em Sydney-2000, voltou aos ringues na última sexta, após um hiato de seis meses, com uma vitória no primeiro assalto, no Arizona (EUA). O oponente era Warren Kronberger, que acumula mais derrotas do que vitórias.

Brasil 2
O leve Agnaldo Nunes sofreu sua primeira derrota profissional, para Eric Aiken. Foi por decisão unânime em seis assaltos, no Convention Center, em Washington (EUA). Nunes tinha cinco vitórias até então.

Brasil 3
A Bahia foi campeã do 58º Brasileiro amador, com 39 pontos registrados. Pará (30) ficou em segundo, e São Paulo (27), em terceiro.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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