São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2004

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Dia D tem filosofia e faixa de campeão

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A miscelânea composta de frases pré-moldadas, ligeira sessão de vídeos e um discurso de otimismo assoberbado recebeu o título de "Perfil de Vencedor".
Foi concebida sem muita pretensão, mas virou o artifício favorito do técnico Vanderlei Luxemburgo para inflamar seus comandados e deixá-los em ponto de bala no dia de um jogo decisivo.
Não será diferente hoje, contra o Vasco. Antes de entrar no gramado, os jogadores do Santos vão acompanhar um ritual que visa "prepará-los para a vitória".
"Presto atenção nos jogadores, fico ligado nas brincadeiras, nas piadas, nas refeições. Junto tudo isso com a minha mensagem e faço a palestra", relata Luxemburgo na obra "É Campeão - A Montagem de um Time Vencedor".
O livro foi escrito em parceria com o jornalista Ingo Ostrovsky e traz detalhes de sua passagem pelo Cruzeiro na última temporada.
Em 196 páginas, dedica atenção especial à forma como ele criou a preleção para a partida que deu o primeiro título ao clube mineiro.
O relógio marcava 14h quando Luxemburgo disse "boa tarde" e começou a utilizar o "Perfil do Vencedor". Naquele 30 de novembro, o Cruzeiro duelaria com o Paysandu e, com uma vitória, levaria o título do Nacional.
É exatamente aquela conversa tête-à-tête com os jogadores que o treinador quer reprisar em São José do Rio Preto. Um discurso veemente dá início à sabatina. Nele, o treinador diz que a ansiedade daquele momento crítico não pode se transformar em medo.
"Mas como não misturar as emoções?", indagam os atletas. É aí que Luxemburgo começa a elencar as virtudes de um profissional vencedor: sonhador, dedicado, comprometido, persistente.
É o momento de martelar na cabeça dos pupilos frases de motivação que o treinador inventou. A primeira ("O grande campeão se constrói na derrota, com a capacidade individual privilegiando o grupo") relembra os momentos difíceis que o time encarou.
Depois, ele exibe aos atletas as palavras "nada resiste ao trabalho". Diz então que qualquer percalço pode ser superado com esforço, "mas experimenta não trabalhar para ver se você chega a algum lugar", finaliza.
Para exigir confiança do grupo, usa uma de suas composições mais disparatadas: "Se sua casa tiver dois banheiros e você ficar em dúvida, faz nas calças".
Há também espaço para a tática. Luxemburgo pede a seus auxiliares que elaborem um compacto com os três últimos jogos do adversário. O tempo máximo do vídeo, porém, não deve exceder os 15 minutos, "para não entediar o elenco", como ele explica.
Mais: até os juízes são vistoriados. O técnico gosta de assistir a teipes com atuações do árbitro designado para o embate. Presta atenção, especialmente, no tipo de faltas que gosta de marcar e na forma como distribui os cartões.
A sessão de vídeo pode prosseguir caso o comandante queira reforçar o tema superação. Nesse caso, imagens de atletas paraolímpicos são exibidas.
Se achar que o clima já está carregado demais, Luxemburgo pede para alguns atletas pegarem o pandeiro e puxarem um samba.
O "gran finale" vem com a certeza do título. Em 2003, antes do início do jogo contra o Paysandu, ele distribuiu faixas com os dizeres "Campeão Brasileiro". E explicou. "Podem vestir. Eu estou dando agora para vocês porque é hoje que nós vamos ganhar."
Depois, é entrar no ônibus e seguir para o estádio. Naquele dia, Luxemburgo acertou. Seu time cravou 2 a 1 e arrematou a taça.


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