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Dia D tem filosofia e faixa de campeão
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A miscelânea composta de frases pré-moldadas, ligeira sessão
de vídeos e um discurso de otimismo assoberbado recebeu o título de "Perfil de Vencedor".
Foi concebida sem muita pretensão, mas virou o artifício favorito do técnico Vanderlei Luxemburgo para inflamar seus comandados e deixá-los em ponto de bala no dia de um jogo decisivo.
Não será diferente hoje, contra
o Vasco. Antes de entrar no gramado, os jogadores do Santos vão
acompanhar um ritual que visa
"prepará-los para a vitória".
"Presto atenção nos jogadores,
fico ligado nas brincadeiras, nas
piadas, nas refeições. Junto tudo
isso com a minha mensagem e faço a palestra", relata Luxemburgo
na obra "É Campeão - A Montagem de um Time Vencedor".
O livro foi escrito em parceria
com o jornalista Ingo Ostrovsky e
traz detalhes de sua passagem pelo Cruzeiro na última temporada.
Em 196 páginas, dedica atenção
especial à forma como ele criou a
preleção para a partida que deu o
primeiro título ao clube mineiro.
O relógio marcava 14h quando
Luxemburgo disse "boa tarde" e
começou a utilizar o "Perfil do
Vencedor". Naquele 30 de novembro, o Cruzeiro duelaria com
o Paysandu e, com uma vitória,
levaria o título do Nacional.
É exatamente aquela conversa
tête-à-tête com os jogadores que o
treinador quer reprisar em São
José do Rio Preto. Um discurso
veemente dá início à sabatina. Nele, o treinador diz que a ansiedade
daquele momento crítico não pode se transformar em medo.
"Mas como não misturar as
emoções?", indagam os atletas. É
aí que Luxemburgo começa a
elencar as virtudes de um profissional vencedor: sonhador, dedicado, comprometido, persistente.
É o momento de martelar na cabeça dos pupilos frases de motivação que o treinador inventou. A
primeira ("O grande campeão se
constrói na derrota, com a capacidade individual privilegiando o
grupo") relembra os momentos
difíceis que o time encarou.
Depois, ele exibe aos atletas as
palavras "nada resiste ao trabalho". Diz então que qualquer percalço pode ser superado com esforço, "mas experimenta não trabalhar para ver se você chega a algum lugar", finaliza.
Para exigir confiança do grupo,
usa uma de suas composições
mais disparatadas: "Se sua casa tiver dois banheiros e você ficar em
dúvida, faz nas calças".
Há também espaço para a tática.
Luxemburgo pede a seus auxiliares que elaborem um compacto
com os três últimos jogos do adversário. O tempo máximo do vídeo, porém, não deve exceder os
15 minutos, "para não entediar o
elenco", como ele explica.
Mais: até os juízes são vistoriados. O técnico gosta de assistir a
teipes com atuações do árbitro
designado para o embate. Presta
atenção, especialmente, no tipo
de faltas que gosta de marcar e na
forma como distribui os cartões.
A sessão de vídeo pode prosseguir caso o comandante queira reforçar o tema superação. Nesse
caso, imagens de atletas paraolímpicos são exibidas.
Se achar que o clima já está carregado demais, Luxemburgo pede para alguns atletas pegarem o
pandeiro e puxarem um samba.
O "gran finale" vem com a certeza do título. Em 2003, antes do
início do jogo contra o Paysandu,
ele distribuiu faixas com os dizeres "Campeão Brasileiro". E explicou. "Podem vestir. Eu estou dando agora para vocês porque é hoje
que nós vamos ganhar."
Depois, é entrar no ônibus e seguir para o estádio. Naquele dia,
Luxemburgo acertou. Seu time
cravou 2 a 1 e arrematou a taça.
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