São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 1998

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Participação sofreu oscilações

da Reportagem Local

A presença dos negros no futebol brasileiro sofreu oscilações ao longo dos 105 anos de existência do esporte no Brasil.
Até os anos 20, quando o futebol era amador, os clubes tradicionais, como Flamengo, Fluminense e Palestra (hoje, Palmeiras) restringiram a entrada de negros.
Eram aceitos alguns mulatos, como Arthur Friedenreich, do Paulistano, filho de um alemão e uma brasileira negra.
Conforme o esporte foi crescendo, os negros passaram a jogar nos campeonatos oficiais, primeiro atuando por times de subúrbio e ganhando por fora.
O Vasco afirma que foi o primeiro time a aceitar negros no Brasil. Em São Paulo, um dos pioneiros foi o Corinthians.
O domínio do futebol por famílias tradicionais atrasou a adoção do profissionalismo no Brasil. Isso provocou a ida de jogadores para a Argentina e Uruguai, que já haviam adotado o novo sistema.
Quando, no anos 30, o amadorismo enfim acabou, os pobres passaram a poder participar dele. Como a maioria dos negros era pobre, esse mercado também se abriu a eles.
Assim, dos anos 30 para os 40, o perfil dos jogadores brasileiros mudou totalmente. O futebol passou a ser uma porta de saída da pobreza.
Essa situação permaneceu com poucas mudanças até os anos 70.
Nessa época, a influência dos militares sobre o esporte, priorizando a disciplina e o preparo físico sobre a habilidade, e ainda a destruição de muitos campos de várzea nas grandes cidades, provocaram uma seleção artificial dos jogadores, que se tornaram, em média, mais altos, mais fortes, mais escolarizados e mais brancos também.
Na seleção que disputou a Copa da Espanha, em 1982, os três maiores destaques, Zico, Falcão e Sócrates, eram todos brancos.
A partir de meados dos anos 80, os clubes ampliaram e sofisticaram o trabalho de formação de novos jogadores.
Alguns passaram a usar métodos científicos na preparação física e na alimentação de todos os garotos. Com isso, o talento voltou a ser prioridade absoluta.
Essa mudança se refletiu nos resultados das competições de clubes. O que se viu foi um novo aumento na presença de jogadores oriundos de famílias pobres, negras inclusive.
A abertura do mercado europeu tornou ainda mais lucrativo o trabalho de formação. (MD)



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