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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

O furor das massas

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Estadual do Rio acaba de começar, mas é lícito esperar grandes mudanças no futebol carioca este ano.
Em primeiro lugar, espera-se uma reabilitação geral dos grandes clubes do Estado, após uma temporada particularmente infeliz. É possível que haja, também, uma mudança na correlação de forças entre os times.
O Vasco e o Flamengo -que tiveram um desempenho medíocre no Brasileiro-2002- se reforçaram consideravelmente: o primeiro, com Marcelinho e Marques; o segundo, com Felipe e Lopes.
Enquanto isso, o Fluminense -o melhor do semestre passado- marcou passo e perdeu Beto, Roni e Magno Alves, embora tenha trazido Djair e mantido Romário. Já o Botafogo terá que se desdobrar para enfrentar a terrível batalha da Série B.
 
Mexi num tremendo vespeiro na coluna de anteontem, ao tecer comentários sobre a torcida palmeirense.
Inúmeros torcedores alviverdes protestaram indignados. Alguns não entenderam o que escrevi, ou não atentaram para todas as ressalvas que fiz no texto -sobretudo a de que eu me referia à "parcela mais visível e ruidosa da torcida"-, mas muitos apontaram um erro real de informação.
No fim da coluna, eu dizia que a Gaviões da Fiel, com todos os seus defeitos, é uma "autêntica organização social e cultural popular" e que "a Mancha Alviverde, salvo engano, ainda está longe disso".
Pois é: havia engano. Conforme os leitores me informaram, a Mancha hoje, além de escola de samba (disso, pelo menos, eu já sabia), mantém escolinha de futebol, distribui cestas básicas para populações carentes etc.
Mea culpa, portanto.
Só o que posso dizer em minha defesa é que a coluna em questão nasceu de uma perplexidade manifestada por vários leitores palmeirenses.
Assim como eu, eles queriam saber por que a principal torcida palmeirense (a Mancha), ou melhor, sua direção, manteve uma postura no mínimo conivente com o atual manda-chuva do Parque Antarctica, Mustafá Contursi, nas recentes eleições para presidente do clube (ao contrário da TUP, que se manifestou claramente pela mudança).
Minha intenção, confesso, era provocar a massa palmeirense a questionar sua liderança "mais visível e ruidosa" neste momento crucial da história do clube. Sempre fui a favor de que os cidadãos organizados se apropriem das instituições que os representam.
Meu erro, além da desinformação mencionada, foi de estratégia. Comparar a principal torcida palmeirense com a principal torcida rival colocou todos os verdes contra mim.
De quebra, alguns são-paulinos me acusaram de só pensar em Palmeiras e Corinthians, esquecendo a nação tricolor.
Para evitar dissabores, talvez eu devesse ter comparado a torcida palmeirense com a do Vasco -outra massa que extravasou as origens étnicas de seu clube e que hoje, depois de uma certa acomodação no período de conquistas e vitórias, pede abertamente o fim da era Eurico Miranda.
O fato é que, se eu jamais sentei numa arquibancada no meio da torcida palmeirense, como apontaram raivosamente alguns leitores, agora é que não vou poder mesmo. Paciência. Ninguém pode ser grego e troiano ao mesmo tempo.

Fanatismo global
A cegueira do fanatismo não é praga exclusiva do Brasil ou do Terceiro Mundo. Torcedores do Lyon (FRA) invadiram o CT do clube, agrediram funcionários e "exigiram" a dispensa de Edmílson. Motivo: o zagueiro, campeão na Copa-2002, perdeu um pênalti decisivo.

Democracia, enfim
O novo Código Civil estenderá a todos os sócios o direito de eleger os presidentes dos clubes. Usar como desculpa as dificuldades técnicas de implantar a medida é a arma que os cartolas escolheram para bombardear as mudanças e tentar se perpetuar no poder. Mas, ao que tudo indica, não há como fazer andar para trás o bonde da história. A forma indireta e viciada de eleição que ainda predomina na maioria dos clubes é tão anacrônica que não resistirá aos ventos de mudança que sopram no país.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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