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FUTEBOL
O furor das massas
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Estadual do Rio acaba de
começar, mas é lícito esperar
grandes mudanças no futebol carioca este ano.
Em primeiro lugar, espera-se
uma reabilitação geral dos grandes clubes do Estado, após uma
temporada particularmente infeliz. É possível que haja, também,
uma mudança na correlação de
forças entre os times.
O Vasco e o Flamengo -que tiveram um desempenho medíocre
no Brasileiro-2002- se reforçaram consideravelmente: o primeiro, com Marcelinho e Marques; o
segundo, com Felipe e Lopes.
Enquanto isso, o Fluminense
-o melhor do semestre passado- marcou passo e perdeu Beto, Roni e Magno Alves, embora
tenha trazido Djair e mantido
Romário. Já o Botafogo terá que
se desdobrar para enfrentar a terrível batalha da Série B.
Mexi num tremendo vespeiro
na coluna de anteontem, ao tecer
comentários sobre a torcida palmeirense.
Inúmeros torcedores alviverdes
protestaram indignados. Alguns
não entenderam o que escrevi, ou
não atentaram para todas as ressalvas que fiz no texto -sobretudo a de que eu me referia à "parcela mais visível e ruidosa da torcida"-, mas muitos apontaram
um erro real de informação.
No fim da coluna, eu dizia que a
Gaviões da Fiel, com todos os seus
defeitos, é uma "autêntica organização social e cultural popular"
e que "a Mancha Alviverde, salvo
engano, ainda está longe disso".
Pois é: havia engano. Conforme
os leitores me informaram, a
Mancha hoje, além de escola de
samba (disso, pelo menos, eu já
sabia), mantém escolinha de futebol, distribui cestas básicas para
populações carentes etc.
Mea culpa, portanto.
Só o que posso dizer em minha
defesa é que a coluna em questão
nasceu de uma perplexidade manifestada por vários leitores palmeirenses.
Assim como eu, eles queriam
saber por que a principal torcida
palmeirense (a Mancha), ou melhor, sua direção, manteve uma
postura no mínimo conivente
com o atual manda-chuva do
Parque Antarctica, Mustafá Contursi, nas recentes eleições para
presidente do clube (ao contrário
da TUP, que se manifestou claramente pela mudança).
Minha intenção, confesso, era
provocar a massa palmeirense a
questionar sua liderança "mais
visível e ruidosa" neste momento
crucial da história do clube. Sempre fui a favor de que os cidadãos
organizados se apropriem das
instituições que os representam.
Meu erro, além da desinformação mencionada, foi de estratégia. Comparar a principal torcida
palmeirense com a principal torcida rival colocou todos os verdes
contra mim.
De quebra, alguns são-paulinos
me acusaram de só pensar em
Palmeiras e Corinthians, esquecendo a nação tricolor.
Para evitar dissabores, talvez eu
devesse ter comparado a torcida
palmeirense com a do Vasco
-outra massa que extravasou as
origens étnicas de seu clube e que
hoje, depois de uma certa acomodação no período de conquistas e
vitórias, pede abertamente o fim
da era Eurico Miranda.
O fato é que, se eu jamais sentei
numa arquibancada no meio da
torcida palmeirense, como apontaram raivosamente alguns leitores, agora é que não vou poder
mesmo. Paciência. Ninguém pode
ser grego e troiano ao mesmo
tempo.
Fanatismo global
A cegueira do fanatismo não
é praga exclusiva do Brasil ou
do Terceiro Mundo. Torcedores do Lyon (FRA) invadiram o CT do clube, agrediram funcionários e "exigiram" a dispensa de Edmílson. Motivo: o zagueiro, campeão na Copa-2002, perdeu
um pênalti decisivo.
Democracia, enfim
O novo Código Civil estenderá a todos os sócios o direito
de eleger os presidentes dos
clubes. Usar como desculpa
as dificuldades técnicas de
implantar a medida é a arma
que os cartolas escolheram
para bombardear as mudanças e tentar se perpetuar no
poder. Mas, ao que tudo indica, não há como fazer andar
para trás o bonde da história.
A forma indireta e viciada de
eleição que ainda predomina
na maioria dos clubes é tão
anacrônica que não resistirá
aos ventos de mudança que
sopram no país.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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