São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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TOSTÃO

Estilhaços de talento


Giovanni é um dos poucos atletas que atuam sem olhar para a bola, como se estivesse vendo o jogo da arquibancada


COMEÇARAM vários Estaduais, antes da hora, longos e com excesso de times, como o de São Paulo. Ainda bem que o Ministério Público vetou vários estádios em SP. O mesmo deveria ocorrer em outros Estados, não só pela falta de conforto e segurança, como também por alguns péssimos gramados.
Clubes que não têm a mínima estrutura profissional, que são apenas base para empresários colocarem e venderem suas "mercadorias", deveriam se tornar amadores. Isso não ocorre porque são protegidos por dirigentes, federações, CBF, governantes e politiqueiros.
As televisões, parceiras das federações e dos clubes, pensam primeiro na audiência. Será mais um ano de partidas às 22h, depois da idiotice do "Big Brother".
O Santos poderá ter um bom time em 2010. Ainda não tem. Por ser veloz, franzino e habilidoso, Neymar deveria atuar mais pelos lados. Para se tornar um grande jogador, terá de melhorar muito os fundamentos técnicos, sem perder a fantasia. Alguns comentaristas adoram reprimi-lo, dizendo que ele dribla demais. Ainda bem que sabe driblar. A maioria não sabe.
O futebol de Neymar continua fragmentado. São estilhaços de talento que precisam se juntar, achar um lugar e criar uma identidade.
Já Paulo Henrique Ganso possui estilo e lugar definidos em campo. Terá apenas de aprimorar suas qualidades e ser mais regular, além de aprender a sair de uma marcação. Um dos motivos da falta de brilhantes meias de ligação é que eles atuam em pequenos espaços, às vezes de costas, cercados de marcadores por todos os lados.
Se for bem utilizado, Giovanni, mesmo com 38 anos, jogando mais à frente, como um pivô, poderá ser um facilitador, um elo para os mais jovens. Giovanni é um desses poucos jogadores que sabem jogar futebol. Joga com a cabeça em pé, sem olhar para a bola, como se estivesse vendo do alto, da arquibancada, tudo o que está em sua volta.
Dorival Júnior disse que pediu a contratação de cinco jogadores. Bastam uns dois, desde que sejam realmente reforços e não apenas para compor o elenco.

Razões da razão
Na segunda-feira, um telespectador do "Linha de Passe", da ESPN Brasil, programa do qual eu estava com saudades, disse que, para Ronaldinho ser convocado, a imprensa, em vez de pedi-lo na seleção, deveria ficar em silêncio.
Para o telespectador, Dunga pode achar que querem induzi-lo ao erro, como teria acontecido com Parreira, em 2006. Em seu excessivo pragmatismo, Dunga poderia pensar ainda que seria irracional não chamar Robinho, ou Nilmar, ou Júlio Baptista, jogadores de sua confiança. Para o técnico, Ronaldinho seria um risco.
Espero que Dunga não seja refém dessas picuinhas. Tudo é possível. Parafraseando João Gilberto, os técnicos têm razões que a própria razão desconhece.
Maradona disse que Ronaldinho está entre os melhores jogadores que viu atuar. É o que penso, mesmo se Ronaldinho não for ao Mundial -ou se for e não jogar bem. O que ele jogou, em alguns anos no Barcelona, está gravado em minha memória. "O que a memória amou se tornou eterno." (Adélia Prado)


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