|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL NO MUNDO
O mistério acabou
RODRIGO BUENO
O mistério que acompanha a International Board, a entidade que
regulamenta o futebol e que se
reuniu ontem pela 114ª vez, na Inglaterra, acabou para mim.
Tudo porque o senhor Emídio
Marques de Mesquita, engenheiro
e instrutor de arbitragem da Fifa
há quase 15 anos, respondeu à minha coluna passada e decifrou
quase todos os quebra-cabeças
que lancei sobre a Board.
Tentarei, agora, passar um pouco da aula que recebi. Primeiro, a
constituição da International
Board é diferente do que normalmente todo mundo imaginava.
A entidade não possui membros. Ninguém integra a Board,
que não tem personalidade jurídica (a antiga lenda sobre uma possível sede escondida morreu).
A cada ano, as quatro federações britânicas de futebol indicam
representantes para a reunião da
entidade. Aliás, são 16 britânicos
garantidos na reunião, quatro de
cada uma das federações do Reino Unido (os outros quatro integrantes da reunião são da Fifa).
João Havelange, durante seu
reinado na Fifa, tratou de colocar
mais um britânico na reunião,
pois chamou para a chefia da arbitragem da Fifa um irlandês e,
posteriormente, um escocês. Isso
foi um acordo político, que protegeu as regras do futebol de qualquer mudança significativa.
Uma prova clara dos sinais de
renovação do atual presidente da
Fifa, o suíço Joseph Blatter, é a indicação de um turco, Senes Erzik,
para a chefia da arbitragem da
máxima entidade do futebol (a
tradição da Turquia na modalidade está bem longe de acompanhar a dos países britânicos).
Os representantes da International Board, sempre associados a
um conservadorismo extremo,
não têm necessariamente ligações
com os chamados ""inventores do
futebol", que fundaram a entidade em 1886. Esses representantes
podem ser indicados para só uma
única reunião (você pode representar a Board em um encontro,
mas jamais fazer parte dela).
No mais, sobram curiosidades.
Os encontros da entidade aconteciam antes no meio do ano, normalmente em julho. Hoje, não
costumam passar de março. Porém continuam acontecendo religiosamente aos sábados.
As cidades-sede das reuniões
são rotativas, mas essas não são
obrigatoriamente do Reino Unido. A Fifa costuma bancar encontros, especialmente em anos de
Copa do Mundo, em outros lugares (houve recentemente uma reunião da Board no Rio de Janeiro).
Para ser discutido pela International Board, um assunto precisa
ter entrado na pauta da reunião,
impreterivelmente, até o dia 31 de
dezembro anterior ao encontro.
Outro ponto interessante é a supremacia da língua inglesa na secular entidade. Para evitar especialmente erros de interpretação
nas regras, as reuniões da Board
são 100% em inglês (mais que as
explanações de todos os participantes, há a ata do encontro).
O mistério em torno da Board
pode ter até acabado, mas a tradição que cerca a entidade segue.
Rodrigo Bueno escreve aos domingos
Texto Anterior: 'O badminton aparece pouco' Próximo Texto: Basquete: Rio e São Paulo são fiasco de público Índice
|