São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2000


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FUTEBOL NO MUNDO
O mistério acabou

RODRIGO BUENO

O mistério que acompanha a International Board, a entidade que regulamenta o futebol e que se reuniu ontem pela 114ª vez, na Inglaterra, acabou para mim.
Tudo porque o senhor Emídio Marques de Mesquita, engenheiro e instrutor de arbitragem da Fifa há quase 15 anos, respondeu à minha coluna passada e decifrou quase todos os quebra-cabeças que lancei sobre a Board.
Tentarei, agora, passar um pouco da aula que recebi. Primeiro, a constituição da International Board é diferente do que normalmente todo mundo imaginava.
A entidade não possui membros. Ninguém integra a Board, que não tem personalidade jurídica (a antiga lenda sobre uma possível sede escondida morreu).
A cada ano, as quatro federações britânicas de futebol indicam representantes para a reunião da entidade. Aliás, são 16 britânicos garantidos na reunião, quatro de cada uma das federações do Reino Unido (os outros quatro integrantes da reunião são da Fifa).
João Havelange, durante seu reinado na Fifa, tratou de colocar mais um britânico na reunião, pois chamou para a chefia da arbitragem da Fifa um irlandês e, posteriormente, um escocês. Isso foi um acordo político, que protegeu as regras do futebol de qualquer mudança significativa.
Uma prova clara dos sinais de renovação do atual presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, é a indicação de um turco, Senes Erzik, para a chefia da arbitragem da máxima entidade do futebol (a tradição da Turquia na modalidade está bem longe de acompanhar a dos países britânicos).
Os representantes da International Board, sempre associados a um conservadorismo extremo, não têm necessariamente ligações com os chamados ""inventores do futebol", que fundaram a entidade em 1886. Esses representantes podem ser indicados para só uma única reunião (você pode representar a Board em um encontro, mas jamais fazer parte dela).
No mais, sobram curiosidades. Os encontros da entidade aconteciam antes no meio do ano, normalmente em julho. Hoje, não costumam passar de março. Porém continuam acontecendo religiosamente aos sábados.
As cidades-sede das reuniões são rotativas, mas essas não são obrigatoriamente do Reino Unido. A Fifa costuma bancar encontros, especialmente em anos de Copa do Mundo, em outros lugares (houve recentemente uma reunião da Board no Rio de Janeiro).
Para ser discutido pela International Board, um assunto precisa ter entrado na pauta da reunião, impreterivelmente, até o dia 31 de dezembro anterior ao encontro.
Outro ponto interessante é a supremacia da língua inglesa na secular entidade. Para evitar especialmente erros de interpretação nas regras, as reuniões da Board são 100% em inglês (mais que as explanações de todos os participantes, há a ata do encontro).
O mistério em torno da Board pode ter até acabado, mas a tradição que cerca a entidade segue.


Rodrigo Bueno escreve aos domingos


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