São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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JUCA KFOURI

Ídolos de aluguel


Os ídolos do futebol brasileiro são usados como coadjuvantes e nem ligam. Pelo contrário


O PRIMEIRO foi o rei Pelé, que João Havelange usou fartamente para se eleger na Fifa, principalmente entre os eleitores africanos, e depois para eleger o genro, na CBF.
Pelé acabou se desentendendo com Ricardo Teixeira, mas foi por pouco tempo.
Celebrou depois com ele o famigerado "Pacto da Bola", que não deu em nada, mas valeu a reaproximação e tabelinhas entre ambos, seja para a Copa do Mundo no Brasil, seja na farsa da unificação de títulos nacionais.
A Copa de 2014 fez com que também o baixinho Romário fosse seduzido, como membro da organização do evento, sob o pomposo título de embaixador e salamaleques do gênero.
Agora foi a vez de Ronaldo, que, finalmente, igualou-se a Pelé e virou Edson.
E olhe que na sabatina feita com ele por esta Folha ele chegou a dizer que o cartolão tinha não uma, mas duas caras.
Incrível como não percebem que são cooptados para ser coadjuvantes, não atores principais, como Michel Platini, chefe do Comitê Organizador da Copa da França, em 1998, ou Franz Beckenbauer, também comandante da festa na Alemanha, em 2006.
Aqui, não.
Aqui, como se sabe, o chefão é o cartolão.
Há uma foto do evento em que Ronaldo é introduzido como membro do comitê paulista que fala mais que mil palavras: o governador de São Paulo e o cartolão estão de cócoras ao lado da poltrona do Fenômeno, que, em vez de soberano, acaba por fazer o papel de bobo da corte, ao aderir de maneira acrítica a um projeto cujos detalhes verdadeiros ele jamais saberá.
A prefeitura paulistana, por exemplo, aumenta a tarifa de ônibus, afetando o bolso do povo, mas dá incentivos para empreiteira erguer o Fielzão.
Que raios de ídolos são os que não se dão ao respeito e desconhecem o poder que têm, curvando-se à sedução de gente que estão fartos de conhecer?
Será que é necessário ter diploma de medicina, como Tostão e Sócrates, para não sucumbir ao canto dos tubarões e manter intacta a biografia?
Zico, ao menos, aprendeu com a aproximação.
E Millôr Fernandes já ensinou, há muito tempo, que quem se curva diante dos poderosos mostra o traseiro aos oprimidos.
Pois nosso rei fica nu, o baixinho esperto revela-se falso malandro e haja traseiro de Ronaldo...

blogdojuca@uol.com.br


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