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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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ATLETISMO

Brasileiro seria ouro nos 200 m e bronze nos 100 m em Seul-88, se atletas pegos no doping não tivessem competido

Caetano, 15 anos depois, festeja "triunfos"

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Róbson Caetano poderia ter sido o primeiro brasileiro a subir ao pódio olímpico nos 100 m, a prova mais nobre do atletismo. Mais: poderia ter conquistado o primeiro ouro do país em competições de velocidade -no caso, os 200 m- nos Jogos de Seul, em 1988.
Nada disso ocorreu. Mas poderia ter acontecido, caso o Usoc, o Comitê Olímpico dos EUA, tivesse vetado a participação de seus competidores que foram pegos no antidoping algumas semanas antes do início da Olimpíada.
A denúncia foi feita por Wade Exum, diretor de controle de drogas do Usoc entre 1991 a 2000, à revista "Sports Illustrated", que chega às bancas amanhã.
"Pode ser que essa polêmica que está sendo levantada me dê as medalhas que tenho direito. Senão, nada disso vai ter valido a pena. Espero que isso sirva para que, no futuro, essas histórias não se repitam", afirma Róbson Caetano, 38, que disputaria também os Jogos de Barcelona-92 e Atlanta-96.
Segundo Exum, Lewis foi pego três vezes no antidoping para pseudoefedrina, efedrina e fenilpropanolamina, estimulantes banidos que são encontrados em medicamentos contra a gripe.
Após alegar desconhecer que a droga era considerada doping, o velocista foi liberado para representar os EUA em Seul.
Procurado pela "Sports Illustrated", o atleta não foi encontrado. Seu advogado negou o doping, mas admitiu que seu cliente tomava, na época, um suplemento alimentar à base de ervas.
Maior nome da história do atletismo americano, Lewis ganhou nove ouros e uma prata em Jogos.
"É o tipo de coisa que a gente não comenta muito [suspeita de doping]. A legislação sempre protegeu os atletas americanos. Talvez eles conseguissem burlar a lei por causa dos grandes interesses em jogo", acredita o brasileiro.
Outro campeão olímpico, Joseph DeLoach foi pego para as mesmas substâncias de Lewis.
Perdoado, bateu seu compatriota na final dos 200 m. Caetano ficou com o bronze. Sem os dois concorrentes na disputa, o brasileiro ficaria em primeiro lugar.
"Não estou com a medalha de campeão olímpico aqui em casa", lamenta o velocista. "Mas meu bronze brilha como ouro."
Na principal prova de velocidade, ele também poderia ascender ao pódio. Mas isso não ocorreu na final dos 100 m, a mais escandalosa da história dos Jogos.
Ben Johnson, que havia conquistado o ouro e batido o recorde mundial com o tempo de 9s79, acabou eliminado por ter sido pego no antidoping. "O Ben Johnson foi um bode expiatório porque o Canadá não é uma grande potência esportiva. Por que os EUA nunca tiveram um atleta de renome pego no doping em Olimpíadas?", pergunta Caetano.
Lewis herdou o ouro, e Linford Christie ficou com a prata. Ao britânico foi dado o que o COI chama de "benefício da dúvida" quando foi encontrada pseudoefedrina na análise de seu exame.
Christie alegou que a droga estaria presente em um suplemento de ginseng que havia tomado.
Posteriormente, o atleta, ouro nos 100 m nos Jogos de Barcelona, admitiria o uso de doping.
"Em 1989, perguntei a um dirigente [da federação britânica] se ele sabia que eu usava drogas. Ele disse que sim", contou Christie.
Positivo para norandrosterona -metabolização da nandrolona, um esteróide anabólico, no organismo-, o velocista recebeu dois anos de suspensão em 2000.
Se Lewis e Christie não tivessem competido, Caetano, que foi sexto nos 100 m, iria para o quarto lugar. Seria bronze com a punição de Johnson. Assim, Calvin Smith (EUA) herdaria o ouro e seu compatriota, Dennis Mitchell, a prata.
"Acho que foi a melhor geração de velocistas da história. E aquela prova foi marcante para mim por eu ter sido o primeiro brasileiro a chegar na final dos 100 m em uma Olimpíada", recorda-se Caetano.


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