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FUTEBOL
Uma semana após afirmar que levaria o caso "até o fim", são-paulino diz que há a chance de não dar queixa-crime
Grafite já fala em recuar contra Desábato
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma semana após afirmar que
iniciaria uma cruzada contra a
discriminação racial, levando às
últimas conseqüências as acusações contra Desábato, o são-paulino Grafite deu mostras de que
pode voltar atrás.
"Há a possibilidade de eu não
apresentar queixa-crime contra
Desábato", revelou ontem Grafite
à Folha por meio da assessoria de
comunicação do São Paulo.
Funcionários do clube próximos ao atacante afirmam que ele
agora prefere esquecer o caso e dizem que a tendência é que a questão não chegue aos tribunais.
A postura do jogador contraria
as declarações que deu há uma semana, após a prisão do argentino,
quando, negando-se a retirar a
acusação, Grafite afirmou: "Levarei o caso até o fim".
"Já houve uma condenação pública ao ato do argentino. A bandeirada contra o racismo foi dada,
o que era importante. Ninguém
está buscando pena, prisão ou
morte aos racistas", afirmou o gerente jurídico do São Paulo, José
Edgard Galvão Machado, que
questionou ainda a viabilidade do
cumprimento de uma eventual
sentença condenatória.
Como a Folha noticiou anteontem, ainda que condenado no
Brasil, o argentino não seria obrigado a vir ao país para o cumprimento da pena.
Lembrando que a lei dá a Grafite o prazo de seis meses para levar
o caso à Justiça, Machado declarou que o clube ainda entrará em
contato com o atleta, para definirem a melhor estratégia. Mas deixar o prazo passar sem tomar alguma medida judicial não é uma
alternativa descartada.
"Há tempo para decidir quando
fazer e o quê. Se vamos impetrar
ou não a ação", disse Machado.
"O Grafite é uma pessoa extremamente benevolente. Sabemos que,
no íntimo, no coração, já perdoou. Ele está triste com o ato em
si, não com quem o praticou [Desábato]", completou o gerente jurídico do clube do Morumbi.
Machado disse ainda que a postura do zagueiro do Quilmes após
sua liberação, como as declarações que deu na Argentina chamando o são-paulino de "senhor
Grafite", pesaram na atitude que
o brasileiro deve tomar.
Apesar de haver uma investigação policial em curso sobre os
xingamentos proferidos na vitória do São Paulo por 3 a 1 sobre o
Quilmes há uma semana, qualquer medida jurídica só pode ser
tomada se Grafite assim desejar.
O crime do qual Desábato é
acusado -injúria grave por ofensas raciais, cuja pena vai de um a
três anos de reclusão, além de
multa- é um delito de ação penal privada. Nessa categoria de
infrações (considerada excepcional no Direito Penal brasileiro),
quem processa é a vítima, mediante apresentação de queixa-crime, e não o Ministério Público.
Aparentemente imunes de repercussões jurídicas criminais no
Brasil, os atos de Desábato contra
Grafite agora só podem causar-lhe punições trabalhistas.
"O estatuto aplicado aos jogadores de futebol profissionais faculta ao clube argentino penalizar
o jogador com advertência, multa
de 20% do salário mensal, suspensão sem o pagamento de salários por um prazo de 60 dias, com
obrigação de treinar, e até a rescisão contratual sem direito a pagamento", afirmou Eduardo Viñales, advogado argentino especializado em relações de trabalho.
Outro que comentou a repercussão do caso foi Pelé. Anteontem, em evento na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, o ex-jogador não poupou
Grafite nem Desábato.
"Já cansei de ouvir dos defensores "seu crioulo filho da mãe" e outras coisas. Mas era coisa de dentro de campo. Não sei se podemos entender como racismo ou
provocação", afirmou Pelé, para
quem o fato de Grafite ter levado
o caso às autoridades ajuda a evitar outras medidas racistas. "O
erro do Grafite foi revidar. Nunca
fui expulso por revide."
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