São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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TÊNIS

As armadilhas do saibro

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Essa coisa chamada saibro é traiçoeira.
Há cerca de um ano, com a ajuda de tenistas e técnicos, esta coluna descreveu os perigos que ela esconde. Em um dia, lá está a terra batida, lisa, leve, solta, amigável. No outro, a mesma virou um piso pesado, molhado, complicado. Em um dia, a bola pinga e sobe; no outro, pinga e cai.
O sol, a chuva, o céu nublado, o vento, tudo faz do saibro um piso a ser decifrado a cada torneio, dia a dia, jogo a jogo, game a game. Ele cria armadilhas infinitas.
Neste ano, nada será diferente. Bons tenistas cairão jogo a jogo, vítimas não só de seus rivais, mas dessa coisa traiçoeira sob seus pés. A diferença de anos anteriores é que esta temporada de saibro deixará outras marcas mais doloridas em alguns tenistas.
Imagine o leitor caso Gustavo Kuerten não chegue ao troféu ou às rodadas finais de Roland Garros. Dirão: "Eu sabia que, sem o Larri, não daria em nada". Ou: "Ele não está recuperado da cirurgia, eu já sabia".
É claro que Kuerten chegará aos troféus e às rodadas finais em Roland Garros, mas os comentários que essa temporada de saibro podem render ao tenista podem ser cruéis -e injustos.
O mesmo vale até para quem está, indiscutivelmente, à frente de todos os seus pares. Eu já vi neste início de temporada de saibro muita gente confabulando: será que Roger Federer, como Pete Sampras, terá em Roland Garros a sua pedra no sapato?
Ele já ganhou títulos no saibro, inclusive de Masters Series, e tem 23 anos, argumentará o leitor coerente. Mas o que sobrará de Federer caso ele fracasse em Paris? "Ele nunca chegou nem perto de ganhar Roland Garros. É o sétimo ano em que não ganha nada! Vai ser difícil. Será como Sampras: um monte de Grand Slams, mas nenhum no saibro.""
Até sobre Rafael Nadal, agora alçado ao posto de estrela de primeira grandeza, recairá a fúria besta e ignorante dos críticos negativos. "Esse espanholzinho, na hora agá, sabia que entregaria o jogo. É muito jovem, não é um Lleyton Hewitt, um Federer."
E os títulos de Nadal em Sopot, no Sauípe, em Acapulco e em Montecarlo, a vitória sobre Andy Roddick na final da Copa Davis? "Ah, pode até ter ido bem, mas na hora do "vamos ver" perdeu."
E, por falar em Roddick, eu já até imagino o que dirão os mal-amados se o norte-americano não chegar a um triunfo nestes próximos meses: "Esse só tem saque mesmo. E só ganha se tiver aqueles norte-americanos idiotas gritando na torcida".
Norte-americanos? "O Agassi está velho demais. Não sei por que não pára e vai curtir o casamento com a Steff Graf".
Graf? "Boa mesmo era ela. Essa russa aí, Maria Sharapova, só tem um rostinho bonito. E ainda ficam fazendo propaganda do tal "exército de tenistas russas'!" Exército? "No ano passado, a final só foi argentina por sorte. Esses caras só ganham quando os outros estão machucados."
Pensando bem, o saibro até que não é traiçoeiro, não. Traiçoeiro é o mundo de torcedores e jornalistas que são sempre do contra.

Em Houston
Jim Courier voltou às quadras. Fez dupla com Andre Agassi, mas caiu na estréia. Valeu pela festa.
No Brasil Open em cadeira de rodas O francês Michael Jeremiasz ficou com o tricampeonato em Brasília.

Em Montevidéu Nanda Alves, Jenifer Widjaja, Larissa Carvalho e Joana Cortz, com o capitão Carlos Alves, disputam a partir de hoje a Fed Cup.

Em Blumenau
Jovens jogam a segunda etapa da Credicard MasterCard Juniors Cup, no Tabajara Tênis Clube e Bela Vista Country Club.


E-mail: reandaku@uol.com.br

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