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É preciso enfrentar a 'bancada dos cartolas'
MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial
Meus amigos, meus inimigos,
o ministro para Coordenação
de Assuntos Políticos, Luiz
Carlos Santos, homem de larga
experiência na Câmara de Deputados, afirma que o governo
Fernando Henrique Cardoso
vai jogar pesado para a aprovação do projeto de reforma
do futebol brasileiro apresentado pelo ministro extraordinário e ex-jogador Pelé.
De fato, se o governo está interessado na modernização e
no saneamento de uma atividade que é estratégica tanto
do ponto de vista da indústria
do entretenimento, cada vez
mais importante na economia
moderna, como do ponto de
vista de uma das mais ricas
manifestações culturais do
país, ele precisará atuar decisivamente junto às suas bancadas de apoio no Congresso.
Entre os parlamentares que
estão interessados na reforma
da estrutura do futebol há o temor que o projeto vá para as
mãos do deputado Severiano
Alves, do PDT da Bahia.
Alves é novamente o presidente da comissão de Educação, Cultura e Esportes do
Congresso.
É ele o homem que tem o poder de designar o relator da
comissão que examinará o
projeto de Pelé.
E não são poucos os seus colegas de Parlamento que suspeitam que as ligações entre
Severiano Alves e o deputado
Eurico Miranda (PPB-RJ), que
controla o esquema do futebol
no Congresso, sejam, digamos
assim, muito estreitas.
Esses mesmos colegas enxergam o dedo de Alves na manobra que levou Eurico Miranda
ao comando da comissão que,
em tese, deveria investigar a
troca de favores na arbitragem
dos principais campeonatos
nacionais.
Digo em tese por que já se sabe, de antemão, que com Eurico Miranda à frente da comissão, ela não apurará nada de
substancial que forneça mais
elementos para a inadiável reforma do futebol brasileiro.
Aliás, a comissão de Ética do
Congresso Nacional poderia
levantar a questão: sendo Eurico Miranda vice-presidente
do Vasco, não existiria conflito de interesses entre a sua pessoa e a chefia da comissão?
Em princípio, nenhum membro de diretoria de clube de futebol poderia presidir a, agora,
malfadada comissão. No caso
específico, há um duplo atentado à ética parlamentar, pois
o Vasco é parte diretamente
interessada em um dos resultados sob suspeição.
Se o presidente da Câmara
Federal, Michel Temer, preocupa-se com a imagem (aliás
abaladíssima) da sua instituição, ele não poderia permitir
que esses atropelos da ética
frequentassem o cômodos daquela casa parlamentar.
Como se sabe, mais forte dos
que os partidos é a atuação no
Congresso das bancadas suprapartidárias que cindiram o
bem público nacional em interesses privados.
Temos a bancada ruralista, a
bancada evangélica e também
a bancada dos cartolas do futebol. Nessa, por exemplo, o
PDT de Leonel Brizola e o PPB
de Paulo Maluf dão as mãos
para manter acesa a chama do
atraso e do corrompimento no
futebol brasileiro.
Não se trata de antemão de
defender o projeto de Pelé. Que
ele seja discutido ampla e democraticamente. Mas que não
fique sujeito às velhas raposas
e oligarquias do futebol.
Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e
sábados
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