São Paulo, terça, 20 de maio de 1997.



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É preciso enfrentar a 'bancada dos cartolas'

MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial

Meus amigos, meus inimigos, o ministro para Coordenação de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos, homem de larga experiência na Câmara de Deputados, afirma que o governo Fernando Henrique Cardoso vai jogar pesado para a aprovação do projeto de reforma do futebol brasileiro apresentado pelo ministro extraordinário e ex-jogador Pelé.
De fato, se o governo está interessado na modernização e no saneamento de uma atividade que é estratégica tanto do ponto de vista da indústria do entretenimento, cada vez mais importante na economia moderna, como do ponto de vista de uma das mais ricas manifestações culturais do país, ele precisará atuar decisivamente junto às suas bancadas de apoio no Congresso.
Entre os parlamentares que estão interessados na reforma da estrutura do futebol há o temor que o projeto vá para as mãos do deputado Severiano Alves, do PDT da Bahia.
Alves é novamente o presidente da comissão de Educação, Cultura e Esportes do Congresso.
É ele o homem que tem o poder de designar o relator da comissão que examinará o projeto de Pelé.
E não são poucos os seus colegas de Parlamento que suspeitam que as ligações entre Severiano Alves e o deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), que controla o esquema do futebol no Congresso, sejam, digamos assim, muito estreitas.
Esses mesmos colegas enxergam o dedo de Alves na manobra que levou Eurico Miranda ao comando da comissão que, em tese, deveria investigar a troca de favores na arbitragem dos principais campeonatos nacionais.
Digo em tese por que já se sabe, de antemão, que com Eurico Miranda à frente da comissão, ela não apurará nada de substancial que forneça mais elementos para a inadiável reforma do futebol brasileiro.
Aliás, a comissão de Ética do Congresso Nacional poderia levantar a questão: sendo Eurico Miranda vice-presidente do Vasco, não existiria conflito de interesses entre a sua pessoa e a chefia da comissão?
Em princípio, nenhum membro de diretoria de clube de futebol poderia presidir a, agora, malfadada comissão. No caso específico, há um duplo atentado à ética parlamentar, pois o Vasco é parte diretamente interessada em um dos resultados sob suspeição.
Se o presidente da Câmara Federal, Michel Temer, preocupa-se com a imagem (aliás abaladíssima) da sua instituição, ele não poderia permitir que esses atropelos da ética frequentassem o cômodos daquela casa parlamentar.
Como se sabe, mais forte dos que os partidos é a atuação no Congresso das bancadas suprapartidárias que cindiram o bem público nacional em interesses privados.
Temos a bancada ruralista, a bancada evangélica e também a bancada dos cartolas do futebol. Nessa, por exemplo, o PDT de Leonel Brizola e o PPB de Paulo Maluf dão as mãos para manter acesa a chama do atraso e do corrompimento no futebol brasileiro.
Não se trata de antemão de defender o projeto de Pelé. Que ele seja discutido ampla e democraticamente. Mas que não fique sujeito às velhas raposas e oligarquias do futebol.


Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e sábados



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