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MOTOR
Sobre meteoros
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Causou furor, há alguns
anos, uma reportagem da revista "Time" sobre bebês. Em
poucas palavras, afirmava que
várias ligações nervosas do cérebro estão em plena formação durante os primeiros anos de vida,
tornando os mesmos vitais para a
formação física e psicológica do
indivíduo, ou algo assim.
Dessa conclusão derivaram-se
outras, algumas sérias, como o fato de uma criança mal estimulada ou maltratada na infância ter
enormes chances de se tornar um
adulto criminoso, outras controversas, como a de que uma criança de dois anos irá aprender uma
língua estrangeira mais facilmente que uma mais velha.
A partir disso, elaborei certa vez
uma tese estapafúrdia, a de que
um piloto de F-1, se não devidamente estimulado em seu início
de carreira, tenderia a perecer, se
tornar um pária no grid.
Óbvio, não há o mínimo fundamento científico em tal teoria,
apenas a conveniência de explicar alguma coisa com outra.
Lembro que, à época, meu grande exemplo era Schumacher e,
contra-exemplo, Frentzen, dois
pilotos que surgiram juntos, do
mesmo ambiente, das mesmas
categorias de base.
O primeiro era bicampeão, o segundo, típico frequentador de segundo pelotão, que ganhava a
condescendência da mídia mais
pela sua solicitude e simpatia do
que pelo talento na pista.
No final das contas, abandonei
a tese e esqueci do assunto.
Há alguns dias, porém, um experiente piloto brasileiro me escreveu para descrever sua tese
pessoal sobre Barrichello. Segundo ele, o atual ferrarista passou
muitos anos a bordo de carros
ruins, o que, ao contrário do que
diz o senso comum, não o obrigavam a andar no limite -afinal,
por que arriscar o pescoço para
chegar em 11º e não em 13º?
Agora, em um dos melhores
carros do grid, andar no limite seria uma obrigação para o piloto,
já que a concorrência é muito
mais forte. Anos de, digamos, letargia teriam que ser apagados.
A tese se completa com a constatação de que Barrichello tem ou
terá plenas de condições de se
adaptar à nova situação rapidamente, bastando somente um
pouco mais de tranquilidade nas
próximas corridas.
Imediatamente me lembrei de
minha teoria dos bebês, indagando se tanto tempo de filas intermediárias não havia calcificado a
habilidade do piloto brasileiro.
Apenas Barrichello pode responder essa pergunta, e tem mais
uma dezena de corridas para
comprovar a boa forma que o levou meteoricamente à F-1.
E, sobre meteoros, eles surgem
aos montes na categoria. Poucos,
no entanto, se firmam. Jenson
Button, o novo garoto-sensação
dos ingleses, é o mais recente
exemplar da espécie. De novo, o
tempo dará a resposta.
Montoya é outro, e a diferença
dele para o resto da Indy está no
que faz na pista. Ano passado,
com o melhor carro do grid, foi
campeão inconteste. Neste, pena
com um equipamento nitidamente inferior, mas fazendo pole
e liderando corridas.
Barrichello, por diversas razões,
perdeu sua primeira chance, claro, sempre a mais viável.
Ganhou outra agora, mas dificilmente terá uma terceira.
Prudência
A Ferrari decidiu ontem não
utilizar a nova evolução do
049 em corrida. O propulsor
continuará restrito a classificações, o que, em contraste
com a evolução demonstrada
pela McLaren nas últimas
provas, denuncia uma certa
falta de confiança no time.
Aposentadoria
Como a boataria cresceu,
Hakkinen foi obrigado a desmentir que estaria pensando
em pendurar o capacete no
final do ano. Nos bastidores,
o finlandês está recebendo
uma proposta por semana. E
não de uma única escuderia.
Previsão
Ensaio da TV alemã para cerimônia do pódio realizado
em Nurburgring mostra a expectativa local para a temporada: hasteadas, pela ordem,
bandeiras de Alemanha, Reino Unido e Finlândia.
E-mail mariante@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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